Tanques israelenses cercam o principal hospital de Gaza
Pessoas não conseguem deixar complexo hospitalar por conta dos combates
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Tanques israelenses cercaram o maior hospital de Gaza nesta terça-feira (14) e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pressionou o aliado para que proteja os milhares de civis bloqueados no centro médico, que Israel considera um esconderijo estratégico de Hamas.
Após dias de bombardeios e combates nos arredores do hospital Al Shifa da cidade de Gaza, testemunhas afirmam que tanques e veículos armados estão nas entradas do complexo cercado, que se tornou um dos centros da guerra que começou há mais de cinco semanas.
A ONU acredita que milhares de pessoas dentro do hospital, um número que pode superar 10 mil, entre pacientes, funcionários e deslocados, que não conseguem deixar o local devido aos combates.
Ao menos 179 corpos foram enterrados nesta terça-feira em uma "vala comum" no hospital Al Shifa, informou o diretor do centro médico, Mohamad Abu Salmiya, que mencionou sete bebês prematuros que morreram devido à falta de energia elétrica.
"Nos vimos obrigados a enterrá-los em uma vala comum", disse Abu Salmiya. "Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as áreas refrigeradas do necrotério não têm energia elétrica", acrescentou. "Uma mulher e um homem que estavam no CTI morreram nesta terça-feira", disse o médico.
Vinte e nove pessoas hospitalizadas no CTI faleceram desde sábado, quando a energia elétrica foi cortada no hospital Al Shifa. Um jornalista que colabora com a AFP e está no complexo hospitalar afirmou que o odor dos cadáveres em decomposição é insuportável. Um cirurgião da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que a situação no hospital é "desumana" "Não temos energia elétrica, comida e água no hospital", afirmou em um comunicado da ONG.
O Exército israelense acusa o movimento islamista palestino de usar uma rede de túneis sob o hospital como um "nódulo" de comando, transformando pacientes e refugiados em "escudos humanos", o que o Hamas nega. Biden fez um apelo a Israel para adotar "ações menos intrusivas em relação ao hospital". "O hospital deve ser protegido", insistiu à imprensa no Salão Oval da Casa Branca.
Um porta-voz do Exército israelense, Peter Lerner, reiterou nesta terça-feira que Al Shifa era "central nas capacidades de comando e controle do Hamas", mas disse que as tropas estavam de prontidão. "A ideia é tentar retirar as pessoas, retirar o maior número possível", declarou.
"Janela de legitimidade"
Israel bombardeia a Faixa de Gaza sem trégua desde o ataque executado em seu território por combatentes do Hamas em 7 de outubro, que mataram quase 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestraram mais de 200. Desde 27 de outubro, Israel também efetua uma operação terrestre com o objetivo de "aniquilar" o movimento islamista - 46 soldados do país morreram até o momento.
Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirma que 11.240 pessoas, incluindo 4.630 menores de idade, morreram na ofensiva de Israel no território cercado, que não tem acesso ao abastecimento de água, alimentos, energia elétrica ou medicamentos. As agências da ONU e organizações internacionais mencionam centenas de milhares de pessoas deslocados e uma catástrofe humanitária.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen, afirmou na segunda-feira que o país ainda dispõe de "duas ou três semanas até que a pressão internacional aumente realmente", mas que sua pasta está "trabalhando para ampliar a janela de legitimidade". "A luta continuará pelo tempo necessário", acrescentou Cohen, segundo um porta-voz. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que o Hamas "perdeu o controle de Gaza" e que seus combatentes estão "fugindo para o sul" do território.
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Negociação pelos reféns
Diante da crescente pressão internacional, Israel aceitou estabelecer pausar diárias em suas operações militares ao redor de "corredores" humanitários para permitir a saída dos moradores de Gaza bloqueados pelos combates. Mas o governo israelense insiste que não haverá um cessar-fogo mais amplo antes da libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas.
O governo do Catar atua como mediador nas negociações sobre os reféns. Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, afirmou na segunda-feira que um possível acordo poderia implicar a libertação de 100 reféns israelenses em troca de 200 crianças e 75 mulheres palestinas detidas em prisões de Israel. "Informamos aos mediadores que poderíamos libertar os reféns se conseguíssemos cinco dias de trégua (...) e a entrada de ajuda para toda nossa população", disse.
Em um momento de negociações, o movimento palestino divulgou o vídeo de uma jovem refém que foi identificada por Israel como uma militar sequestrada. "Estamos usando todos os nossos recursos, tanto de inteligência como operacionais, para trazer os reféns para casa", afirmou o Exército israelense.
A guerra em Gaza aumentou as hostilidades em outras áreas, como Cisjordânia, Líbano e Síria. Neste último país, bombardeios americanos mataram oito combatentes pró-Irã, segundo uma ONG. No norte da Cisjordânia, cinco palestinos morreram em confrontos com tropas israelenses no setor de Tulkarm, informou à AFP nesta terça-feira o diretor de um hospital. Desde o início da guerra em Gaza, quase 180 palestinos morreram na Cisjordânia em ações de soldados ou colonos israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino.