Contraofensiva da Ucrânia recupera territórios, enquanto Rússia anexa áreas dominadas
Com apoio da Otan, em especial dos EUA, Volodymyr Zelensky luta contra Moscou, enquanto Vladimir Putin consolida conquistas
publicidade
As Forças Armadas da Ucrânia iniciaram há cerca de duas semanas uma grande contraofensiva que recuperou territórios conquistados pela Rússia em áreas sensíveis do país, como Kherson e Donetsk. As ações efetivas dos soldados de Volodmyr Zelensky trouxeram esperança de uma virada na guerra.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o exército da Ucrânia retomou áreas pontuais do país, a Rússia anexou quatro grandes regiões da nação vizinha após referendos: Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporizhzhia. A tática de Vladimir Putin, todavia, não foi legitimada pelo Ocidente, que ainda reconhecem estes territórios como ucranianos.
Todos esses movimentos deste jogo de xadrez entre Kiev e Moscou, postos no holofote mundial pela mídia internacional, trazem perguntas como quem está vencendo a guerra ou se a resistência ucraniana é uma surpresa.
Para o professor de relações internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Luiz Felipe Osório é difícil adjetivar a guerra, uma vez que não há conhecimento prévio dos objetivos dos dois países no conflito. Ainda assim, o especialista destaca o apoio ocidental à Ucrânia.
“É crucial apontar que os ucranianos contam com o envio de armamentos e financiamentos externos, principalmente da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) via Estados Unidos, que impulsionam o poderio militar local e prolongam ainda mais o conflito, tornando-o mais desgastante possível”, conta Osório ao R7.
Na opinião do internacionalista, o suporte do Ocidente vai além do lado bélico e chega até as grandes mídias. Por esse motivo, russos podem acabar evitando grandes ofensivas ou retaliações mais enérgicas a Kiev.
“Tudo que lá acontece tem muita repercussão, repúdio e debate, ou seja, é muito amplificado. Por isso, também, percebe-se um cuidado extremo nas ofensivas pelo lado russo que se preocupa em não ficar isolado por completo da opinião pública mundial. Isso limita demais os avanços e o ritmo das operações".
Convocação de reservistas
Putin anunciou no final de setembro a convocação de 300 mil reservistas e, posteriormente, chamou mais 200 mil homens para se juntar aos russos que lutam na Ucrânia. O presidente da Rússia não destacou ao certo quais serão as funções destes novos militares, mas a ação gerou revolta em parte da população local.
Além dos protestos pelas ruas das principais cidades do país, o mandatário russo viu milhares de homens deixarem a Rússia para fugir do serviço militar obrigatório.
Consentino entende que se o exército de Putin estivesse avançando com facilidade pela Ucrânia, como era de se esperar pela inteligência russa no início da guerra, certamente estes homens não estariam indo para o território ucraniano. O cientista político também ressalta os protestos da população pela mobilização de reservistas.
“Enquanto os russos estavam ali vibrando pelo seu exército é uma coisa, bem diferente de eles estarem agora se prontificando diretamente ao front ou mandando seus filhos”, explica o professor do Insper. “Putin deu um passo bastante complicado que pode custar um apoio interno muito importante”.
Osório, por sua vez, vê a mobilização de mais 500 mil homens como uma maneira que a Rússia encontrou para estabilizar as regiões anexadas, levando a estes locais, repletos de russofónos, uma garantia que ali é uma extensão do território de Putin, não de Zelensky.
“Pelo que entendi, a convocação dos reservistas não será para atuação na frente de batalha, mas, sim, eles atuarão no patrulhamento e policiamento dos territórios recém-incorporados, viabilizando sua proteção e reorganização. Em suma, parece ser um movimento de logística militar.”
O professor da UFRRJ ainda usa um baralho como analogia para concluir a entrevista. De acordo com o que internacionalista disse, neste momento da guerra as cartas estão sendo embaralhadas para um conflito que será reiniciado.
“Os trunfos da Rússia aumentaram, o que significa que ela pode parar de jogar, satisfeita com o que já conseguiu, ou dobrar a aposta, para alavancar ainda mais suas vantagens, e, quem sabe, ter cacife para sentar à mesa principal e desafiar os grandes jogadores (as grandes potências imperialistas). Tivesse você as cartas de Putin, o que você faria?”, conclui Osório.