De volta ao passado

De volta ao passado

Spike Lee lança Destacamento Blood (Da 5 Bloods), onde quatro amigos retornam ao Vietnã, mas com o racismo presente em suas vidas. Disponível no Netflix

Chico Izidro

Ex-combatentes voltam ao Vietnã em busca de um tesouro

publicidade

O cineasta ativista antirracismo norte-americano Spike Lee decide nestes tempos de campanha Black Lives Matter em voltar no tempo para discutir o presente. Seu novo filme, Destacamento Blood (Da 5 Bloods) revisita o Vietnã, a primeira guerra perdida pelos Estados Unidos, e onde os negros tiveram forte participação, principalmente como bucha de canhão.

A trama segue quatro amigos sobreviventes da Guerra do Vietnã, Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Eddie (Norm Lewis) e Melvin (Isiah Whitlock Jr.) voltam ao país asiático para duas missões: uma é recuperar o corpo de um companheiro morto em combate, Stormin' Norman (Chadwick Boseman). Mas o grande interesse mesmo é encontrar uma mala cheia de barras de ouro que eles acharam quando estavam em ação e a enterraram em algum lugar no meio do campo de batalha.

Stormin' Norman, no entanto, era um herói para eles. Ele tinha o entendimento do que s negros passavam nos Estados Unidos nos anos 1960, politizado e inteligente, era mais ou menos o mentor intelectual deles. Como diz um dos sobreviventes: Norman era “nosso Malcolm (X) e o nosso Martin (Luther King)”.

Cada um dos quatro possui fantasmas, mas tentam levar a vida numa boa. Quem se destaca entre eles é Paul, que envergonha o grupo por ter sido um negro a ter votado em Donald Trump e até usar um boné com o lema “Make America Great Again”. Além disso, tem problemas com o filho, que acaba se unindo ao grupo.

Outro deles, Otis, vai verificar que o racismo também atingiu o Vietnã – lembrem-se que Muhammad Ali dizia que não lutaria contra os vietnamitas porque eles nunca o chamaram de crioulo. Mas na viagem à Ásia, Otis reencontra um amor do passado, uma mulher vietnamita, e descobre que teve uma filha com ela e pior fica sabendo, o quanto a garota foi maltratada pela sociedade por ser mestiça. Ou seja, o racismo é ampliado por Spike Lee, sendo uma realidade não apenas nos Estados Unidos, mas também em um país do outro lado do mundo.

O filme é repleto de referências cinematográficas, como por exemplo “O Tesouro de Sierra Maestra”, de John Huston, e “Apocalipse Now”, de Francis Ford Copolla – o título do filme de 1979 aparece em uma discoteca, depois é lembrado na subida de um rio por meio de um barco e a trilha de A Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner.

A parte técnica também é muito interessante, como a utilização de três formatos diferentes de tela – o início em scope, as cenas no passado em formato 4:3, e em seguida a proporção 1,85:1, quando se inicia a missão. Também chama a atenção a  decisão de manter os atores idosos nos flashbacks – em vez de colocar outros intérpretes, mais jovens, para contracenar com Boseman. É um filmaço, sério, mas também contendo muito humor e ação. Spike Lee se mostra relevante novamente, mostrando muito vigor como o visto há 31 anos com seu excepcional “Faça a Coisa Certa”.

Leia demais posts do blog

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895