Muçulmanos repudiam atentado contra Charlie Hebdo na internet

Muçulmanos repudiam atentado contra Charlie Hebdo na internet

Twitter foi um dos principais instrumentos num cenário de temor pelo avanço da intolerância

AFP

Milhares foram às ruas apoiar publicação atacada por radicais

publicidade

O atentado contra o semanário francês Charlie Hebdo, atribuído a islamitas, pode gerar mais hostilidade em relação aos muçulmanos na Europa, em um contexto de conflitos no Oriente Médio, afirmam especialistas. Alguma resposta da comunidade islâmica, em imensa maioria crítica da violência fundamentalista, veio através da "hashtag" no Twitter #notinmyname. Outra hashtag, #JeSuisCharlie, lidera os assuntos mais mencionados na rede social, mostrando apoio à revista atacada.

• Vigília homenageia mortos em Paris
• França reforça segurança no território nacional após ataque

O termo foi criado para condenar atos violentos supostamente em nome da religião e seus povos e ganhou força contra as ações do Estado Islâmico já em 2014. Milhares de tuítes foram feitos com a tag, todos condenando e muitos mostrando apoio e conforto às vítimas do atentado desta quarta-feira.

"Pode-se temer que um assassinato desse tipo, em pleno centro de Paris, alimente a xenofobia e a islamofobia", comentou o ex-embaixador da França e diplomata da União Europeia Marc Pierini, após o atentado em que morreram 12 pessoas.

Os especialistas se perguntam quais consequências podem ter esse atentado em um contexto de tensão crescente na França e na Europa em torno de temas como o Islã e a imigração. "Os loucos atacam em todas as partes. Cuidado, não nos equivoquemos com o inimigo e não confundamos fé e fanatismo, prática religiosa e fundamentalismo", afirmou Luciano Rispoli, diplomata francês em Bagdá.

"Somos contra qualquer forma de terrorismo, venha de onde vier", declarou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlüt Cavusoglu, para quem "associar o Islã com o terrorismo não é o modo correto de ver as coisas".

Na França, que conta com uma expressiva comunidade muçulmana e luta contra grupos islamitas no Sahel e a organização jihadista Estado Islâmico no Iraque, há um intenso debate sobre o Islã e a imigração. Nesse contexto, o livro do polêmico Eric Zemmour, "O suicídio francês", que considera que a imigração é uma das causas dos problemas da França, esteve no topo da lista de livros mais vendidos no país no ano passado.

"Nunca se falou tanto do Islã nos meios de comunicação e nunca se estigmatizou tanto o Islã na Europa", explicou Hasni Abidi, um pesquisador argelino radicado em Genebra, que cita como exemplo os temas que ocupam habitualmente as pautas dos noticiários da TV do ocidente: as guerras em Gaza, na Síria e no Iraque. "Para aqueles que realizam atentados deste tipo, são imagens contra imagens, mortos contra mortos, olho por olho", destacou.

Na Alemanha, o governo está preocupado com a sua imagem no exterior em função das manifestações contra a "islamização" do país. A 11ª manifestação desse tipo reuniu 18.000 pessoas na cidade de Dresden (leste), um recorde desde que se iniciaram os protestos em outubro. "Estamos em uma espécie de espiral infernal", afirmou Pierini, referindo-se a fenômenos como o atentado de Paris e as manifestações contra a "islamização" na Alemanha. "Um alimenta o outro", completou.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895