Dengue: especialista esclarece sobre prevenção, estágios da doença e estudos de vacinas
Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor de medicina da UFSM, Alexandre Schwarzbold, respondeu questionamentos sobre o vírus
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Mesmo sendo uma doença conhecida pela maioria da população, a dengue ainda provoca dúvidas a respeito de seus sintomas, maneiras de prevenção e os riscos de um quadro grave existir.
O Correio do Povo conversou com o membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor de medicina da Universidade Federal de Santa Maria, Alexandre Vargas Schwarzbold que esclareceu os principais questionamentos sobre o vírus, avaliou o momento epidemiológico no Rio Grande do Sul e atualizou a perspectiva de uma vacina.
- Quais os sintomas da Dengue?
Os principais sintomas da dengue são: febre, dor muscular e dor de cabeça. Estes sintomas aparecem em 80% dos casos relatados no Rio Grande do Sul. Existe um número menor de pessoas que relata outros sintomas como dor atrás dos olhos, sensação que o olho está se movimentando, dor nas juntas, nas articulações e até sintomas gastrointestinais como náusea e vômitos. Em casos mais raros, se relata erupção na pele, como uma alergia.
- Como a doença se manifesta em crianças? É diferente?
Se manifesta diferente sim. Depende da faixa etária da criança que estamos falando. Na primeira infância, podem não sentir tanta febre, mas apresentar sintomas intestinais, por exemplo. O cuidado passa também por elas terem mais dificuldades de verbalizar o que estão sentindo. Na adolescência, os sintomas são semelhantes aos dos adultos: aquela moleza que vemos em outras doenças infecciosas e dor de cabeça.
- Como se testa pra dengue?
É bem parecido com a Covid-19. Precisamos lançar mão de laboratórios para testes que confirmem ou não que é dengue. Pelos sintomas serem comuns, ela pode ser uma gripe, ou até mesmo chikungunya. Os testes estão nas unidades básicas de saúde. Em um quadro de febre e dor muscular, deve-se procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
- Qual o ciclo mais comum da doença?
As pessoas começam a apresentar febre no início dos sintomas e a duração da febre varia de pessoa para pessoa. Nem todos são iguais. A grande massa das pessoas obedecem um certo ciclo, que varia de 7 a 10 dias. No período permanece aquela sensação de cansaço. Dores musculares duram uma semana. Nos quadros mais leves, duram cinco dias. Em algumas pessoas, chegam até 14. O costumeiro é que as pessoas permaneçam em observação por sete dias.
- Qual o tratamento?
Não existe nenhuma medicação específica. São tratados os sintomas. Um dos pontos chaves é a hidratação. Isso vale para quadros leves e até mesmo os graves. Os hospitalizados recebem uma hidratação via soro endovenoso. Não existe tratamento para dengue, não existe Kit dengue e nem remédio específico.
- A reincidência de contaminação eleva o risco da doença no paciente?
A reincidência de contaminação é justamente o que costuma provocar os casos mais graves. O RS foi um dos últimos estados do país a ter surtos de dengue. Isso está associado aos tipos virais de dengue. Existem quatro subtítulos e aqui no RS só predomina dois. A tendência de gravidade maior é quando se cruzam os subtítulos através da reincidência. A chance no RS é de 5% de um caso virar grave, eu diria.
- Quais são as possíveis sequelas de um caso de dengue grave?
Em casos mais graves, a morte. Quem sobrevive de um caso grave pode agravar quadros posteriores, como cardiopatia por exemplo. Hipertensão. Quadros hemorrágicos semelhantes a um AVC e agravamento destes tipos de problemas de saúde.
- O que é a dengue hemorrágica?
A dengue hemorrágica acontece por uma queda importante de plaquetas, que é um tipo celular que ajuda na coagulação. Os fatores precipitam a hemorragia e o sangramento. Isso é mais comum no segundo episódio dentro do ciclo da doença. O agravamento dessas patologias acontece pela inflamação que o vírus causa. Ela avança de maneira rápida já nos primeiros cinco dias normalmente.
- Quais os modos de prevenção?
A dengue é uma doença vetorial, ou seja, é transmitida por um vetor, que é o mosquito. Por isso, são necessárias ações coletivas e individuais. As coletivas são ações sociais por parte do poder público. Mas não é preciso esperar o público agir para se prevenir. Cuidar água parada em pneus, piscinas, baldes. Não se pode manter água parada. Proteções de tela. A transmissão não acontece de pessoa para pessoa, mas uma pessoa infectada indica que um mosquito transmissor está naquele local. Repelentes são eficientes.
- Quando teremos vacina?
Vou me adiantar aqui. Provavelmente ano que vem teremos essa vacina liberada no Programa Nacional de Imunização (PNI). Já existe uma vacina no mundo, inclusive produzida e de modo seguro. Foi autorizada pela Anvisa e é produzida por uma indústria japonesa. Ela está em negociação com o governo.
Existe também uma segunda vacina que eu acho que essa vai ter um potencial maior de uso no nosso país pois é produzida pelo próprio título do Butantã em São Paulo, portanto uma vacina brasileira.
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