Dólar fecha a R$ 5,13 e Ibovespa tem 8ª queda seguida antes de decisão sobre juros
Moeda norte-americana fechou no maior patamar para encerramento desde 12 de maio
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Com a manutenção da aversão a risco no exterior, na véspera da aguardada decisão do Federal Reserve sobre juros, em que parte do mercado já se posiciona para um aumento maior na taxa de referência dos EUA (em 0,75 ponto porcentual), o Ibovespa não escapou da oitava perda seguida, em desempenho não visto desde maio de 2012. Nesta terça-feira, 14, a referência da B3 oscilou entre 101.325,28 e 103.327,73, para fechar o dia em baixa de 0,52%, aos 102.063,25 pontos, assim como na segunda-feira no menor nível de encerramento desde 10 de janeiro. Mais fraco do que na sessão anterior, o giro financeiro ficou em R$ 23,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa cede 3,24%, colocando as perdas do mês a 8,34% e as do ano a 2,63%.
"Com a inflação atingindo recordes por toda parte, os bancos centrais têm elevado o tom, e os juros, para controlar os preços em alta. Se, por um lado, juros mais altos ajudam a combater a inflação, também desaquecem a economia. Quanto maiores as altas, mais forte o freio na atividade e maior a preocupação", resume Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos. Assim, o temor em relação à maior economia do mundo, os Estados Unidos, deixa de ser quanto ao grau de desaquecimento da atividade, mas sobre quando eventual recessão irá se impor.
Em Nova York, depois de o S&P 500 abrir o dia ensaiando alguma recuperação, acabou também cedendo terreno, em baixa de 0,38% no fechamento. "Todas as atenções seguem voltadas para as reuniões de política monetária amanhã, tanto a do Copom como a do Fed. Estava muito claro que o aumento nos juros americanos seria de meio ponto, e que aqui também seria meio ponto de alta, mas com esses dados recentes sobre inflação, mais fortes lá fora, o cenário fica meio turvo, o que se reflete na volatilidade que temos visto", diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.
Nesta terça-feira, o desempenho positivo de Petrobras (ON +0,89%, PN +1,13%) - embora moderado em direção ao fechamento, com a mudança de sinal do petróleo - e das utilities, puxadas por Eletrobras ON (+3,37%) e PNB (+2,36%) - ambas ações na ponta do Ibovespa -, contribuiu para mitigar os efeitos do dia negativo para Vale (ON -0,20%), siderurgia (Usiminas PNA -2,60%, Gerdau PN -2,27%) e bancos (Itaú PN -0,67%, Bradesco PN -1,01%, Santander -1,11%). Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Via (-10,20%), CVC (-6,70%) e Positivo (-5,94%). No lado oposto, além das duas ações de Eletrobras, CPFL Energia (+3,15%), WEG (+1,81%) e Totvs (+1,30%).
"Ontem o Ibovespa já estava no menor patamar desde janeiro, então ali na região dos 101.945 pontos - fechou nesta terça-feira nos 102,5 mil pontos. Na segunda-feira, apesar do forte movimento de baixa, o índice respeitou o suporte imediato dos 102.390 pontos, deixado no pregão de 10 de maio, que continua a ser a referência mais importante do momento: se rompido pode levar o índice a buscar os 100.850", observa Heytor Bortolucci, analista técnico na Genial Investimentos.
"O Ibovespa já vinha em baixa nas sete sessões anteriores à de hoje, tendo perdido força no começo do mês quando chegou aos 112,7 mil pontos durante a sessão do dia 2. Hoje, chegou a subir 0,7%, aos 103,3 mil pontos, mas a aversão a risco global não ajudou, com quedas que já vinham da sessão asiática. Muito se fala de eventual perda dos 100 mil pontos, o que dependerá muito da leitura do mercado sobre os próximos indicadores econômicos e como estes vão se refletir na atuação dos bancos centrais - com atenção especial para a 'super quarta-feira', amanhã", acrescenta o analista gráfico.
