Mesmo com ciclo de aumentos da Selic, inflação ainda segue alta

Mesmo com ciclo de aumentos da Selic, inflação ainda segue alta

Taxa de juros chega ao 11ª alta consecutiva com inflação acima dos dois dígitos (11,73%)

R7

Para tentar conter a disparados dos preços, o BC elevou a taxa de juros pela 11ª vez consecutiva

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Apesar de a Selic estar subindo desde de março de 2021, a inflação nos últimos 12 meses ainda continua em dois dígitos (11,73%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para tentar conter a disparados dos preços, nesta quarta-feira (15), o Banco Central elevou a taxa de juros pela 11ª  vez consecutiva.

Antes do ciclo de aumentos da Selic começar em março de 2021, os juros básicos estavam em 2 pontos percentuais. Após mais de um ano de aperto monetário, somente agora a inflação começa a ter uma tímida perda de ritmo. O índice desacelerou em maio (0,47%) e abril (1,06%), mas segue acima do dobro do teto da meta para 2022.

Fatores externos, o aumento do consumo pós-pandemia e a elevação do dólar têm contribuído para a inflação se manter em um patamar elevado. Além disso, os efeitos da elevação da taxa de juros não são sentidos imediatamente.

Aumento da demanda e rupturas da cadeia de suplementos

Segundo o professor do Mackenzie e economista-chefe da G11 Finance, Hugo Garbe, a persistência da inflação está relacionada ao aumento do consumo. "Estamos vivendo um aumento de preços no pós-pandemia, por conta da demanda. Isso, geralmente, acontece quando a economia está bem e as pessoas estão consumindo muito. A produção não acompanha", explica.

"É mais difícil de conter, porque é uma inflação de custos. Temos problemas na cadeia de suprimento no mundo todo. Existe uma demanda de consumo que ficou reprimida praticamente durante dois anos de pandemia e que vem de uma vez só agora. Então, o custo da matéria-prima na produção sobe muito", completa Garbe.

O professor estima que os problemas relacionados à cadeia de produção sejam superados a partir do segundo semestre, quando a inflação deve começar a ceder.

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Variação das commodities no mercado internacional

De acordo com o economista Eduardo Vilarim, do Banco Original, a inflação também tem sido pressionada pelos "choques decorrentes das altas das commodities energéticas e agrícolas, que componentes mais voláteis da cesta de consumo”.

A recuperação da cadeia de produção após a pandemia foi abalada pela volta dos lockdowns na China e a Guerra na Ucrânia.

Os dois países envolvidos no Leste Europeu são grandes produtores de commodities agrícolas energéticas. A guerra contribuiu para a disparada do petróleo, que já estava com o preço elevado depois da produção voltar a aquecer com a flexibilização de medidas restritivas contra a Covid-19. Grãos, como trigo e milho, usados para alimentar animais, também subiram, o que impactou também o preço da carne.

Leva tempo para aumento dos juros fazer efeito

A taxa de juros não tem impacto imediato na economia, por isso, a melhora nos preços não é sentida pela população em um primeiro momento. "Quando o Banco Central eleva a Selic, não considera apenas os níveis atuais da taxa, mas também seus efeitos defasados sobre atividade, crédito e inflação. Isso acontece, pois, os efeitos do choque de 1 ponto percentual na taxa de juros tendem a ser sentidos pela inflação meses depois da decisão de aumento", explica Vilarim.

Ainda segundo o economista, o pico da inflação foi em abril, mês em que chegou a 12,13% no acumulado em 12 meses. "O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio veio abaixo do esperado pelo mercado. Devemos perceber uma melhora na inflação a partir do segundo semestre do ano. Nossas projeções calculam aumento de 9,2% ao final de 2022", destaca.

Mas alguns fatores podem comprometer a desaceleração da inflação. "Há alguns riscos à frente como a política de paridade de preços internacional da Petrobras, que alerta para grande possibilidade de reajuste dos combustíveis, já que a defasagem se encontra em 40,59% para gasolina e 29,32% para o diesel, segundo nossos cálculos. Outro problema é o câmbio. Como parte dos insumos de produção no Brasil estão atrelados à importação, elevações do dólar são relevantes para inflação corrente", afirma Vilarim.

Para o Hugo Garbe, até o momento, o Banco Central tem acertado na política monetária. "O Brasil agiu rápido, foi um dos primeiros países a aumentar os juros lá no ano passado e já tivemos regressões nos últimos meses. Nós já começamos a sentir os efeitos da elevação da Selic. Enquanto os Estados Unidos, por exemplo, nem falava ainda em subir os juros em 2021, então, a inflação lá começa a preocupar mais. É esperado que depois desse último aumento nós já tenhamos chegado ao fim do incremento dos juros."


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