Acampado há 15 dias, morador da Ilha das Flores fala em apreensão e reconstrução

Acampado há 15 dias, morador da Ilha das Flores fala em apreensão e reconstrução

Edson Lopes teve a casa destruída pela força da enchente, enquanto carregava itens com água na altura do peito

Felipe Faleiro

Edson Lopes teve a residência destruída pela enchente de cerca de 15 dias atrás

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A manhã desta quinta-feira começou com clima nublado, porém as nuvens deram lugar ao sol nas horas seguintes e o calor tomou conta da Grande Porto Alegre. Na região do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, algumas ruas ainda estão inundadas, principalmente trechos das avenidas Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, e Nossa Senhora Aparecida, nos Marinheiros. Os moradores destas localidades buscam retomar suas rotinas da forma como é possível, observando o clima e buscando se proteger.

Enquanto isso, a Prefeitura divulgou os locais de votação para a eleição de conselheiros tutelares no bairro, além de outros seis da zona norte, que tiveram o pleito adiado em duas oportunidades em razão das cheias do Guaíba. O nível do curso d’água na régua de medição do Centro Histórico, medido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) alcançou 2,07 metros, aumento de cerca de dez centímetros em relação ao dia anterior, e ainda acima da cota de cheia, que é de 1,80 metro no cais.

O pescador Edson Lopes, morador da Ilha das Flores, disse que está há 15 dias acampado em uma barraca perto da BR 290, assim como fizeram alguns amigos desde a grande cheia. “Estou preocupado, e não pretendo sair daqui, já que a promessa é voltar a água toda de novo”, comentou ele. A casa onde ele mora há cerca de 20 anos está destruída, com todos os itens revirados e teias de aranha por toda parte. Rachaduras estão visíveis em diversos pontos, e ao menos uma das portas foi arrancada pela inundação.

Na ocasião da enchente, Lopes afirmou ter deixado a casa, cuja margem fica rente à foz do Jacuí e em cujo terreno moram familiares, com água na altura do peito, carregando freezers e subindo camas com tijolos. Ele tem três filhos, que moram distantes, e disse ter recebido mais ajuda dos amigos, que estavam próximos no momento da tormenta. Sem demonstrar ressentimentos, Lopes conta que não pode sair do local. “Se chover forte de novo e inundar, vou precisar encontrar um jeito de reconstruir”, comentou ele, que fez sozinho a primeira casa.

“Também não posso deixar isto aqui agora. E se levarem minhas coisas?”, questiona o pescador. Conforme ele, à noite, o grupo de amigos acampados em cerca de quatro a cinco barracas confraterniza na área. De dia, um aparelho de rádio o faz companhia. Lopes ainda comenta esperar a visita dos vistoriadores da Prefeitura, que deverão verificar a casa e decidir sobre a necessidade de auxílio. “Já me inscrevi no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e estou aguardando retorno do benefício”, afirmou ele, se referindo aos cartões de retirada de valores, exclusivos aos atingidos pela enchente e disponibilizados pela Prefeitura.


Correio do Povo
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