Nobel para hepatite C e não Covid-19 não surpreende médicos
Prêmio Nobel de Medicina foi atribuído à descoberta do vírus da hepatite C por três virologistas dos EUA e Reino Unido
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Em meio à pandemia de Covid-19, o prêmio Nobel de Medicina deste ano foi atribuído à descoberta do vírus de outra doença, a de hepetite C, para a qual há tratamento, mas não vacina, e pode levar à morte. Segundo o comitê organizador do prêmio, a descoberta permitiu que "pela primeira vez na história, a doença causada pelo vírus da hepatite C pudesse ser curada". Os virologistas norte-americanos Harvey J. Alter e Charles M. Rice e o britânico Michael Houghton vão receber cerca de R$ 6,3 milhões cada. O anúncio do prêmio foi feito nesta segunda-feira.
Para o hematologista Phillip Scheinberg, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, que passou por treinamento no NIH (National Institutes of Health), nos Estados Unidos, junto a Harvey J. Alter, havia uma sensação na comunidade médica de que esse prêmio "já deveria ter sido dado". É muito merecido", afirmou.
"Uma descoberta importante, porque havia casos de hepatite que não eram nem A nem B, mas se sabia que havia provavelmente outro vírus que podia causar hepatite e ser transmitido pelo sangue. Como não se sabia, não era uma doença testada em bancos de sangue. Depois que foi descoberta, os exames entraram na rotina diminuindo muito a taxa de transmissão nos bancos de sangue", completou.
O médico Carlos Baía, diretor técnico do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, ressaltou que há mais perguntas do que respostas em relação à Covid-19. "Nobel é dado como reconhecimento para pesquisas consolidadas. Seria quase ofensivo premiar alguém sobre covid-19 nesse momento. Se for rápido, talvez daqui a três a cinco anos", afirmou. "Esse prêmio reconhece a enorme importância desse assunto para a humanidade. Apenas no Brasil, estima-se que mais de 600 mil pessoas sejam portadoras desse vírus que mata por cirrose e câncer de fígado", acrescentou.
A infectologista Cristhieni Rodrigues, do Hospital Santa Paula, em São Paulo, concordou: "A premiação requer um grande período de análise visto que o deste ano cursa com o descobrimento de um vírus em 1989. Ainda é precoce a premiação para a Covid-19". Para Álvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e professor livre-docente do Departamento de CardioPneumologia da USP (Universidade de São Paulo), o prêmio leva a algumas reflexões. "Primeiro, um trabalho a longo prazo, segundo, a produção coletiva de conhecimento , o aspecto translacional porque vai desde a pequisa básica até a implementação da prática clínica, reduzindo assim o ônus da doença. Toda vez que existe um diagnóstico aproriado, há maiores chances e estabelecimento de um tratamento efetivo", afirma.
Ele ressaltou que a relevância do achado se dá por se tratar de uma doença prevalente, com risco aumentado e complexidade que traz aumento de custos. "É uma inspiração para nós brasileiros para pensarmos sempre que a produção coletiva de conhecimento é a próxima etapa de todo o nosso investimento para buscarmos soluções para atenuarmos o ônus das doenças que estão associadas ao aumento de mortalidade e incapacitação no mundo e inclusive em nosso país", finalizou.