Dólar recua 0,47% e encerra sessão cotada a R$ 4,96

Dólar recua 0,47% e encerra sessão cotada a R$ 4,96

Moeda norte-americana reduziu depois de três pregões de alta firme

AE

Dólar chegou a superar os R$ 5,00 nesta quarta-feira

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Após uma sequência de três pregões de alta firme, em que acumulou valorização de 8,01% e esboçou fechar acima de R$ 5,00, o dólar à vista recuou na sessão desta quarta-feira marcada pela divulgação de dados do fluxo cambial e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de abril. Segundo operadores, a recuperação parcial dos ativos de risco no exterior, depois de uma forte onda de depreciação, abriu espaço para ajustes e realização de lucros no mercado doméstico de câmbio. Uma vez mais, o giro no mercado futuro de dólar foi elevado, o que pode sugerir tanto um rearranjo de posições quanto aumento de movimentos especulativos.

Não por acaso, a trajetória da taxa de câmbio ao longo do pregão foi sujeita a solavancos. Com trocas de sinais, o dólar chegou a operar acima do patamar de R$ 5,00, registrando máxima a R$ 5,0402 pela manhã. Na mínima, ao longo da tarde, a divisa desceu até 4,9284 (-1,24%). No fim do dia, o dólar à vista era negociado a R$ 4,9671, em baixa de 0,47%. A divisa ainda acumula alta de 3,37% na semana e de 4,32% em abril.

No exterior, o dólar teve comportamento misto em relação a divisas de países emergentes e exportadores de commodities. As mínimas da divisa por aqui coincidiram que as perdas mais fortes da moeda americana frente ao peso mexicano e ao dólar australiano.

Já índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - chegou a superar os 103,000 pontos (maior nível desde janeiro de 2017), sobretudo em razão da fraqueza do euro, que caiu ao menor nível em cinco anos na comparação com a moeda americana.

O pano de fundo que contribuiu para deterioração dos ativos globais nos últimos dias permanece intocado: ajuste mais rápido da política monetária americana, com provável alta de 0,50 ponto base na taxa básica dos EUA na próxima semana, escalada nas tensões geopolíticas em torno do conflito na Ucrânia (a Rússia confirmou corte de fornecimento de gás para Polônia e Bulgária) e preocupações com a economia chinesa diante de <i>lockdowns</i> para combater a covid-19.

Para a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, a queda do dólar nesta quarta-feira pode ter sido um fenômeno pontual, em um ambiente marcado por volatilidade exacerbada. "A expectativa de que o Fed vai aumentar mais os juros e os ruídos políticos internos devem continuar a pressionar a nossa taxa de câmbio", diz Quartaroli, em referência aos atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Dados do fluxo cambial divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central mostram desaceleração da entrada de dólares no país. Após fluxo positivo de US$ 6,340 bilhões em fevereiro, o saldo foi de US$ 2,851 bilhões em março, graças à entrada liquida de US$ 6,854 bilhões via comércio exterior. O canal financeiro decepcionou ao apresentar saída líquida de US$ 4,004 bilhões no período.

Na semana de 28 de março até 1º de abril, o saldo foi positivo em US$ 583 milhões (entrada de US$ 3,198 bilhões via comércio exterior e saída de US$ 2,615 bilhões no canal financeiro). No acumulado do ano (até 1º de abril), o saldo total é positivo em US$ 10,552 bilhões, com entrada de líquida de US$ 4,507 bilhões do lado financeiro e de US$ 6,045 bilhões via pelo canal comercial.

Esses números foram divulgados graças a uma trégua na paralisação dos servidores do Banco Central, que voltaram a atualizar os dados do movimento cambial, embora ainda de forma defasada. Normalmente, já estariam disponíveis dados até 22 de abril, o que permitiria saber se houve um recrudescimento das saídas pelo canal financeiro nas últimas semanas.

