Ex-policial é declarada culpada por morte de jovem negro nos EUA
Kim Potter alega que confundiu sua arma com um "taser" e por isso deu tiro nas costas de Daunte Wright, em 2020
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A ex-policial que matou um jovem negro nos Estados Unidos, ao confundir sua arma de fogo com uma pistola de choque — "taser" —, foi declarada culpada nesta quinta-feira de homicídio involuntário. Kim Potter, de 49 anos e cor branca, foi denunciada pela promotoria por homicídio involuntário em primeiro e segundo graus pela morte de Daunte Wright, de 20 anos, no Brooklyn Center, um subúrbio de Minneapolis, Minnesota, em abril deste ano.
A ex-policial não esboçou reação quando a juíza Regina Chu leu o veredicto de culpabilidade na corte. Agora Potter enfrenta até 15 anos de prisão pela primeira acusação e outros 10 pela segunda. A leitura da sentença ocorrerá em fevereiro. "Seu remorso e arrependimento pelo incidente são esmagadores. Ela não é de forma alguma um perigo para a comunidade", afirmou o advogado de defesa Paul Engh, ao pedir à juíza que a mantivesse em liberdade até a sentença. Chu, porém, respondeu que Potter permaneceria sob custódia.
Em um comunicado, os familiares de Wright disseram estar "aliviados" pelas "medidas de responsabilidade pela morte sem sentido de seu filho, irmão, pai e amigo". “Do controle de trânsito desnecessário, exagerado e trágico ao disparo que tirou sua vida, aquele dia continuará sendo traumático para esta família e mais um exemplo para os Estados Unidos de por que precisamos desesperadamente de mudanças na atuação policial”, acrescentou.
Controle de trânsito caótico
A mãe de Wright disse em coletiva de imprensa que sentiu muitas "emoções, todas as emoções que puder imaginar" durante a leitura do veredicto. Do lado de fora do tribunal, apoiadores se reuniram para comemorar, dançar e tocar música depois que o veredicto foi anunciado.
Potter tinha se declarado inocente, alegando que os disparos ocorreram por acidente, após sacar por engano a arma de fogo ao invés do 'taser'. Em um depoimento emocionado, a ré descreveu como uma ação que deveria ser um controle de trânsito de rotina se transformou em uma situação "caótica". "Me lembro de ter gritado: 'taser, taser, taser', e não aconteceu nada. Depois, ele [Wright] me disse que eu tinha atirado nele", disse Potter ao cair no choro. “Tinha uma ambulância para mim, não sei por quê. E aí eu fui embora, depois estava na delegacia. Não me lembro de muita coisa depois disso”, admitiu a ex-agente.
No domingo, 11 de abril de 2021, a então policial realizava uma ronda com um colega que decidiu buscar no sistema o motorista de um carro branco que havia cometido uma infração de trânsito menor.
Em seguida, ao descobrirem que o motorista tinha uma ordem de prisão contra si, os policiais decidiram prendê-lo. Wright, que estava desarmado, resistiu a ser algemado e deu a partida em seu carro para tentar fugir. Então, Potter sacou o que pensou — segundo o seu depoimento — que era seu 'taser'.
Na gravação da cena registrada por sua câmera corporal, é possível ouvir a ex-policial gritando "taser" várias vezes, antes de disparar sua arma e ferir mortalmente Wright. O incidente aconteceu na mesma época em que se desenvolvia o julgamento contra o ex-policial branco Derek Chauvin, que assassinou o homem negro George Floyd, também em Minneapolis, em maio de 2020, ao asfixiá-lo, ajoelhado sobre o seu pescoço, por nove minutos.
O assassinato de Floyd provocou protestos em todos os Estados Unidos, e em outros países, contra o racismo e a brutalidade policial. A morte de Wright também gerou várias noites de protestos e distúrbios no Brooklyn Center, antes que a prisão de Potter acalmasse as tensões.