Ucrânia homenageia seus mortos na guerra
Conflito começou começou há um ano, quando as tropas russas invadiram o país
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De Bucha, cidade martirizada perto de Kiev duramente marcada pela ocupação russa, até Kramatorsk (leste), perto do "front", os ucranianos prestam nesta sexta-feira (24) homenagens aos mortos da guerra que começou há um ano, quando as tropas de Moscou invadiram o país.
Na igreja de Santo André, em Bucha, uma pequena exposição fotográfica recorda o horror vivido por esta cidade situada na periferia noroeste da capital ucraniana.
Junto a este edifício, ainda em construção, as vítimas da ocupação russa foram enterradas às pressas em uma vala comum, antes da libertação da cidade pelas forças ucranianas no final de março de 2022.
"Nos reunimos para recordar os crimes russos, o terror", declarou um padre ortodoxo em uma cerimônia organizada "pela paz na Ucrânia e por seus defensores", perante uma centena de paroquianos.
Bucha se tornou o símbolo dos crimes de guerra atribuídos à Rússia por Kiev, que anunciou a descoberta de centenas de corpos de civis na região.
"Ficamos aqui, com minha esposa, por um mês, durante a ocupação. Não nos mexemos, vimos todos esses horrores", conta Serguii Zamostian, professor aposentado de 62 anos, ao deixar a igreja com os olhos marejados.
"No cemitério, já há mais de 50 soldados nossos e 450 civis baleados [pelos russos]. Por quê?", questiona o sexagenário, que diz confiar na "vitória" da Ucrânia na guerra.
O homem conta que morava na rua Iablonska, onde a AFP encontrou, logo após o fim da ocupação, os corpos de cerca de 20 civis. Entre os mortos, estava o padrinho de seu filho, executado em seu quintal, lembra.
Os padres e funcionários municipais se dirigem ao cemitério para uma segunda cerimônia.
"Cansados" da guerra
Os túmulos cavados nas últimas semanas, sobre os quais repousam coroas de flores e bandeiras ucranianas, abrigam os corpos dos soldados mortos nos últimos meses, testemunhos da dura homenagem prestada por esta pequena cidade de 30.000 habitantes.
A sepultura mais recente é a de Oleksii, um soldado de 29 anos, que morreu em meados de janeiro. Sua mãe, Tatiana, voltou da Alemanha, onde era refugiada, para enterrá-lo.
"Estamos cansados, não aguentamos mais", afirma ela, apoiada pela ex-namorada do jovem morto, que diz sentir "um abismo, um vazio".
Perto da igreja, Galyna Gamulets, de 64 anos, lembra que, nos primeiros dias do ataque, eles ficaram "sob fogo por mais de duas semanas". Agora, ela diz que está mais calma, porque a Ucrânia já tem "armas", "ajuda" e seu "próprio exército".
Yuriy Lototskyi, um eletricista de 60 anos, está aliviado por não haver mais bombardeios. Ele espera que "tudo corra melhor" e que eles possam "colocar a Rússia em seu lugar".
"Acho que, graças à ajuda dos países ocidentais, vamos vencer, porque nosso espírito é forte. Só precisamos de ajuda com as armas", afirma.
Cerca de 700 quilômetros ao leste de Bucha, Kramatorsk também enterra seus mortos. Esta cidade na área de mineração de Donbass fica perto do "front" e de Bakhmut, que os russos tentam conquistar há meses.
Sob um céu de chumbo, Mykhailo Sikirin foi enterrado em um caixão nas cores amarelo e azul da Ucrânia. Integrante da Guarda Nacional, morreu aos 30 anos em um bombardeio em 18 de fevereiro em Shypylivka, na região de Luhansk.
"Ele morreu pela independência e pela soberania da Ucrânia", declara o padre diante do túmulo.
Três colegas do soldado caído deram disparos para o alto em uníssono.
"Graças às ações desses soldados estamos aqui, sãos e salvos", diz o padre, olhando na direção das bandeiras ucranianas que balançam sobre outras 21 sepulturas cavadas no novo cemitério.