"É complicado conhecer o rio Gravataí quando ele está morrendo", diz moradora da margem
Nível do curso d'água segue próximo do zero na régua da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Gravataí
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O “pulo” de alguns peixes no rio Gravataí, um dos principais mananciais da região Metropolitana, ultimamente tem sido de apreensão para alguns moradores de seu entorno. “Eles estão buscando oxigênio”, conta a aposentada Naudília Silva da Silva, que vive em uma casa à beira do curso d'água há dez anos, com seu companheiro, o pescador profissional Fernando Hoffmann. Eles moram no bairro Mato Alto, em Gravataí, a cerca de 100 metros de onde a Corsan construiu uma contenção há poucos dias, a fim de reduzir os efeitos da estiagem.
Na manhã de hoje, Naudília estava na beira da água, com seu cão, enquanto Hoffmann circulava pelo leito com um barco a motor. “É complicado conhecer o rio assim, quando ele está morrendo”, desabafa ela.
Estiagens mais severas já foram vistas em outros anos na área, mas a de agora produz efeitos gritantes no atual curso. A área onde ela e o animal estavam assentados geralmente é coberta por água, informação atestada pelas pequenas conchas e plantas subaquáticas que agora são visíveis na terra seca. Facilmente, afirma a moradora, o rio já desceu em torno de cinco metros.
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“Normalmente, o rio corre lá naquele barranco”, aponta ela para uma raiz de árvore, mais de dez metros adiante. O trajeto do Gravataí ao longo do município é um dos mais críticos, aponta o Boletim de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí. Nesta quarta-feira pela manhã, a régua na Estação de Tratamento de Água (ETA), mantida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), marcava um centímetro pelo terceiro dia seguido. Nos quatro dias anteriores à última terça-feira, em nenhum a cota ultrapassou dois centímetros.
A esperança reside na chuva. Também na manhã de hoje, a fina garoa trouxe algum alento, ainda que insuficiente. Em períodos normais, é possível pescar traíras e até dourados nas águas turvas. Mas este não é um destes momentos.
A captação de água para os produtores rurais continua suspensa desde 24 de dezembro do ano passado, mas situações em flagrante de supostos desvios, como o sistema de bombeamento descoberto na semana passada em uma fazenda arrozeira na região de Águas Claras, em Viamão, mostra que o trabalho de conscientização é longo.
De volta a Gravataí, no popular Balneário Passo das Canoas, do final da tarde de segunda-feira, até ao menos o início da tarde desta quarta, o nível do rio Gravataí caía um centímetro a cada quatro ou cinco horas, de acordo com a régua de medição da Sema.
Enquanto isto, no Mato Alto, Laudília aponta que, por enquanto, a obra emergencial da Corsan não surtiu efeito. “O rio continua baixando. Dá muita tristeza observar uma situação destas. Estamos torcendo para que as chuvas retornem”, comenta ela.