Estiagem e inundações: especialista explica os contrastes no clima do RS
Meteorologista da MetSul, Estael Sias, explica as mudanças drásticas enfrentadas num só mês no Estado

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O Rio Grande do Sul está acostumado aos extremos do seu clima e começou a semana com parte do estado torcendo pela vinda de mais chuva, que não foi abundante no início de março em muitas cidades do interior, enquanto que no Litoral Norte a realidade era totalmente distinta com a região os efeitos de um episódio de excesso de chuva.
A chuva, embora frequente no estado nos últimos dias e com altos volumes em diversas localidades, não acaba com a estiagem que fez com que 74,24% dos municípios do estado até agora solicitassem pedidos de situação de emergência, segundo a Defesa Civil estadual.
As águas em excesso, com chuvas intensas que interditaram ruas e estrada, alagaram cidades e causaram deslizamentos de terra e queda de barreira se concentraram no setor Nordeste do território gaúcho, afetando principalmente o Litoral Norte, Vale dos Sinos, Vale do Caí, Vale do Paranhana e municípios mais a Leste da Serra.
Uma pessoa foi encontrada morta, dentro de seu automóvel, após enxurradas em Terra de Areia. Rodovias como a ERS 115m, que liga Taquara a Gramado, e a Rota do Sol (ERS 486) sofreram quedas de barreiras.
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Por que isso acontece no RS?
Segundo a meteorologista da MetSul, Estael Sias, mesmo em períodos de La Nina, estiagem e até seca no Estado, eventos isolados podem gerar situações de excesso de chuva. “O Nordeste do estado, pela sua topografia e posição geográfica com morros, maior cobertura vegetal e a proximidade da costa, é a área do estado na climatologia histórica em que mais costuma chover no verão com episódios de precipitação excessiva ou extrema em quase todos os verões”, explica.
A chuva extrema foi resultado de um centro de baixa pressão de trajetória atípica que se formou no Norte da Argentina na última semana, foi para o Oeste e o Sul gaúcho, depois avançou para o mar na costa do estado e migrou para o Litoral Sul de Santa Catarina. Finalmente, o sistema avançou do mar pro continente no que meteorologistas chamam de “baixa retrógrada”, comportamento pouco comum e que costuma ocorrer mais em anos de estiagem com menor divergência de vento na atmosfera.
Com o fim iminente do evento do fenômeno La Niña no Pacífico, que já dura três anos e é responsável por sucessivas estiagens, os próximos meses terão aumento significativo dos índices de precipitação com risco maior de extremos de chuva no fim do outono, no inverno e primavera, quando não se descarta o retorno após anos do fenômeno El Niño.
“Assim, cenas de enchentes como estamos vendo agora no litoral são prováveis mais tarde neste ano em outras regiões do estado e que no momento contam os prejuízos da estiagem nas lavouras”, alerta a meteorologista da MetSul. No curto prazo, contudo, a chuva deve ser escassa. Para os próximos dez dias, a previsão da MetSul é de pouca chuva na maior parte do estado e muito calor, o que vai trazer pancadas apenas isoladas.