ONU repudia "brutal ato de violência" contra Bruno e Dom e pede melhoria na segurança da Amazônia
Pescador confessou ter assassinado jornalista e indigenista na região amazônica
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O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos emitiu um comunicado nesta quinta-feira (16) lamentando as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e apelou ao governo brasileiro para ampliar a segurança de ativistas que atuam na defesa de povos indígenas e do meio ambiente.
Em um texto assinado pela porta-voz do escritório, Ravina Shamdasani, a ONU pondera que "os ataques e ameaças contra os defensores dos direitos humanos ambientais e os povos indígenas, incluindo os que se encontram em isolamento voluntário, continuam a ser persistentes", e que a proteção a essas pessoas precisa ser reforçada.
"Exortamos as autoridades brasileiras a aumentar os seus esforços para proteger os defensores dos direitos humanos e os povos indígenas de todas as formas de violência e discriminação, tanto por atores estatais como não estatais, e a tomar medidas para prevenir e proteger os territórios indígenas de incursões de atores ilegais, incluindo o reforço dos organismos governamentais responsáveis pela proteção dos povos indígenas e do ambiente", escreveu Shamdasani.
Além disso, a porta-voz clamou por justiça. "Entristece-nos profundamente a informação sobre o assassinato de Dom Philipps e Bruno Araújo Pereira. Este brutal ato de violência é terrível e apelamos às autoridades do Estado para que assegurem que as investigações sejam imparciais, transparentes e minuciosas, e que seja concedida reparação às famílias das vítimas."
O caso
Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Eles viajavam pela região entrevistando indígenas e ribeirinhos para produção de reportagens para um livro sobre invasões de áreas indígenas.
O Vale do Javari, a terra indígena com o maior registro de povos isolados do mundo, é pressionado há anos pela atuação intensa de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.
Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal britânico The Guardian. Bruno era servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), mas estava licenciado desde que foi exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019.
Na quarta-feira (15), o pescador Amarildo da Costa, que tinha sido preso pela Polícia Federal (PF) por suspeita de envolvimento no caso, confessou ter assassinado Bruno e Dom. Depois do relato, ele levou policiais até o local onde enterrou os corpos.
Segundo o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, Amarildo informou que o barco em que viajavam o jornalista e o indigenista tinha sido afundado e que o local onde os corpos foram enterrados era de difícil acesso, a mais de 3 km de onde o pescador cometeu o crime.