Pacientes relatam falta de profissionais e insumos no Hospital Universitário em Canoas
Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) reconheceu situação e trabalha para retirada do município como gestor pleno da instituição
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Denúncias e relatos com relação a falta de profissionais e de insumos básicos, como antitérmicos, compressas e até mesmo papel higiênico, no Hospital Universitário de Canoas, motivou o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) a elaborar um documento entregue no início desta semana ao presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores da cidade, o vereador Gilson Oliveira, com a recomendação para a imediata desabilitação do município da condição de gestor pleno dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o vice-presidente do (Simers), Marcelo Matias, o mesmo documento deve ser encaminhado nesta quinta-feira (26) ao Ministério Público Estadual, Governo do Estado, à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, aos Conselhos de Saúde do Município e do Estado, bem como ao Governo Federal.
“Já iniciamos um processo para a imediata adoção de providências que viabilizem a retirada da gestão plena da Saúde do município, pois Canoas perdeu as condições mínimas de garantir uma assistência com segurança e qualidade à população”, afirma o vice-presidente do Simers. Conforme Matias, a medida seria repassar a administração da saúde ao Governo do Estado, o qual faria a gestão dos recursos oriundos do SUS, enquanto o poder municipal reorganizaria as finanças e cumpriria com os pagamentos devidos aos profissionais de saúde. “Do jeito que a Saúde de Canoas está, não pode mais ficar. É inaceitável que um hospital terciário como o HU não tenha paracetamol, antibióticos, antiinflamatórios ou soro fisiológico. Temos que chamar a atenção para o que está acontecendo”, ressalta ele, ressaltando que é urgente uma intervenção do Estado.
O foco do problema seria no setor de pediatria e na Emergência Pediátrica do HU, por conta da grande demanda, escalas incompletas de profissionais e sem materiais suficientes. “O HU é referência para casos de alta complexidade e de alto risco e não há condições mínimas de atendimento. Não há médicos pediatras suficientes no plantão. Cirurgias não podem ser executadas sem a existências de compressas. Isso é extremamente grave! Os médicos estão se desligando do hospital por conta da falta de condições mínimas de trabalho, porque estão comprando medicação com dinheiro do próprio bolso”, relata o vice-presidente do Simers, que informou que as cirurgias eletivas foram canceladas no HU a partir desta quinta-feira.
Relatos semelhantes também chegaram ao conhecimento do SindiSaúde. O presidente do Sindicato, Júlio Jesien, informou que é o segundo mês que os profissionais estão com salários atrasados e que exames não estão sendo pagos pela gestora. “Falta tudo. Compressas, papel higiênico, profissionais. São inúmeras as denúncias que chegam para nós. A gestora assumiu em janeiro e temos a informação que, de lá para cá, houve apenas um depósito do valor do FGTS.”
O vereador e presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Canoas, Gilson Oliveira, disse que a gestora visivelmente está tendo problemas em cumprir com os compromissos acordados no contrato. "Eles argumentam que deve ser reavaliados valores, pois estes encontram-se defasados. Entretanto, o que se discute é que a população precisa de atendimento. É preciso que se retome o serviço de forma imediata. Isso é prioridade e a empresa já foi notificada, pois a população é a mais prejudicada. Nós, como comissão de saúde, estamos sempre acompanhando isso de perto. E, neste caso, a pediatria do HU estava com falta de profissionais e insumos sim. Ficou definido que a terceirizada deve retomar as contratações e deve assumir compromisso e a efetivação do contrato.”
O Ministério Público de Canoas informou que recebeu essa semana duas denúncias anônimas, devidamente protocoladas, mas com poucas informações. Esclarece ainda que está reunindo mais informações. No momento, não há mais dados a fornecer, porque recém iniciou a apuração dos fatos. O Governo do Estado informou que o município tem gestão plena sobre a saúde. O Município de Canoas não foi notificado pelo Simers, porém se reuniu com diretores da Fundação Educacional Alto Médio São Francisco (Funam) – administradora do Hospital Universitário (HU) na terça-feira e quarta-feira para tratar sobre o tema.
Na terça-feira, o prefeito em exercício de Canoas, Nedy de Vargas Marques, disse que a Prefeitura de Canoas está cumprindo com todas as suas obrigações previstas em contrato. Durante a reunião, Nedy determinou que a Funam cumpra com suas responsabilidades contratuais. “A saúde é uma área prioritária para nós. Por isso, estamos empenhados em resolver os problemas e atender às necessidades dos canoenses. O nosso objetivo é um só: um serviço de saúde de qualidade. Salvar vidas e cuidar das pessoas são os pilares de nosso governo”, destacou o prefeito. A Funam salientou que necessita de adequações nos limites do contrato em vigência, firmado em 27 de janeiro de 2022, e se comprometeu em restabelecer os serviços e normalizar os estoques. Nedy orientou os secretários presentes na reunião a criarem um grupo de trabalho para analisar o pedido da Funam. Quarta-feira uma nova reunião entre Administração municipal e Funam foi realizada a portas fechadas. A Reportagem fez contato para obter mais informações, mas não obtivemos sucesso.