Dólar
Após uma manhã marcada por muita oscilação, o dólar se firmou em terreno positivo ao longo da tarde desta terça-feira, 14, e emendou o sétimo pregão consecutivo de alta, período em que acumulou valorização de 7,44%, saltando da linha de R$ 4,77 para o patamar de R$ 5,13. A escalada do dólar por aqui se deu, uma vez mais, em linha com fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio à expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve nesta quarta-feira, 15. A leitura da inflação ao produtor (PPI) nos EUA em maio em linha com o esperado não impediu o mercado de juros americano de embutir mais de 90% de chances de o BC americano anunciar amanhã uma alta da taxa básica em 75 pontos-base.
Por aqui, cresce a perspectiva de que o Banco Central, que deve anunciar nova elevação da taxa Selic amanhã, tenha que prolongar o aperto monetário dada a piora do cenário externo e o aumento da percepção de risco fiscal. O pacote do governo para conter os preços dos combustíveis anda célere no Congresso. Na segunda, o Senado aprovou o projeto de lei que fixa teto de 17% para o ICMS sobre energia e combustíveis. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que as alterações promovidas pelo Senado podem ser votadas ainda hoje no plenário da Casa.
O dólar até abriu em queda e sustentou leve baixa nas primeiras horas do negócio com recuo pontual das taxas dos Treasuries e do índice DXY (que mede o desempenho da moeda americana frente a seis pares fortes), na esteira da divulgação da inflação ao produtor (PPI) nos EUA. O índice cheio subiu 0,8% em maio (em linha com o esperado), enquanto o núcleo - que exclui combustíveis e energia - avançou 0,5%, ligeiramente abaixo das expectativa (0,6%).
A maré começou a virar por aqui assim que as taxas dos Treasuries e o índice DXY mudaram de direção lá fora. Após um período de oscilação e trocas de sinal, o dólar se firmou em alta no mercado doméstico e chegou a tocar a casa de R$ 5,15, ao registrar máxima a R$ 5,1518 (+0,72%). No fim do dia, a divisa avançava 0,38%, cotada a R$ 5,1343. Com isso, a moda passou a acumular valorização de 2,92% na semana e de 8,03% em junho. No ano, as perdas, que já foram de dois dígitos, agora são de 7,92%.
"A inflação é uma questão global. O CPI de maio (índice de inflação ao consumidor) veio muito acima do esperado, o que pressiona o Fed a subir mais os juros e fortalece o dólar. Aqui, o risco fiscal voltou a ganhar força com o pacote de combustíveis. O ambiente não é favorável para a moeda brasileira", diz o head de câmbio da SVN, Renan Mazzo.
Ontem, casas como Barclays e JP Morgan passaram a prever alta da taxa básica americana em 75 pontos-base pelo Fed amanhã, justamente por conta da leitura do CPI em maio. O Wells Fargo se junto ao time hoje, alertando que o CPI ainda não atingiu seu pico. Segundo a instituição, se o Fed optar por um aumento de 50 pontos-base amanhã, deverá sinalizar aperto monetário "mais agressivo adiante por meio da coletiva de imprensa do presidente Jerome Powell" ou por meio de um aumento "significativo" nas projeções indicadas pelo gráfico de pontos, avalia o banco.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o Fed terá que elevar a taxa básica - hoje entre 0,75% e 1% - para além de 3% até o fim do ano e mantê-la acima do nível neutro por alguns meses para garantir a convergência da inflação à meta até 2024. Em resposta, as taxas dos Treasuries curtos podem subir de forma mais rápida que a dos longos, com o mercado antecipando o risco de uma recessão em algum trimestre de 2023.
"O mercado precifica a necessidade de um choque monetário amanhã na decisão do Federal Reserve. Caso seja confirmada uma postura mais agressiva, teremos menos fluxo de capitais para emergentes no curto prazo e, portanto, valorização do dólar antes essas moedas", afirma Velho, ressaltando que o fluxo de recursos externos para a bolsa brasileira, que havia ensaiado uma recuperação no fim de maio e início de junho, está "minguando".