Segundo dados da B3, os investidores estrangeiros retiraram US$ 854,989 milhões da Bolsa na segunda-feira, 25, levando o saldo negativo em abril a R$ 1,824 bilhão. No acumulado de 2022, o capital externo soma entrada de R$ 63,504 bilhões.

"Já estamos vendo uma redução da entrada de recursos e até alguma saída de investidor estrangeiro, com realização de lucros acumulados da janela de oportunidade do início do ano", diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, lembrando que o real se beneficiou da forte entrada de capital externo para a bolsa brasileira, em razão da alta das commodities no exterior e da rotação global de portfólios. "Agora esse quadro mudou. Tem muita incerteza no mercado. A China pode não voltar aos níveis de produção do passado com fechamento de Xangai e expectativa de medidas em Pequim. E o investidor pode migrar para os Estados Unidos com aumento dos juros americano."

Divulgado pela manhã, o IPCA-15 de abril foi recebido sem sobressaltos. O índice acelerou de 0,95% em março para 1,73% em abril, mas ficou abaixo da mediana de Projeções Broadcast (1,82%). O mercado já trabalha com o fim do ciclo de aperto no mais tardar em junho.

A perspectiva é que o Banco Central cumpra o que foi sinalizado e eleve a Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75%, na semana que vem. Embora ainda haja possibilidade de uma alta residual no encontro seguinte, as apostas em taxa básica perto de 14% agora estão mais raras.

Taxas de juros

Os números do IPCA-15 foram a senha para um alívio na curva a termo de juros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o índice, na margem, foi de 1,73% em abril. Ainda que a mais alta para um mês desde fevereiro de 2003, a taxa veio abaixo dos 1,82% que eram a mediana do Projeções Broadcast.

Por mais que não tenha mudado substancialmente as apostas do mercado para a Selic terminal, houve espaço para a queima de prêmios nos contratos, com queda mais forte concentrada no intervalo intermediário.

Assim, o DI para janeiro de 2023 caiu de 13,028% na terça-feira para 12,97% nesta quarta-feira. O janeiro 2024 mergulhou de 12,713% a 12,54%. O janeiro 2025 cedeu de 12,141% a 12,005%. E o janeiro 2027 encolheu de 11,98% a 11,87%.

A surpresa positiva com a inflação não impediu, contudo, de revisões para cima nas projeções. O JPMorgan, por exemplo, elevou a estimativa de 7,6% para 8,0%. A do Credit Suisse passou de 7,8% para 8,3%.

No Banco Original, a previsão de 7,7% para o fechamento do ano ainda não foi alterada, mas o economista-chefe Marco Caruso admite que há um desconforto com o número e que o viés é de alta. "O IPCA-15 muda muito pouco a nossa visão para o IPCA fechado de abril e o do encerramento do ano", afirma. Ele estima 0,92% para o índice este mês.

O economista pontua que, em termos de política monetária, o IPCA-15 não trouxe grande alteração ao cenário-base do Banco Central. "Eu acho que não vai muito longe. De agora adiante são ajustes finos. É muito menos na ponta do lápis e muito mais em termos qualitativos. O grosso do impacto deste ciclo de juros vai bater no segundo semestre de 2022 e começo de 2023", diz.

Nas precificações do mercado, a tendência é semelhante. Há 100% de chance de Selic a 12,75% em maio, tal como o telegrafado pelo BC. Para junho, as apostas se dividem entre 12,75% (60%) e 13,00% (40%). Há ainda residual para agosto - 80% das chances em taxa básica em 13% e 20%, em 13,25%. Para a virada do ano, a curva embute uma taxa básica entre 13,00% (52%) e 13,25% (48%).

