Dólar fecha em forte queda seguindo tendência global de enfraquecimento da moeda

Dólar fecha em forte queda seguindo tendência global de enfraquecimento da moeda

Ibovespa sobe 2,29%, a 123,1 mil pontos, no maior nível desde agosto de 2021

AE

Dólar à vista chegou a romper pontualmente o piso de R$ 4,85 pela manhã

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O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 14, em queda firme no mercado doméstico de câmbio, em sintonia com a onda global de enfraquecimento da moeda americana. Leitura ligeiramente abaixo do esperado da inflação ao consumidor nos EUA não apenas consolidou a perspectiva de que não haverá alta adicional da taxa básica americana em dezembro como insuflou as apostas em corte de juros ainda no primeiro semestre de 2024.

Foi a senha para que investidores corressem para bolsas e moedas emergentes. Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar à vista chegou a romper pontualmente o piso de R$ 4,85 pela manhã, quando registrou mínima a R$ 4,8486. No fim do dia, a moeda recuava 0,93%, cotada a R$ 4,8620 - menor valor de fechamento desde 18 de setembro. As perdas do dólar em novembro agora são de 3,56%.

O real, que costuma se destacar entre emergentes em episódios de apetite ao risco, desta vez apresentou desempenho inferior a de seus pares latino-americanos, os pesos mexicano, colombiano e chileno. Embora possa haver uma postura mais defensiva típica de véspera de feriado, analistas atribuem o fôlego mais curto da moeda brasileira ao aumento de chamado risco fiscal.

As atenções estão voltadas para o relatório final do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentária (PLDO). Deputados e senadores têm até a sexta-feira para propor emendas e há risco de abandono da meta fiscal de déficit primário zero em 2024. A ala política do governo e parlamentares do PT tentam emplacar na LDO déficit primário de 0,75% ou até 1% do PIB no ano que vem.

"As perspectivas fiscais se deterioraram muito com os sinais do governo de falta de compromisso fiscal. Temos essa expectativa de que se altere a meta para um déficit maior durante a tramitação da LDO. É muito difícil ver o dólar abaixo de R$ 4,80 com esse ceticismo do mercado com o fiscal", afirma sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, que atribui a apreciação do real hoje ao comportamento global da moeda americana, na esteira das apostas em fim do ciclo de aperto monetário nos EUA com o arrefecimento da inflação.

Termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY renovou mínimas ao longo da tarde e recuava 1,50%, aos 104,044 pontos, quando o mercado de câmbio local fechou. As taxas dos Treasuries mergulharam. O retorno da T-note de 10 anos caiu mais de 4%, passando a ser negociado na faixa de 4,45%.

Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou estável em outubro em relação a setembro, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,1%). O núcleo do CPI - que exclui preços mais voláteis como alimentos e energia - avançou 0,2% em outubro, também aquém das expectativas (0,3%). Na comparação anual, o CPI dos EUA desacelerou de 3,7% em setembro para 3,2% em outubro, ainda bem acima da meta de inflação de 2% perseguida pelo Federal Reserve.

Monitoramento da plataforma do CME mostra que as chances de manutenção de juros pelo Fed em dezembro passaram da casa de 85% para mais de 95%. Além disso, o mercado voltou a precificar maio de 2024 como o primeiro mês com probabilidade majoritária (60,8%) de corte de juros, substituindo junho do próximo ano. Amanhã, 15, sai o índice de preços ao produtor (PPI) nos EUA em outubro, que pode reforçar o quadro de arrefecimento da inflação.

Bolsa de Valores

Dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos abaixo do esperado para outubro resultaram, desde a manhã, em apetite a risco nesta véspera de feriado no Brasil, com mercados abertos, amanhã, lá fora. Assim, o Ibovespa operou em direção única, positiva, desde a abertura aos 120.410,51 pontos, correspondente à mínima da sessão, e, na máxima, no fim da tarde, foi aos 123.370,35 (+2,46%), o maior nível intradia desde 10 de agosto de 2021, então aos 123.512,77 pontos.

No fechamento de hoje, o índice da B3 mostrava alta de 2,29%, aos 123.165,76 pontos, no maior nível de encerramento desde 3 de agosto de 2021 (123.576,56). Em porcentual, o ganho diário foi o maior desde o último dia 3 de novembro, quando o Ibovespa havia avançado 2,70%.

O giro financeiro desta terça-feira subiu a R$ 35,2 bilhões, um volume que tem se mostrado incomum fora das datas de vencimento de opções sobre o Ibovespa. No mês, o índice sobe 8,86%, com ganho combinado de 2,15% nessas duas primeiras sessões da semana. No ano, o Ibovespa avança 12,24%, mostrando recuperação nas três últimas semanas, em movimento que se estende ao intervalo em curso.

A cereja do bolo, hoje, foi a leitura do CPI dos Estados Unidos, estável em outubro, ante expectativa de leve alta, de 0,1%, no mês. "O dado de inflação reforçou as expectativas de que o Banco Central americano não precisará aumentar mais a taxa de juros, e a reação positiva do mercado foi instantânea", diz João Romar, head de Internacional da InvestSmart XP, referindo-se também ao efeito favorável sobre a curva de juros brasileira, em razão da menor pressão desde o exterior nesta terça-feira.

