CNI reduz para 1,2% projeção de expansão e vê freio de mão na economia
Desempenho da indústria ficará próximo da estabilidade neste ano, pressionado pela queda da confiança, demanda e crédito
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Após alta de 2,9% no ano passado, a economia brasileira deverá ter uma expansão de 1,2% em 2023. E a indústria vai crescer apenas 0,1%, ante alta de 1,6% em 2022. As previsões fazem parte do Informe Conjuntural – 1º trimestre de 2023, divulgado nesta quarta-feira (12), pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), resultado de tudo que é produzido e do serviço do país, foi revisado de 1,6% para 1,2%. Segundo a instituição, os dados mostram o efeito da taxa de juros na economia. A taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75%, desde agosto do ano passado.
“As taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica, e por consequência a industrial, ao longo do ano”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Segundo a instituição, a expectativa é que os juros comecem a diminuir a partir de agosto.
Apesar disso, a estimativa é que a Selic será mantida em patamar elevado, com efeitos sobre o crédito, os investimentos, o consumo e o comércio. A previsão da CNI é de que o Brasil encerre o ano com inflação em 6% e Selic a 11,75%.
A perda de tração na atividade econômica neste ano também ocorre pela queda do ritmo de crescimento do setor de serviços. A expansão de 1,2% do PIB será financiada em grande parte pelo consumo das famílias, como ocorreu nos anos anteriores. Os dados apontam também para o aumento da massa salarial ao longo do primeiro semestre, mas com expectativa de desaceleração do avanço do emprego.
A indústria ficará estagnada em 2023, com um crescimento de 0,1%. A queda da confiança colocou os investimentos e as contratações em compasso de espera. Além disso, um dos principais problemas que preocupa o empresário industrial é o enfraquecimento da demanda, provado pelos juros altos, elevado grau de inadimplência e de endividamento das famílias.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, explica que a queda na demanda já é percebida na queda do faturamento da indústria. “Observamos a redução da demanda, não apenas do consumidor final, mas entre empresas, como menor consumo de insumos industriais e bens de capital, por exemplo”, explica o economista.
A indústria foi o segundo principal responsável pelo crescimento econômico em 2022. Neste ano, os dados mensais da produção física industrial, que contemplam a indústria de transformação e a extrativa, apontam que o desempenho fraco da atividade industrial deve se manter ao longo de 2023.
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Concessões de crédito
As concessões de crédito vão desacelerar de forma significativa em 2023. Para as empresas, o crescimento acumulado entre março de 2022 e fevereiro de 2023 foi de 7,9% em termos reais, abaixo do crescimento acumulado dos 10,8% no mesmo período anterior.
Até o fim de 2023, o ritmo de crescimento deve diminuir fortemente e, em termos reais, deve haver retração de 1,9% das concessões de crédito. De acordo com o economista da CNI, Marcelo Azevedo, alguns fatores devem contribuir para que as concessões de crédito às empresas continuem desacelerando em 2023.
“Menor demanda por crédito, por causa do menor ritmo de crescimento da atividade econômica; taxa de inadimplência alta; aumento de provisões dos bancos e restrição no critério de concessão de crédito, inclusive em razão de eventos adversos de grandes empresas varejistas; e Selic ainda elevada, encarecendo o custo do crédito”, explica Azevedo.
Setor de serviços
A previsão de crescimento do PIB do setor de serviços é de 0,9% em 2023, incluindo o comércio. Ocorre que parte dos avanços ocorridos em 2022 recompuseram perdas sofridas durante a pandemia e, apesar de serem esperadas variações positivas em 2023, elas não devem acontecer na mesma intensidade de 2022.
Para 2023, é esperada continuidade do avanço dos serviços prestados às famílias, acompanhando a recuperação do mercado de trabalho, em particular do rendimento. Mas os serviços de transporte e de informação e comunicação não devem contar com novos impulsos.
No comércio, o alto grau de inadimplência e de endividamento das famílias e os efeitos restritivos da política monetária também são grandes desafios, dificilmente superados em 2023. Segundo o gerente de Análise Econômica da CNI, as previsões são de retração do volume de vendas, alinhado ao enfraquecimento da demanda.
PIB da agropecuária deve crescer 11,6% em 2023
Agropecuária terá uma contribuição positiva para o crescimento do PIB. Para 2023, a previsão é de um crescimento de 11,6%, influenciado pela forte expansão da produção vegetal e pela normalização do forte avanço de custos de 2022.
Massa de rendimento
A massa de rendimento real deverá manter o elevado patamar ao longo de 2023, mas sem os fortes impulsos que caracterizaram 2022, como a recuperação das ocupações no pós-pandemia e forte queda da inflação para o rendimento. A previsão para o fim de 2023 é de uma massa de rendimento real apresente crescimento de 6,7% em relação 2022, sustentando o consumo das famílias.
“O elevado percentual de crescimento projetado para 2023 é consequência do baixo nível da massa de rendimento real no primeiro semestre de 2022, afetando a comparação com os valores esperados para 2023 que carregam os efeitos da forte recuperação observada no segundo semestre de 2022”, explica Azevedo.
Contas do setor público
O setor público consolidado – que engloba governos federal e regionais (estados e municípios) e suas estatais – deve voltar a ser deficitário em 2023, após apresentar superávits primários em 2021 e 2022. A piora fiscal é esperada tanto na esfera federal como na regional.
No lado das receitas do governo federal, o ano de 2023, diferentemente de 2022, não será marcado por arrecadações atípicas relacionadas a exploração de recursos naturais e privatizações. Adicionalmente, a desaceleração esperada na atividade econômica nos próximos meses também constitui risco para a dinâmica da arrecadação federal, que deve apresentar queda real em 2023.
O aumento das despesas e a queda das receitas devem levar o governo federal a registrar déficit primário de 1,0% do PIB, em 2023, contra superávit de 0,6% do PIB, em 2022.