Sudão contabiliza mais 280 mortos em conflito
Novos bombardeios ocorreram no país nesta segunda-feira (15)
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O sindicato de médicos do Sudão informou, nesta segunda-feira (15), que 280 pessoas morreram e 160 ficaram feridas nos combates dos dias 12 e 13 de maio em El-Geneina, na região de Darfur, no oeste do país. Neste mesmo dia o país já passa por novos bombardeios, em guerra por poder entre o general Abdel Fattah Al Burhan e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), do general Mohamed Hamdan Daglo.
O conflito começou em 15 de abril e já deixou cerca de mil mortos e um milhão de deslocados, o que se agrava neste início de semana com novos ataques aéreos e explosões provocados pelos generais, principalmente na capital, Cartum, e em Darfur.
Os dois lados se tornaram rivais após indefinição de quem seria subordinado a quem em negociações para que a RSF integrasse as forças armadas do país, em processo para restaurar o governo civil. Anteriormente, Burhan e Daglo haviam trabalhado juntos para depor o ex-presidente do país Omar al-Bashir em 2019 e auxiliar na implementação de um golpe militar em 2021.
Após uma ordem de Burhan para que todas as contas bancárias das RSF fossem congeladas, no domingo (14), Daglo divulgou uma gravação de áudio que antecedeu os bombardeios. Nela, ele prometeu que seu rival seria "julgado em breve e enforcado em público". Os habitantes têm sobrevivido confinados em suas casas, muitas vezes sem água, energia elétrica e com reservas escassas de comida.
Segundo especialistas, a guerra dá sinais de que vai ser longa, porque as duas partes parecem ter as mesmas capacidades de combate e pouca vontade de negociar antes de uma vitória na batalha.
Distribuição de alimentos
Paralelamente, em Jidá, Arábia Saudita, emissários de ambos os lados concordaram sobre a criação de "passagens seguras" para retirar os civis e facilitar a entrada de ajuda humanitária, mas deixaram a questão do fim das hostilidades para posteriores "discussões mais amplas".
"Nada mudou desde o começo do conflito, exceto que as pessoas estão cada dia mais tensas", disse à AFP um morador do sul de Cartum. "A violência dos dois lados aumenta a cada dia", afirmou um morador da zona norte da capital.
Após a morte de 18 trabalhadores humanitários e vários saques, a entrega de ajuda humanitária internacional foi interrompida. Grande parte dos 45 milhões de sudaneses já dependiam deste auxílio mesmo antes do conflito.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) anunciou nesta segunda-feira uma distribuição de alimentos no estado de Al Yazira, ao sudeste da capital, para os deslocados pelos combates.
Com os bancos fechados há um mês, o dinheiro em espécie começa a faltar. Sem contar que os preços dispararam: os dos alimentos quadruplicaram e os da gasolina multiplicaram por 20.
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Uma refeição por dia
Em Darfur, "tivemos a informação sobre franco atiradores que disparam em qualquer um que saia de casa", disse à AFP Mohamed Osman, da Human Rights Watch (HRW). Bloqueadas, "as pessoas feridas nos combates há dias estão morrendo em suas casas", afirmou.
A região ainda sofre as consequências de uma guerra que eclodiu em 2003, quando o então ditador Omar al Bashir enviou as milícias Janjaweed, formadas por tribos árabes, contra as minorias étnicas rebeldes.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que "três refeições diárias foram reduzidas para apenas uma" nos campos de deslocados de Darfur.
Temor por propagação regional
Milhares de refugiados entram todos os dias no Egito, Chade, Etiópia e Sudão do Sul. No Egito, que atravessa a pior crise econômica de sua história, a preocupação cresce. Outros países vizinhos temem uma propagação regional.
Em Cartum, o aeroporto não funciona, os estabelecimentos comerciais foram saqueados e os centros de serviços estatais estão fechados "até a próxima ordem".
O que restou do governo se exilou em Porto Sudão, 850 quilômetros ao leste da capital, onde uma pequena equipe da ONU tenta negociar a entrega de ajuda humanitária.