Por aqui, a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, vê perspectiva de alta da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual amanhã, para 13,25% ao ano, e sinalização de continuidade do ciclo de aperto monetário. Ela chama a atenção para a rodada de alta recente petróleo, que amplia a defasagem dos preços dos combustíveis no mercado interno. "Isso aumenta a expectativa de reajuste de preços, o que pode cobrir aos efeitos da aprovação do projeto que fixou o teto do ICMS. A combinação de inflação e fiscal pode piorar, o que leva a taxa de câmbio mais para cima", afirma.
Juros
Os juros foram destaque negativo entre os mercados domésticos, com as principais taxas fechando em forte alta. A combinação de disparada dos Treasuries, alta do dólar, preços do petróleo acima de US$ 120 e iminência de anúncio de reajuste de preços pela Petrobras provocou forte movimento de zeragem de posições (stop loss) vendidas nesta véspera de decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Já há consenso em torno de um aumento de 75 pontos-base no juro americano e, por aqui, tal aposta para o Copom nesta quarta-feira ganhou terreno, mas ainda é minoritária.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,690%, de 13,551% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 13,292% para 13,665%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou a etapa regular em 13,10%, de 12,745%, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 12,74% para 13,01%.
Do fechamento de quinta-feira para cá, as taxas curtas subiram mais de 50 pontos-base, e as longas e intermediárias entre 60 e 70 pontos. Com isso, hoje, mais do que renovar as máximas de 2022, as principais taxas fecharam no maior patamar desde 2016. Por exemplo, a do DI janeiro de 2027, referência entre os longos, não fechava acima de 13% desde 16/6/2016 (13,10%).
O quadro que já era ruim pela manhã, piorou no começo da segunda etapa, com sucessivas máximas alinhadas à curva dos Treasuries e à pressão do câmbio. A taxa da T-Note encostou em 3,5% e o dólar à vista, no pico intraday, chegou a R$ 5,15, com o petróleo Brent rodando nos US$ 123. Na última hora da sessão regular, porém, as taxas locais se afastaram das máximas com a virada do petróleo para baixo e o dólar reduzindo a alta.
O pano de fundo é o mesmo dos últimos dias: até onde o Federal Reserve terá de chegar para domar a inflação, numa economia em que o mercado de trabalho apertado facilita a alta de preços. As apostas para a decisão de juros amanhã, que na semana passada eram de alta de 50 pontos, rapidamente migraram para 75 pontos após o CPI na sexta-feira e se consolidaram hoje mesmo com a inflação no atacado dentro do esperado.
Um Fed mais agressivo deve fortalecer o dólar, num momento em que a defasagem dos preços de combustíveis já está bastante pressionada pelo avanço do petróleo - em torno de 20% para a gasolina, dizem especialistas. Um novo reajuste nos preços da Petrobrás é considerado iminente, num momento que o pacote de combustíveis avança no Congresso.
O Copom se reúne amanhã com um cenário desafiador para a sequência do processo de ajuste da política monetária, com o mercado bastante cético sobre uma sinalização firme sobre os próximos passos. Na curva a termo, segundo a Greenbay Investimentos, nesta tarde a curva apontava 58 pontos-base de aumento da Selic amanhã, ou seja, 70% de probabilidade de alta de 0,50 ponto e 30% de chance de 0,75. O economista-chefe, Flávio Serrano, pondera que esses números estão contaminados pelos movimentos de zeragem e não necessariamente podem expressar apostas firmes. De todo modo, na curva, para o Copom de agosto, o quadro de ontem - 60% de chance de elevação de 0,25 ponto e 40% para 0,50 - hoje evoluiu para 100% de probabilidade de 0,50. Para o fim do ano, a precificação indica Selic entre 14% e 14,25%.