Dólar fecha no maior valor desde 9 de fevereiro; Ibovespa emenda 3ª perda
Juros futuros fecharam a segunda-feira em forte queda
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O Ibovespa manteve sinal moderadamente negativo ao longo da maior parte da tarde, após ter caído na casa de 1% mais cedo, sem conseguir acompanhar, na etapa vespertina, o desempenho de Nova York, em dia de forte queda nos rendimentos dos Treasuries, especialmente no vencimento de 2 anos, mais sensível à perspectiva de curto prazo para os juros de referência dos Estados Unidos, os Fed funds.
Em Nova Iorque, a correção nos juros de mercado americanos impulsionou em especial as ações de "crescimento", mais expostas à política monetária do Federal Reserve e que estão concentradas no Nasdaq, que subiu hoje 0,45%. O índice tecnológico perdeu força em direção ao fechamento da sessão, em que Dow Jones e S&P 500 não conseguiram segurar a recuperação e cederam, respectivamente, 0,28% e 0,15%. O quadro ao final do dia foi misto: por um lado, algum alívio, inclusive quanto ao espaço ainda livre para o aumento dos custos de crédito na maior economia do globo; por outro, receio cada vez maior de que os EUA estejam se aproximando de recessão.
As ponderações quanto aos efeitos do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), importante financiador de empreendimentos do setor tecnológico, foram contrapostas à imediata reação das autoridades americanas e do sistema de salvaguardas para evitar contágio financeiro, o que contribuiu para acalmar um pouco as bolsas americanas nesta abertura de semana.
Aqui, o Ibovespa não acompanhou a melhora de humor observada na maior parte da tarde, assim como foi o caso também nas principais bolsas europeias, com perdas que chegaram à casa de 3% (Frankfurt) no fechamento desta segunda-feira.
Na B3, o índice de referência encerrou a sessão em baixa de 0,48%, a 103.121,36 pontos, entre mínima de 102.254,72, menor nível intradia desde 16 de dezembro, e máxima de 103.906,78, saindo de abertura aos 103.607,98. O giro financeiro foi de R$ 26,8 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa cai 1,73% e, no ano, cede 6,03%. Hoje, renovou o menor nível de fechamento de 2023 - também a menor leitura desde 16 de dezembro. Foi a terceira queda consecutiva para o índice da B3.
"Para garantir que não haja uma quebra em cadeia de diversas empresas que mantinham seus depósitos no Silicon Valley Bank, o Fed por intermédio do equivalente ao nosso FGC (Fundo Garantidor de Crédito) assegurou a possibilidade de saque pelos clientes do banco", observa em nota Ricardo Veles, CIO da Futurum Capital.
"Respiro veio com o anúncio do Fed e do governo americano de que todos os depósitos de clientes de bancos em intervenção serão cobertos, e de que será criada uma linha de crédito com base em garantias de ativos líquidos, mas marcados a valor de face - ou seja, eliminando o efeito de marcação a mercado nos ativos, que poderia trazer mais temor ao mercado", aponta Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.
"O mercado aqui chegou a esboçar uma reação hoje, muito por conta da queda dos juros aqui e lá fora. Os bancos regionais americanos são ainda um fator de cautela, após a quebra do SVB. Mas a situação resultou hoje em percepção, talvez um pouco precipitada, de que o Fed pode ser mais flexível (com relação à elevação dos juros americanos e, por consequência, dos custos de crédito)", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, observando que, na Europa, as bolsas tiveram sessão bem mais negativa, na contramão do observado em Nova York nesta véspera de divulgação de novos dados sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos - em semana que antecede a deliberação sobre juros, nos EUA e no Brasil, no dia 22.
O efeito que o colapso do SVB terá sobre o Fed divide opiniões, mas já se começa a construir o entendimento de que o BC americano será levado a dosar o ritmo de alta de juros logo à frente. "Os juros estavam muito baixos no passado, o que resultou em excesso de liquidez. Esse fato (colapso do SVB) serviu para abrir um pouco os olhos do Fed, para que não ocorra o que se viu em 2008, com o Lehman Brothers. A reação foi tomada de forma rápida agora, logo no fim de semana, de forma a evitar que não se transforme em risco sistêmico", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Para a TD Securities, a crise no Silicon Valley Bank torna improvável que o Federal Reserve opte por um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros na reunião deste mês, na próxima semana, mesmo com os dados de inflação e mercado de trabalho nos EUA favorecendo uma alta dessa proporção. Assim, consolida-se a percepção de que o Fed poderá elevar em no máximo 25 pontos-base a taxa de juros na próxima semana, após recentes comentários "hawkish" de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que haviam dado impulso ao pensamento de que o Fed viria agora com 50 pbs.
Além disso, as chances precificadas no mercado de um relaxamento monetário do Fed até o final deste ano dispararam, em meio às repercussões da quebra de SVB e Signature Bank, que desperta cautela quanto a uma eventual crise bancária nos Estados Unidos. Conforme monitoramento do CME Group, a probabilidade de que os juros básicos do Fed cheguem a dezembro abaixo do nível atual (de 4,50% a 4,75%) atingiu 94,3% no início da tarde de hoje.
