Empreendedorismo feminino e as suas conquistas no universo online

Empreendedorismo feminino e as suas conquistas no universo online

Mulheres têm criado seus próprios espaços em várias esferas do mundo tecnológico

Lou Cardoso

Aline, Néllys e Rejane estão conquistando o seu espaço no mundo online

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O empreendedorismo feminino está dominando o universo tecnológico. Em meio a desafios e dificuldades, as mulheres estão cada vez mais desbravando um mercado que ainda é predominantemente dominado por homens. Mas elas não se intimidam. Isto só serve de combustível para marcarem ainda mais o seu território e servir de exemplo para outras mulheres.

Como é o caso de Aline Deparis, natural de Viadutos, no interior gaúcho. Hoje ela é CEO na Privacy Tools e Diretora do Grupo Maven, mas que já ouviu, por muito tempo, que certas coisas não eram para ela. Seja por ser mulher ou por ter vindo de uma família extremamente humilde. "Ser mulher, jovem e estar em um cargo de liderança é um desafio diário. Defendo constantemente a bandeira de que se eu estou em alguma cadeira é por capacidade e não pelo que acharam que era ou não pra mim", afirmou. 

Após sair de casa dos pais aos 8 anos para morar com a avó, que residia mais perto da escola da região, Aline se mudou, já adulta, para Porto Alegre e se formou em administração com ênfase em análises de sistemas na PUCRS. Entre estágios e CLTS, a jovem foi crescendo, e passando por outras empresas de tecnologia até começar a sua própria, com 24 anos, quando deu início ao Grupo Maven. 

Depois, ela fundou a Trubr – uma empresa que desenvolveu a identidade digital e teve uma joint venture com a Procivis empresa de Zurique, do Cripto Valley, e depois a Privacy Tools com o objetivo de criar uma empresa para atender o mercado das Privacy Techs. 

Além de ter sido a presidente mais jovem do Brasil a assumir o cargo de presidente Regional da Assespro, hoje é voluntária do iColab, e mantém atuação na agricultura, com pequena produção no norte do Estado e na Serra Gaúcha, mantendo a origem e o legado da família. “Já passei por dezenas de desafios, desde sair do interior, iniciar uma empresa, palestrar em grandes eventos, dirigir um caminhão, liderar um time, cuidar de uma safra e reiniciar ela a cada novo ano, mas levo comigo o orgulho de ultrapassar meus limites, além da certeza de que isso não é todos que fazem”, completou.

Negócio resiliente 

Um outro exemplo de superação e sucesso profissional no universo online é da estrategista digital gaúcha, Rejane Toigo. Atualmente proprietária da Like Marketing, empresa de produção de conteúdo digital, Rejane aventurou-se em diversos caminhos antes de se encontrar. “Resiliência é a palavra. Na verdade, a trajetória da Like não se iniciou na fundação dela, mas muito antes, nas cabeçadas que dei. Quando fundei a empresa, eu estava com essa amarga bagagem, mas que serviu de combustível para construir um negócio altamente resiliente”, disse. 

Dentista por formação, foi também instrutora de yoga e atuou por quase uma década no mercado de varejo de shopping centers e franquias até descobrir que sua vocação eram as mídias sociais. E mesmo após a estabilidade de seu empreendedorismo online, Rejane também já teve que ouvir comentários sobre a sua trajetória. “As mulheres sempre são dúvidas. Procuro não levar para o lado pessoal. Porque entendo que esse pensamento é um resultado da organização social. Por muitos séculos a mulher não teve acesso ao mercado de trabalho. Hoje trabalhamos, mas a mentalidade leva mais tempo do que duas gerações para se transformar”, criticou. 

Segundo Rejane, este tipo de comentário não se restringe ao mundo real, mas também online. “Mostrar a cara na internet para vender alguma coisa, defender suas ideias ou trazer oportunidades para o seu negócio é uma tarefa desafiadora. E ao mesmo tempo que mulheres podem ter muito sucesso, acredito que são mais agredidas e hostilizadas que os homens. Então, sem dúvida, lidar com as agressões é a parte mais desconfortável. Não sei se teriam essa agressividade toda gratuita com um homem”, refletiu. 

Criação de conteúdo com representatividade 

E quem acha que as redes sociais se limitam apenas às selfies e fotos de paisagens está muito enganado. No Instagram, há muitos perfis que estão empreendendo e inspirando. A busca pela representatividade online foi o que motivou a criadora de conteúdo Néllys Corrêa a fundar o perfil Digitais Pretas com a intenção de mostrar e empoderar a beleza de mulheres negras. “Eu estava sozinha, isolada e isso me fez criar o primeiro post. Porém, qual era a possibilidade de uma mulher como eu, com mais de 40 anos, preta, gaúcha, de ter uma visibilidade nas redes? Pouquíssima. Mas, aconteceu e as pessoas foram se identificando. Percebi que tinham outras mulheres que precisavam ter a sua melhor versão aflorada”, explicou.  

Néllys, que também é professora de dança, começou a trabalhar com conteúdo para rede social há um ano e meio, já durante a pandemia, e desde então entendeu que precisava ter o seu diferencial: “Criar conteúdo não é fácil. Existem milhares de perfis que surgem diariamente, e para se destacar nesse meio, você tem que ter autenticidade. Resolvi criar as minhas ferramentas para ajudar essas mulheres a se sentirem mais vistas, e aprenderem a conquistar seguidores, vender o seus produtos ou também a se tornarem influenciadoras digitais. E também criei o coletivo digitais pretas, um coletivo de empoderamento feminino negro”. 

O coletivo tem como objetivo fortalecer e abrir as portas para mulheres pretas que, por muito tempo, foram e ainda são silenciadas. “Essas mulheres têm muito a dizer, cada uma dentro do seu nicho, dentro do seu protagonismo, sem ser uma melhor que a outra. Estamos conduzindo o perfil com empatia, generosidade e amor abrindo muitos mais espaços para a ocupação preta dessas poderosas”, comentou Néllys. 

O grupo realiza reuniões quinzenais incentivando o afroempreendedorismo e fazendo com que sejam as protagonistas das suas próprias histórias. “Queremos fazer com que o nosso coletivo chegue a mais pessoas e mostrar que é possível ver mulheres pretas no topo. Esse movimento tem feito a diferença para muitas mulheres, e tem muito potencial para mudar ainda mais realidades”, concluiu. 


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