Confiança deletada

Confiança deletada

Montadora fecha fábricas e suspende produção no país

Renato Rossi

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No final de 2019, a Ford Motor Company divulgou o seu Relatório de Tendências. Era o resultado de uma pesquisa, realizada em 14 países das Américas, Europa e Oriente Médio com a finalidade de analisar as novas relações de consumo. Uma das conclusões do levantamento é que em um mundo conectado caberia a empresas e instituições gerarem um clima de “confiança” que evitaria que as pessoas se sentissem sobrecarregadas. “A busca pela confiança na era da conectividade é fundamental para o bem-estar do ser humano, que se sente mais sozinho do que nunca”, diz o texto. 

O produto Ford era sustentado pela presença física da fábrica de Camaçari (BA), por exemplo. Ali estavam brasileiros competentes que produziam o ótimo Ka. Em outro trecho, o então gerente de Tendências Globais de Consumo e Futuro da Ford, Sheryl Connelly, salientou que “os consumidores querem acreditar que as empresas estão fazendo a coisa certa, mas as empresas também precisam dar uma razão clara para isto”. Mas no recente e triste episódio do fechamento das fábricas no país a Ford foi esta empresa transparente? 

Ao fechar unidades industriais, sem nenhum aviso prévio, gerando desemprego e aflição para milhares de trabalhadores, ao encerrar a produção de modelos recém-comprados, a Ford “deleta” o Relatório de Tendências que enfatizava a confiança na marca como prioridade. Ou alguém acredita que a Ford irá se sustentar com veículos que dependem de importação e custam R$ 200 mil ou mais, de uma marca que no Brasil sempre foi da classe média e não da elite?

O chinês Ford Territory esteve no 80º lugar do ranking dos 100 mais vendidos em janeiro. Os extintos Ka e EcoSport venderam juntos 1.100 unidades na primeira quinzena de fevereiro. O consumidor cobra da Ford a mútua confiança à continuidade.


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