Israel apura causas do maior desastre civil de sua história
Segundo as autoridades, 45 pessoas morreram na dispersão de uma multidão de peregrinos em Monte Meron
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O governo de Israel abriu, nesta sexta-feira, uma investigação para apurar as causas do pior desastre civil de sua história. Na noite de quinta-feira, 45 pessoas morreram na dispersão de uma multidão de peregrinos em um festival religioso em Monte Meron, no norte do país.
Testemunhas relataram que a polícia dificultou a dispersão, que teria dado início à confusão. A conduta dos policias é parte da investigação. Pelo menos 150 pessoas ficaram feridas. Seis estão em estado grave. Israel, um país acostumado com mortes ligadas a atos terroristas, combates militares ou a questões de segurança nacional, não está habituado a desastres civis. Até então, a tragédia mais grave do país havia sido um incêndio florestal, em 2010, que matou 44 pessoas.
Em Monte Meron, segundo o relato de peregrinos, a confusão ocorreu porque a polícia fechou uma das rampas de saída. "Chegaram mais pessoas, cada vez mais. A polícia não permitia a saída e elas começaram a se apertar umas contra as outras, e depois a se esmagar", relatou Shmuel, de 18 anos.
Outra testemunha descreveu que um grande número de pessoas foi empurrado para o mesmo canto. "Eu senti que estava prestes a morrer", disse um peregrino. Muitas vítimas foram asfixiadas e pisoteadas. "Os policiais que estavam lá não deram a mínima", afirmou Velvel Brevda, rabino que testemunhou o tumulto. Ele culpou o governo pelas mortes.
O festival em Monte Meron foi a primeira grande reunião religiosa realizada legalmente desde que Israel suspendeu quase todas as restrições relacionadas à pandemia do novo coronavírus. As autoridades permitiram a presença de 10 mil pessoas, mas, segundo os organizadores, foram fretados mais de 650 ônibus em todo o país, o que já representaria pelo menos 30 mil presentes.
A imprensa local calculou o fluxo em 100 mil peregrinos, mas o número não foi confirmado pelas autoridades. Em 2019, um ano antes da pandemia, que provocou o cancelamento da peregrinação em 2020, os organizadores calcularam que 250 mil pessoas haviam comparecido ao evento.
O festival ultraortodoxo do Lag Ba’Omer celebra o aniversário da morte do rabino Shimon Bar Yochai, que viveu no século 2º e foi enterrado no Monte Meron, na Alta Galileia. O lugar é considerado sagrado. Na festa, os judeus acendem fogueiras, dançam e fazem grandes refeições como parte das celebrações. Em todo o país, mesmo em áreas seculares, grupos menores se reúnem em parques e florestas para churrascos e fogueiras.
Segundo o jornal Haaretz, o tumulto começou depois que algumas pessoas escorregaram em degraus de uma passagem lotada de cerca de três metros de largura, sendo pisoteadas pela multidão que vinha atrás.
"Formou-se uma pirâmide de pessoas, umas em cima das outras", disse à agência de notícias Reuters um dos feridos no local. "Vi pessoas morrerem diante dos meus olhos", afirmou o peregrino.
Um porta-voz da polícia disse que a capacidade da arena montada no Monte Meron era semelhante à dos anos anteriores, mas desta vez as áreas para fogueiras foram divididas por causa das medidas de distanciamento social. Isso pode ter criado pontos de estrangulamento inesperados, afirmou a imprensa israelense.
Especialistas há muito alertam que as celebrações do Monte Meron podiam acabar em um desastre por causa da superlotação e das grandes fogueiras. Até ontem, haviam sido identificados os corpos de 32 vítimas, mas o processo foi interrompido e será retomado após o shabat, que termina hoje à noite. A Rádio do Exército de Israel disse que cerca de 40 pessoas estão desaparecidas.
Um porta-voz da embaixada americana disse que estava trabalhando com as autoridades israelenses para verificar relatos de que cidadãos dos EUA estavam entre os mortos.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, visitou o local da tragédia ontem. "A catástrofe do Monte Meron é uma das mais graves a atingir o Estado de Israel", escreveu Bibi no Twitter. "O que aconteceu aqui é de partir o coração. Nestes momentos o nosso povo se une e é isso que estamos fazendo neste momento também."
O premiê prometeu uma "investigação completa" da tragédia e decretou um dia de luto nacional no domingo. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse ontem que estava com o coração partido e telefonou para Netanyahu para oferecer apoio. "Estaremos ao lado de nossos amigos."