Fernández aponta inflação como causa de derrota eleitoral e questiona dados de pobreza na Argentina

Fernández aponta inflação como causa de derrota eleitoral e questiona dados de pobreza na Argentina

Presidente admitiu que sua administração não encontrou respostas para a crise econômica

AFP

Fernández aponta inflação como causa de derrota eleitoral e questiona dados de pobreza na Argentina

publicidade

O presidente argentino, Alberto Fernández, que deixará, em 10 de dezembro, o cargo para o ultraliberal Javier Milei, apontou a inflação como a causa central da derrota eleitoral de seu partido. Também questionou os dados que indicam que mais de 40% dos argentinos vivem na pobreza. Em entrevista à agência Noticias Argentinas (NA) divulgada neste domingo (3), Fernández, um peronista de centro-esquerda que assumiu o poder em 2019, substituindo o direitista Mauricio Macri - hoje aliado de Milei -, repassou seus quatro anos de gestão, fez algumas explicações e também críticas.

"Primeiro é preciso se perguntar por que perdemos, e não podemos pensar que perdemos porque as pessoas estão equivocadas. Perdemos porque evidentemente o problema inflacionário se aprofundou com a falta de dólares. Quando a inflação atinge os níveis que atingiu, os bolsos se deterioram e não pudemos encontrar uma resposta para isso", reconheceu Fernández.

A Argentina enfrenta uma inflação anual de 143%, em um contexto de forte escassez de dólares e com acesso bloqueado aos mercados internacionais de crédito - algo que levou a uma emissão monetária sistemática para cobrir o déficit das finanças públicas, alimentando a espiral inflacionária.

Sobre o dado oficial de 40,1% de pobres no país, Fernández disse à NA que "se houvesse tanta pobreza, a Argentina estaria explodida". "Acho que a pobreza está mal medida", afirmou o presidente de 64 anos.

"Não consigo entender como se concilia que haja 40% de pobreza e ao mesmo tempo levemos 37 meses consecutivos de criação de empregos. [...] Há algo que não fecha para mim e, como a pobreza é medida através da Pesquisa Permanente de Domicílios, é uma pesquisa [...] em um momento em que as pesquisas também têm demonstrado a possibilidade de falha", acrescentou.

Alberto Fernández evitou criticar diretamente a vice-presidente e ex-presidente Cristina Kirchner, com quem tem uma relação tensa desde a Casa Rosada, mas discordou de sua "forma de fazer política".

"Ela tem uma maneira de fazer política que eu não gosto, que tem a ver com essa forma personalista de fazer política. Mas eu a respeito", declarou sobre Kirchner, com quem disse não manter contato.

O presidente, que participará na quinta-feira da cúpula de chefes de Estado do Mercosul, no Brasil, seu último ato internacional, disse que participará da transição de governo porque é um "democrata" e é o que "cabe" - uma alusão a Kirchner, que não esteve presente na posse de Macri em 2015. Fernández encerrou dizendo que espera que os argentinos se lembrem dele como "um homem da democracia".

Veja Também


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895