Habitantes de Gaza aproveitam trégua para tentar voltar para casa

Habitantes de Gaza aproveitam trégua para tentar voltar para casa

Tugido da guerra transformou-se em buzinas de carros e sirenes de ambulâncias que tentavam abrir caminho entre as multidões de deslocados

AFP

Em Khan Yunis, no sul do território palestino, não foram ouvidas explosões na manhã desta sexta

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Milhares de famílias de palestinos deslocados, com os seus poucos pertences, encheram as estradas do sul da Faixa de Gaza nesta sexta-feira (24) para voltar para suas casas, aproveitando o início da trégua de quatro dias entre Israel e o Hamas.

O rugido da guerra transformou-se em buzinas de carros e sirenes de ambulâncias que tentavam abrir caminho entre as multidões de deslocados que saíam dos hospitais, onde haviam se refugiado.

Nas últimas sete semanas, os bombardeios israelenses devastaram o enclave palestino.

Estes ataques forçaram o deslocamento de 1,7 milhão dos seus 2,4 milhões de habitantes, segundo a ONU.

Com mais da metade dos edifícios danificados ou destruídos, segundo dados da ONU, os habitantes de Gaza não têm certeza se encontrarão suas casas de pé.

Em Khan Yunis, no sul do território palestino, não foram ouvidas explosões na manhã desta sexta-feira.

Hayat al Muammar, de 50 anos, está entre os que querem aproveitar a trégua entre Israel e o Hamas, que será acompanhada da libertação de vários reféns sequestrados em Israel em troca de prisioneiros palestinos.

"Vou para casa", disse à AFP esta mulher, que se refugiava em uma escola.

"Fugimos da morte, da destruição, de tudo o que acontece", explica. "Ainda não entendo o que aconteceu conosco, por que estão fazendo isso conosco?", acrescenta.

Em 7 de outubro, o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, lançou um ataque sem precedentes no sul de Israel. Cerca de 1.200 pessoas morreram, a maioria civis, e cerca de 240 foram sequestradas e feitas reféns, com a ajuda de outros grupos armados palestinos, segundo as autoridades israelenses.

Desde então, Israel bombardeou incansavelmente o território palestino. Quase 15 mil pessoas, incluindo milhares de mulheres e crianças, morreram, segundo o governo do Hamas, e mais de 70% dos habitantes tiveram que abandonar as suas casas.

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"A guerra não acabou"

Ahmed Fayad, de 30 anos, volta à sua aldeia, a poucos quilômetros da cidade, com 70 membros da sua família, que se refugiavam em uma escola, conta, sentado em uma carroça puxada por um burro.

Um homem mais velho passa por ele com uma bolsa nas costas. Ele diz que se sente "confiante" para retornar à sua cidade, perto da fronteira com Israel.

Ao seu redor, milhares de homens, mulheres e crianças caminham, ou andam em carroças ou outros meios de transporte precários, com suas caixas, sacos plásticos e pequenas bagagens.

No entanto, folhetos lançados por aviões israelenses alertam: "a guerra não acabou".

O Exército israelense considera o terço norte do território, onde está localizada a cidade de Gaza, uma zona de combate e ordena que todos os civis abandonem o setor. "Retornar ao norte é proibido e muito perigoso", acrescentam os folhetos.

Khaled al Halabi teria desejado "uma trégua também no norte". No início da guerra, ele trocou a cidade de Gaza por Rafah, no extremo sul do território. Agora, gostaria de poder ver "sua casa".

Não pegará a estrada para o norte, garante, mas com esta trégua "poderemos finalmente respirar depois de 48 dias".

"Os produtos vão entrar, porque não encontramos mais pão, combustível ou comida", afirma, aliviado. No terminal de Rafah, a única passagem fronteiriça não controlada por Israel, chegam caminhões com ajuda, vindos do Egito.

Pelo acordo assinado com a mediação do Catar, dos Estados Unidos e do Egito, 200 caminhões com ajuda passarão diariamente pela fronteira.

Raed Saqer, deslocado em Rafah, sente-se otimista. "Precisávamos destes dias de trégua para podermos cuidar dos doentes, para que as pessoas possam se recuperar um pouco, porque os deslocados no norte vivem uma tragédia que não pode ser descrita", afirma.

"Esperamos que seja a primeira etapa de um cessar-fogo definitivo", diz ele.


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