Aqui, a curva do DI acompanhou o movimento de descompressão dos juros americanos, favorecida também pela expectativa para o anúncio do arcabouço fiscal que, se bem recebido, pode abrir caminho para o início do processo de cortes da Selic, hoje em 13,75%. Assim, na B3, ações dos setores de varejo e construção, mais sensíveis a juros, como Via (+12,09%), Magazine Luiza (+9,41%), MRV (+7,31%) e Petz (+6,54%) lideraram os ganhos hoje, entre os componentes do Ibovespa. No lado oposto, destaque para São Martinho (-5,81%), 3R Petroleum (-5,40%) e Dexco (-5,36%).
O índice de consumo fechou o dia em alta de 0,73%, enquanto o de materiais básicos, que reúne ações de commodities, cedeu 0,71%. Petrobras ON e PN caíram hoje 3,17% e 3,16%, enquanto Vale ON subiu 0,41%. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram nesta segunda-feira a 1,20% (Itaú PN) no fechamento.
Nos Estados Unidos, "a intervenção enérgica (para conter os efeitos do colapso do SVB) parece ter acalmado os investidores. Dito isso, a grave má administração da exposição à taxa de juros, apresentada pelo SVB, claramente levanta questões sistêmicas sobre o setor bancário nos Estados Unidos, e a possibilidade de que outros bancos venham a seguir o mesmo caminho", diz Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.
Com a queda de Silvergate, Signature e SVB nos últimos dias, as autoridades dos EUA começaram a introduzir iniciativas para proteger os depósitos. A quebra do Silvergate e do Signature é considerada particularmente grave para os ativos digitais, na medida em que as duas instituições operavam redes de pagamentos em tempo real para a indústria cripto, auxiliando no fluxo de dinheiro de e para o setor. Muitas empresas de criptoativos agora estão procurando bancos fora dos EUA, especialmente na Suíça e nos Emirados Árabes Unidos, reporta a Bloomberg.
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Dólar
O dólar abriu a semana em alta firme no mercado doméstico de câmbio e fechou no maior nível em mais de um mês, alinhado à onda de fortalecimento da moeda americana frente a pares emergentes do real com aumento da aversão ao risco no exterior. Apesar da ação rápida de autoridades americanas para assegurar a solidez do sistema financeiro, com linha de redesconto a bancos e garantia a depositantes, a quebra do banco Silicon Valley Bank (SVB) trouxe de volta o fantasma da recessão nos EUA.
Investidores não apenas começaram a colocar em xeque a possibilidade de nova alta 25 pontos-base da taxa básica dos EUA neste mês como já projetam redução dos juros americanos ainda neste ano. A taxa da T-note de 2 anos caiu dois dígitos, abaixo de 4%. Por aqui, a perspectiva de queda da taxa Selic ainda neste primeiro semestre - que estava no radar dos agentes em razão da deterioração do mercado de crédito - ganhou ainda mais corpo.
Segundo analistas, a trinca formada por limitação da exposição a divisas emergentes, perspectiva de taxa Selic menor e temores de deterioração da atividade doméstica acabou abalando o real. A moeda brasileira, que costuma apanhar mais em dias negativos no exterior, hoje não liderou as perdas entre pares, papel que coube ao peso mexicano, com desvalorização superior a 3%.
Depois de ensaiar uma escalada mais forte na primeira hora de negócios, quando esboçou correr até R$ 5,30 ao atingir máxima a R$ 5,2828, o dólar se acomodou por volta de R$ 5,23 no fim da manhã, em linha com o exterior. Ao longo da tarde, a divisa voltou a ultrapassar o nível de R$ 5,25 e encerrou a sessão em alta de 1,16%, cotada a R$ 5,2688 - maior valor de fechamento desde 9 de fevereiro (R$ 5,2788).
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, a taxa de juros no Brasil e em outros mercados emergentes atingiu seu pico e o mercado de moedas já especula em torno do início de um afrouxamento monetário. "No caso do Brasil, isso é ainda mais claro. Antes do evento do SVB, o mercado já se precificava corte de juros antecipado. E, com o que aconteceu nos EUA, passou a precificar redução ainda maior, o que se reflete no valor da moeda", afirma Oliveira, que vê início de corte da taxa Selic em junho, uma vez que "as condições financeiras estão muito mais apertadas após algumas empresas do varejo apresentarem problemas no balanço".
O economista-chefe do Fibra ressalta que o Federal Reserve agiu rápido para evitar danos maiores ao sistema financeiro em razão da quebra do SVB, o que deve levar o mercado a se reequilibrar em alguns dias. "Essa crise não será prolongada como vimos em 2008 e 2009 com o evento subprime. Como uma acomodação, o dólar deve permanecer no mesmo 'range' (entre R$ 5,00 e R$ 5,250)", afirma.