"A boa notícia é que tanto a inflação cheia quanto o núcleo que exclui alimentos e energia, itens considerados voláteis vieram abaixo das expectativas. Caso o núcleo mantenha essa trajetória baixista até a próxima reunião em dezembro do Fomc o comitê de política monetária do Federal Reserve, o BC dos EUA, a tendência é de não termos mais elevações na taxa de juros nos Estados Unidos", aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Assim, com apetite a risco induzido a partir do exterior na sessão - em meio à perspectiva de fim de ciclo de alta de juros na maior economia do mundo -, apenas seis dos 86 papéis da carteira Ibovespa encerraram o dia em baixa: Suzano (-2,96%), Raízen (-2,35%), Yduqs (-0,70%), JBS (-0,57%), TIM (-0,29%) e Totvs (-0,21%). No lado oposto, Azul (+8,71%), CSN (+8,70%), Vamos (+8,33%), CVC (+7,17%) e Localiza (+6,69%).

Entre as ações de maior peso no Ibovespa, destaque para a principal delas, Vale ON, em alta de 3,10%, à frente de Petrobras (ON +1,15%, PN +1,37%) e também dos grandes bancos (Bradesco ON +2,36% e PN +2,10%; Santander Unit +2,35%; Itaú PN +1,50%).

"A inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos colocou o Ibovespa nos maiores níveis desde agosto de 2021, aos 123 mil pontos, e derrubou o dólar para R$ 4,84 no melhor momento da sessão, com o mercado refletindo uma possível parada na alta de juros nos Estados Unidos e já projetando, também, a possibilidade de cortes nas taxas ainda no primeiro semestre do ano que vem", diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

"O dia foi muito bom para as bolsas, aqui como também no exterior, com a possibilidade de encerramento, de vez, do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, após a leitura do CPI. A chance de que a taxa de juros nos Estados Unidos pare de subir e possa vir a cair antes do que se pensava favorece a liquidez no mundo todo, e traz alívio para emergentes como o Brasil, contribuindo para os negócios com ativos de risco", diz o economista Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos.

"A Bolsa vem numa sequência boa desde a semana passada, com fatores macro, e já estava ficando cansativo dizer o quanto estava barata, vindo dos menores níveis de 'valuation' desde a crise financeira de 2007. Estávamos há praticamente três anos com a Bolsa negociando entre um e dois desvios-padrões abaixo da média histórica de Preço sobre Lucro P/L, apesar da percepção de que o micro era favorável, com as empresas reportando resultados ainda bons", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

Juros

Os juros futuros terminaram a sessão em queda firme, influenciados pela leitura benigna do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos em outubro e seu impacto no mercado de Treasuries, além do dado mostrando fraqueza do setor de serviços em setembro. As taxas fecharam a sessão nos menores níveis em dois meses, com a precificação de Selic no fim do ciclo voltando a furar o nível "psicológico" de dois dígitos.

As principais taxas encerraram nos pisos desde meados de setembro. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,555%, de 10,722% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,49% para 10,28%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,41% (10,62% ontem) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,82% (10,98% ontem).

A dinâmica da curva se estabeleceu logo pela manhã. Na abertura, a inesperada queda do volume de serviços em setembro, de 0,3%, já colocava as taxas para baixo, mas o movimento maior viria depois das 10h30, quando saiu o CPI. Tanto o índice cheio, que ficou estável, quanto o núcleo, com alta de 0,2%, vieram abaixo do esperado (0,1% e 0,3%). Em 12 meses, o CPI subiu 3,2%, desacelerando ante o aumento de 3,7% de setembro, enquanto o núcleo arrefeceu a 4% no mês passado, 4,1% em setembro.

"Os resultados vieram ligeiramente abaixo do esperado e com composição benigna, reforçando a ideia de que o Fed encerrou o ciclo de alta de juros e animando apostas na antecipação do ciclo de cortes", afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Nesse contexto, os retornos dos Treasuries tiveram expressiva redução, com a taxa da T-Note de dez anos já voltando a rodar abaixo de 4,50%. Vale lembrar que o ambiente externo, em especial o aumento do juro longo nos Estados Unidos, foi destaque entre os fatores negativos no balanço de risco do Copom no comunicado da reunião de novembro, e também nos discursos recentes dos dirigentes.

De acordo com Rostagno, nesta tarde, a curva projetava integralmente corte de 50 pontos-base para a Selic nas reuniões de dezembro e janeiro, mas para março a precificação de -45 pontos ainda indicava alguma chance de desaceleração no ritmo para 25 pontos. De todo modo, a projeção de Selic ao fim de 2024 (9,94%) voltou a ficar tecnicamente abaixo de dois dígitos, após rodar nas últimas semanas no patamar de 10,50%.

Ainda no exterior, o petróleo zerou no meio da tarde a alta inicial pós-CPI, diante das expectativas de que a guerra do Oriente Médio não seja tão duradoura quanto o esperado no início do conflito.

Internamente, a percepção de desaceleração da atividade, reforçada hoje pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), é vista como fator de conforto ao Banco Central na sequência do alívio da Selic. A queda de 0,3% no volume em setembro ficou perto do piso das estimativas (-0,4%), cuja mediana apontava alta de 0,4%.

"A maior parte das atividades de varejo pesquisadas tiveram desempenho negativo, o que indica que o fôlego do setor está bem curto. Portanto, os dados de setembro acendem o sinal de alerta e aumentam a probabilidade de um desempenho negativo no PIB do 3º trimestre de 2023", avaliam os economistas do Banco Inter, em relatório.

Com o CPI e a PMS favorecendo posições aplicadas, o mercado deixou hoje em segundo plano a cautela com o risco de mudança da meta fiscal em 2024. O presidente Lula até se reuniu com a equipe econômica para tratar do tema, mas de acordo com a apuração do Broadcast Político, o encontro foi inconclusivo.


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