Com vacinação em 80%, Israel planeja lockdown para frear variante Delta
Estudos mostram que a eficácia da vacina está caindo entre as pessoas com mais de 60 anos
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Mesmo tendo vacinado mais de 80% de sua população adulta, Israel planeja impor novos lockdowns e estender as doses de reforço às pessoas com mais de 50 anos para conter o avanço da variante Delta. O número de novas infecções atingiu o maior nível desde fevereiro e, segundo previsão do governo, até o dia 10 de setembro, a quantidade de pacientes internados deve dobrar a cada dez dias, atingindo 4,8 mil pessoas - metade delas de casos graves.
Apesar de ser líder mundial em imunização, mais de 6 mil pessoas testaram positivo para a Covid-19 na segunda-feira, segundo o Ministério da Saúde. Quase 650 pessoas estão hospitalizadas, sendo 400 em condições críticas, o maior número desde março. Cerca de 150 desses pacientes não estão totalmente vacinados.
Israel atingiu o maior número de casos graves em janeiro, com 1,2 mil pacientes. Por precaução, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, e o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, decidiram adicionar novos leitos hospitalares cada vez que o número de pacientes dobrar. Pela proposta, sempre que dobrar o número de internações também serão acrescentados 100 novos médicos, 500 enfermeiros e 200 paramédicos.
Segundo dados do governo de Israel, idosos não vacinados têm cinco vezes mais probabilidade de apresentar quadros graves de covid do que os idosos imunizados. Pessoas vacinadas têm de cinco a 10 vezes mais resistência contra a covid do que as não imunizadas.
"Pouco menos de 5% dos testes de Covid-19 estão dando positivo, um sinal de que o país está em meio a um aumento dos casos", alertou Salman Zarka, autoridade máxima do governo no combate à pandemia. "Israel encontra-se em um ponto crítico para a nossa saúde, para as nossas vidas e para a nossa economia."
Por ser o primeiro país a iniciar um esforço em massa de vacinação e o primeiro a reabrir toda a economia, depois de vacinar totalmente quase 70% de sua população adulta, os israelenses tiveram um período de liberdade pós-pandemia.
No entanto, com estudos mostrando que a eficácia da vacina está caindo entre as pessoas com mais de 60 anos, algumas das quais receberam suas primeiras doses em dezembro, Israel já é o primeiro país a iniciar a aplicação das doses de reforço.
O governo não esperou a aprovação das doses de reforço da Pfizer pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) e já aplicou a terceira dose para cerca de 2 mil pessoas imunodeficientes semanas atrás, antes de estendê-la a todas as pessoas com mais de 60 anos, em 1.º de agosto. Cerca de 600 mil israelenses idosos já receberam a terceira dose, que em breve poderá ser oferecida também às pessoas com mais de 50 anos.
A experiência de Israel com a variante Delta e a vacina da Pfizer estão sendo observadas atentamente por EUA e Europa, que também estudam a possibilidade de vacinar suas populações mais velhas. Segundo o premiê, 90% das novas infecções ocorreram em pessoas com 50 anos ou mais. "Peço a todos os cidadãos com mais de 50 anos que sejam muito cuidadosos nas próximas semanas", disse Bennett.
O rápido aumento do número de casos ameaça frustrar os planos do governo de manter a economia aberta. Autoridades israelenses já consideram impor um lockdown nos feriados judaicos de setembro, quando as famílias tendem a visitar os avós, para romper a cadeia de contágio. Um lockdown é visto como último recurso e sua restrição aos feriados teria um impacto menor sobre a economia, disse uma autoridade do Ministério das Finanças.
"Se as pessoas forem vacinadas o mais rapidamente possível, então não haverá necessidade de um lockdown", disse a autoridade, que pediu para não ser identificada. "Analisamos os gráficos diariamente e, no momento, há vacinas suficientes para todos aqueles que quiserem uma dose, duas ou três."
O comitê ministerial também deve aprovar um esquema de passaporte da vacina expandido, abrindo alguns serviços e locais apenas para pessoas que estão vacinadas ou se recuperando, bem como limitando as reuniões a 50 pessoas dentro de casa e 100 pessoas ao ar livre, juntamente com a introdução de testes rápidos de covid.
Zeev Feldman, chefe da unidade pediátrica do Sheba Medical Center, disse ao jornal Haaretz que adicionar pessoal extra é uma medida necessária, mas insuficiente. "Não é possível recrutar 100 médicos em agosto para resolver o problema", afirmou. "Precisamos de especialistas em terapia intensiva que precisam de anos para serem treinados. Não dá para montar um sistema de saúde em um piscar de olhos."
O professor Nadav Davidovitch, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, também criticou a decisão. "Estamos sempre tentando tomar medidas preventivas, mas estamos sempre respondendo tarde demais. Já existe aglomeração nos hospitais e nas comunidades - não apenas por causa do coronavírus. E isso está dificultando o tratamento. Portanto, precisamos do aumento de pessoal agora, e não sob a condição de aumento de casos de infecção."