Bolsa

Em dia de alívio relativo pela leitura um pouco abaixo do esperado para o IPCA-15 em abril, o Ibovespa conseguiu interromper a sequência de sete perdas, a mais longa desde maio de 2016, e fechou o dia em alta de 1,05%, a 109.349,37 pontos, entre mínima de 108.214,13, da abertura, e máxima de 110.107,48 pontos, com giro a R$ 30,9 bilhões. O dia também foi de moderada recuperação na maioria dos mercados acionários da Europa e dos Estados Unidos, enquanto, no Brasil, o dólar se acomodou a R$ 4,96 no fechamento, após ter encerrado a terça-feira a R$ 4,99 e chegado na máxima desta quarta-feira a R$ 5,0402.

Após perdas bem distribuídas no dia anterior nas ações e segmentos de maior peso no índice, a recuperação também se mostrava bem disseminada nesta quarta-feira, com o setor de mineração (Vale ON +5,35%) e siderurgia (Gerdau PN +6,01%, CSN ON +4,58%) à frente.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Gerdau PN, além de WEG (+5,50%) e Vale. No lado oposto, Hapvida (-5,84%), Azul (-3,19%), Positivo (-2,63%) e Méliuz (-2,58%). Ao fim, os bancos (Itaú PN -0,81%, Unit do Santander -0,40%) e Petrobras (ON +0,30%, PN estável) perderam força e encerraram sem sinal único.

"Por mais que o IPCA-15 tenha vindo um pouco abaixo do que projetava o mercado, é um patamar ainda extremamente alto, maior desde 1995 para o mês de abril, como o próprio IBGE ressalta. A pressão é grande sobre o BC para que não interrompa, não deixe a porta fechada no ciclo monetário, na semana que vem. Seria algo que o mercado penalizaria, em termos de câmbio e de curva de juros. Com o Focus de ontem e o IPCA-15 de hoje, a porta deve continuar aberta para eventual alta derradeira em junho ou mesmo além, dependendo do contexto interno e externo", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

"Se fizermos balanço dos últimos 45 dias, desde a última reunião do Copom, há fatores do Brasil e de fora que reforçam a necessidade de ir um pouco além, e o IPCA-15 vai nesse sentido, com difusão bem elevada, maior ainda do que em março, com muitos itens subindo ao mesmo tempo. A inércia é forte aqui no Brasil, e há muita pressão de fora", acrescenta o estrategista.

"Esta foi a primeira vez em alguns meses que um número de inflação vem abaixo das expectativas. E, no IPCA fechado de abril, começará um alívio significativo com a bandeira verde e com altas menores nos preços de combustíveis. Ainda que os choques mais severos de preços de energia e alimentação tenham ficado para trás, o cenário para a inflação não está melhorando consistentemente", aponta em nota a Terra Investimentos.

"O IPCA-15 de abril subiu 1,73% no mês, um pouco abaixo das projeções de mercado, alcançando 12,03% em 12 meses e muito provavelmente marcando o pico da inflação no Brasil após o choque de oferta vindo do conflito no Leste Europeu", avalia Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital. "O próximo número de inflação já deve levar em conta a deflação dos preços de energia, reduzidos pelo retorno à bandeira verde por conta da normalização do regime de chuvas", acrescenta o economista, destacando um aspecto que considerou favorável na leitura do IPCA-15 em abril: "inflação de serviços mais baixa, principalmente por conta de alimentação fora de casa e empregados domésticos".

"Essa desaceleração de serviços contribui para aumentar o conforto do BC para fazer o último movimento do ciclo em maio", diz Barenboim, embora reconheça fatores de incerteza que dificultam ao BC o compromisso com determinado caminho para os juros, entre os quais o prosseguimento do conflito na Ucrânia, os <i>lockdowns</i> na China e o ajuste em curso nas políticas monetárias das principais economias.

No noticiário do exterior, a Guide Investimentos destaca, em nota, discurso do presidente da China, Xi Jinping, no qual reiterou intenção de aumentar gastos em infraestrutura, e os "sinais de que as autoridades chinesas estão conseguindo controlar os surtos de coronavírus em Xangai e Pequim".

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