Lá fora, com perspectiva de fim iminente do aperto monetário nos EUA e aposta em corte dos Fed Funds neste ano, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - caiu quase 1%, e rompeu o piso de 104,000 pontos. A moeda americana também recuou na comparação com divisas de países exportadores de commodities que não se enquadram na categoria de emergentes, como dólar australiano e canadense.
O sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, afirma que os efeitos da alta da taxa de juros pelo Fed se fazem sentir na economia e há temores de que haja uma deterioração mais forte dos mercados de crédito, levando a um efeito cascata que deságue em uma recessão. "Isso provocou uma forte aversão ao risco no mercado, já revertido em parte pela ação rápida das autoridades americanas. Mas aquele discurso do Fed de alta de juros não vai se sustentar e isso levou a uma queda forte do DXY", afirma Izac.
Segundo o sócio Nexgen Capital, parte da depreciação do real hoje também se deve a um temor de contágio e piora da atividade do Brasil, que tem a maior taxa real de juros do mundo. "Essa questão do crédito também já preocupa aqui dentro. Há temor de que empresas e bancos brasileiros digitais de menor porte possam ser atingidos. Isso gera um movimento de 'risk off' que ajuda a explicar a desvalorização do real hoje", afirma.
Juros
Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 13, em forte queda, refletindo a reprecificação das apostas de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tendo ainda como pano de fundo o risco de que uma possível crise no mercado de crédito desemboque numa recessão após o colapso de dois bancos americanos na semana passada. Mesmo com as intervenções do Federal Reserve para estancar os efeitos no sistema bancário, o mercado viu o evento como um sinal de alerta para as ações dos bancos centrais. Internamente, contribuiu ainda para o alívio nos prêmios de risco a expectativa pelo novo arcabouço fiscal que, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está pronto, à espera do aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse contexto, o mercado ampliou significativamente as apostas para o ciclo total de afrouxamento monetário, agora em 300 pontos-base.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,00%, de 13,15% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 terminou a 12,16%, de 12,36% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 12,64% para 12,48% e a do DI para janeiro de 2029, de 13,04% para 12,88%.
O movimento de realização de lucros visto na sexta-feira hoje não conseguiu avançar, com as taxas operando em baixa desde a abertura, na medida em que a curva dos Treasuries ia afundando. Além de intervir no Silicon Valley Bank (SVB) e no Signature Bank, o Fed anunciou ontem um programa de emergência a outras instituições para tentar conter os efeitos do colapso sobre o sistema bancário. A decisão foi bem recebida, mas não deixou de ser lida como um alerta sobre o risco de contágio, o que fez "subirem no telhado" as apostas de altas de juros nos Estados Unidos. Mais do que zerar as expectativas de aperto de 50 pontos-base no encontro de março, o mercado passou a considerar a possibilidade de manutenção da faixa dentre 4,50% e 4,75%. Ao mesmo tempo, dispararam as chances de redução da taxa até o fim do ano.
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio destaca que eventos deste tipo podem ter desdobramentos "muito acelerados" e, muitas vezes, não totalmente controláveis, em mercados mais dinâmicos, como nos Estados Unidos. "O discurso hawkish do Fed deve ser revisado. Se o quadro piorar, não dá para ser credor em larga escala e, com isso, pode-se ter de usar a política monetária pelo menos afrouxando o discurso", afirma.
Uma mudança no juro dos EUA americana teria impactos ao redor do globo e, por isso, no Brasil o mercado agora espera um ciclo mais amplo de cortes da Selic, chegando a 300 pontos-base, ante 245 pontos na sexta-feira. De acordo com a BlueLine Asset, a curva segue apontando chance de início do processo no Copom de maio, entre 30% e 35% para uma redução de 25 pontos, sendo de 65% a 70% para estabilidade em 13,75%. Para a reunião da semana que vem, o consenso é de manutenção com apenas 3 pontos-base de queda precificados. Para o fim de 2023, aponta taxa de 12,25% e para o fim de 2024, entre 11% e 10,75%.
Se o novo arcabouço fiscal realmente agradar, como previu a ministra do Planejamento, Simone Tebet, haveria condições para que o Copom na reunião da semana que vem adapte sua comunicação, trabalhando o espírito do mercado com antecedência. Haddad disse hoje que, do ponto de vista da sua pasta, não falta nada para apresentar a proposta. Segundo apurou o Broadcast, ele deve tornar o texto público até terça-feira da semana que vem, 21. Faltam apenas duas reuniões oficiais para que o documento seja formalmente anunciado: com o presidente Lula e com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Em evento pela manhã, Haddad disse que vê espaço para reduzir os juros no Brasil mesmo diante de um cenário internacional "turbulento", referindo-se à quebra do SVB nos Estados Unidos. "Diria que tem uma 'gordura' no Brasil que permite a nós - tomando as providências que estão sendo tomadas, e que vêm sendo reconhecidas pelo Banco Central nas atas que ele divulga -, um espaço que o mundo não tem", afirmou.