Esperança na garupa

Esperança na garupa

Todos vocês, tenho certeza, querem o progresso, mas sem deitar por terra os matos, os riachos, a nossa alegria e a nossa saúde.

Paulo Mendes

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Na última “Campereada” manifestei minha preocupação com o futuro de nosso pago em decorrência das devastações desenfreadas dos campos e dos biomas, com a ambição do lucro muito acima da preservação e com o desequilíbrio ecológico. Sustentei que, do jeito que estamos avançando, o futuro surge catastrófico. Citei nossas autoridades - de todos as esferas -, e a urgência de tomarem uma atitude. Lembrei da última tragédia climática que devastou parte do RS e do quanto teria relação com tudo isso. Perguntei o que estávamos deixando para nossos filhos e netos e se não seria a hora de repensarmos a situação. A coluna não se dedica a isso, mas entendi que era obrigação provocar esse debate. 

Recebi muitas manifestações, a maior parte concordando, o que me alegra, pois sinto, nesses posicionamentos, que ainda há esperança. Não foram apenas estudantes, ativistas, ecologistas, biólogos e preservacionistas, mas também entidades, entre elas a Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul, a Federasul. O empresário Darcy Luiz Zottis Filho, do quadro da diretoria da entidade, destacou a reunião de líderes empresariais em que apresentou propostas para recuperar, entre outras coisas, o setor pecuário do RS: “temos de pensar em estratégias que viabilizem financeiramente o pecuarista, do pequeno ao grande, valorizando nosso bioma Pampa, que tem essa qualidade única de espécies forrageiras nativas e biodiversidade, além do uso de técnicas de gestão comprovadas, como melhoramento de campo nativo, creep feeding e integração lavoura – pecuária. Se não tivermos êxito, nossos pecuaristas vão migrar de atividade, ou arrendar, ou vender suas áreas para lavouras que geram renda maior”, finalizou. 

Outra leitora me chamou a atenção. Magnólia Cortes disse: “cadê o crescimento sustentável? Tens aqui uma aliada, é uma peleia braba, mas é preciso coragem para seguir em frente.” É verdade minha gente, precisamos de coragem, de urgência, de medidas imediatas para termos uma nova oportunidade de vida neste planeta tão maltratado. Sempre reconheci a necessidade de produção em larga escala para evitar a insegurança alimentar com o crescimento da população mundial, mas é preciso olhar e medir os prejuízos globais. Assim, urge dar mais atenção à produção familiar, às lavouras intercaladas com várias culturas e à recuperação paulatina dos solos. 

Ah, meus amigos e amigas, leitores queridos que me acompanham há tanto tempo. Todos vocês, tenho certeza, querem o progresso, mas sem deitar por terra os matos nativos, os riachos, a nossa alegria e nossa saúde. Nós, gaúchos, sempre fomos pioneiros e precursores. Temos nossas diferenças, mas, na hora das guerras, fomos unidos, lutamos lado a lado, irmanados. Desde que era um guri bolicheiro na Vila Rica, sou assim, sonhador, cheio de esperança e otimista. Seu Turíbio dizia que não conseguiria ser jornalista e eu teimava. Sempre acreditei em certas utopias que carrego nos escaninhos do coração. Na coluna passada, pedi apoio. Vieram centenas. A esperança deve ser carregada na garupa como um ramo de flores silvestres, dessas que espalham perfumes, se multiplicam e nos fazem acreditar no amanhã. 


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