Moradores tentam se restabelecer com ajuda de doações em Roca Sales
Voluntários auxiliam na distribuição de comida e separação de itens
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O CTG Tropeiros da Amizade, em Roca Sales, está cheio de roupas doadas. Pilhas de sapatos ficam no chão e Rosane Lemes, de 54 anos, garimpa. Ela procura um par de tênis pequeno para seu neto de um ano e meio. Mesmo numa cidade conhecida por uma forte indústria de calçados, poucos na pilha de doações são para bebês e Rosane tem dificuldade de encontrar os pares dos sapatinhos que encontra.
Ela mora na parte alta da cidade e está a salvo, agora abrigando o filho, a nora e os quatro netos, que estão em casa. “Meu filho perdeu tudo. A gente que é mãe tem que agasalhar todo mundo, mas graças a Deus eles conseguiram fugir”, conta, aliviada. Rosane carrega, com dificuldade, duas sacolas grandes. “Eu peguei calçados, toalha, brinquedo para as crianças, roupa e comida”, enumera. O lodo tomou conta de tudo e a família precisa pegar o que consegue para sobreviver.
Rosane coleta doações para a família de seu filho, que está hospedada em sua casa. Foto: Fabiano do Amaral
Nos primeiros dias era o frio, mas agora é a fome que fala mais alto, como relata a voluntária no CTG (que virou centro de doações) Santa Inês de Azevedo, de 60 anos. Quando soube do desastre, Inês cancelou a viagem para Foz do Iguaçu que tinha programado para o feriadão e veio correndo, direto de Teutônia, cidade onde mora. “O que mais me dói é o pessoal chegando e perguntando ‘o que tem para comer?’. É a fome. E nos primeiros dias era o frio, porque era gente com roupa molhada”, relata. Além do alimento, o que as pessoas mais têm procurado entre as doações são as roupas de cama, colchões e material de limpeza.
Como trabalha o dia inteiro fazendo atividades como a distribuição de sanduíches para todo o município e organização de doações, Inês não tem tempo para pensar no que está acontecendo. “Mas à noite a gente começa a repensar e isso é bastante impactante”, diz, com os olhos marejados.
Santa Inês e Luis Cacimiro contam sobre como está sendo o trabalho voluntário. Foto: Fabiano do Amaral
O Pastor Luis Cacimiro, da igreja Assembleia de Deus, está chefiando a organização no CTG. Ele trabalhou diretamente com a recepção dos resgatados: trocava suas roupas, enrolava-os com cobertores e levava-os ao ginásio para que fosse prestada a primeira assistência. “A gente vê que tem muita gente ajudando e estão dando apoio para a gente vencer, isso que leva animação”, relata.
A igreja também foi destruída, mas Cacimiro não se preocupa com isso agora. “Vamos ajudar primeiro para depois voltarmos para a igreja para dar assistência espiritual e emocional”, diz. Segundo o pastor, três fieis ainda estão desaparecidos, entre eles uma criança. “Eles estão procurando, mas no momento não tem como ficar pensando nisso. Temos que nos agarrar aqui, dar comida para o povo comer”.
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