Família de jornalista foi avisada por embaixador brasileiro sobre corpos, diz jornal inglês; PF nega

Família de jornalista foi avisada por embaixador brasileiro sobre corpos, diz jornal inglês; PF nega

Repórter Dom Phillips e indigenista Bruno Pereira desapareceram no Amazonas no dia 5

R7

De acordo com The Guardian, família de jornalista foi avisada sobre morte do profissional

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Uma reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal britânico The Guardian afirma que dois corpos foram encontrados nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, onde estão desaparecidos o repórter Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desde o último dia 5. 

De acordo com o jornal, a informação teria sido dada aos familiares do jornalista na manhã desta segunda-feira pelo embaixador do Brasil no Reino Unido. A Polícia Federal e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) negam o encontro dos corpos (veja nota oficial ao fim deste texto). A Embaixada do Reino Unido no Brasil também não confirmou a informação. O R7 entrou em contato com a embaixada brasileira em Londres e com o Itamaraty e aguarda resposta.

Segundo o jornal britânico, o cunhado de Phillips, Paul Sherwood, disse que o embaixador brasileiro telefonou para a família e disse que os corpos foram encontrados na floresta. "Ele não descreveu o local, disse que eles estavam amarrados a uma árvore e ainda não haviam sido identificados". 

No domingo, a PF informou que as equipes de buscas encontraram um estômago humano no rio Itaquaí, em Atalaia do Norte (AM). O órgão foi enviado para o Instituto Nacional de Criminalística, a fim de descobrir se pode ser de um dos desaparecidos.

Ameaçados na Amazônia

Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal The Guardian.

Eles foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Os dois viajavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para o percurso — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguirem falar com o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram à cidade.

Dias antes do desaparecimento, um bilhete apócrifo com ameaças dirigidas ao servidor e a líderes indígenas foi deixado no escritório de advocacia que representa a organização para a qual ele vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga (AM).

"Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas", diz um trecho do bilhete, com a grafia corrigida, endereçado ao advogado Eliesio Marubo. "Sei que quem é contra nós é o Beto Índio, e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (...) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado."

O servidor da Funai estava licenciado após ser exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019. Ele foi dispensado do cargo logo após uma operação que expulsou garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Na ocasião, um helicóptero que servia ao garimpo foi apreendido.

Vale do Javari

Com 8,5 milhões de hectares, a terra indígena Vale do Javari é palco de conflitos que envolvem garimpo, extração de madeira, pesca ilegal e narcotraficantes. A área fica localizada no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo — e tem acesso restrito, feito apenas por avião ou barco, já que a região não tem eixos rodoviários nem ferroviários próximos.

No entanto, o local em que o jornalista e o indigenista desapareceram costuma ser movimentado. A distância da comunidade ribeirinha São Rafael, onde a dupla foi vista pela última vez, até a cidade de Atalaia do Norte, onde fica o posto da Funai, pode ser percorrida em duas horas de viagem de barco.

São Rafael é, inclusive, a última vila antes do limite indígena demarcado pelo governo federal em 2001. É a delimitação do fim da sociedade não indígena e o início da sociedade indígena, marcada por conflitos que se arrastam há décadas na região.

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Com o aumento da pressão fundiária na região, São Rafael, que fica a leste da área indígena, se tornou também o ponto de partida para a entrada de invasores no território, principalmente pescadores e caçadores ilegais. A oeste, na fronteira com o Peru, o Vale do Javari é pressionado por garimpeiros em busca de ouro e narcotraficantes. Nessa porção da terra, às margens do rio Jutaí, os grupos de indígenas isolados convivem com o avanço de garimpeiros.

Nos últimos anos, a principal base da Funai no município, a que fica no rio Ituí-Itacoaí, foi alvo de diversos ataques a tiros. Em um ano, entre novembro de 2018 e dezembro de 2019, houve oito investidas contra o posto, que culminou na morte do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, também colaborador da Funai. Dias antes, ele tinha recebido ameaças de morte de caçadores por sua atuação em defesa da terra indígena.

Leia a nota oficial da Polícia Federal: 

"OPERAÇÃO JAVARI

13/06/2022

Manaus/AM – O Comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal/AM, informa que, não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips. Conforme já divulgado, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados e os pertences pessoais dos desaparecidos. Tão logo haja o encontro, a família e os veículos de comunicação serão imediatamente informados".


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