Força do vento preocupa em novo ciclone previsto no RS

Força do vento preocupa em novo ciclone previsto no RS

Fenômeno deste mês é considerado diferente do que aconteceu em junho deste ano

MetSul

Força do vento é principal preocupação por novo ciclone no RS

publicidade

Após estragos e mortes deixados por um fenômeno deste tipo em junho, um novo ciclone irá atingir o Rio Grande do Sul nesta semana. A meteorologista Estael Sias alerta para as principais características deste episódio e o quanto ele pode se assemelhar ao anterior. Nesta terça-feira, a chuva começa a se espalhar pelo território gaúcho, mas o cenário deve se agravar a partir de quarta-feira.

Confira a análise da profissional.

Vai ser pior que em junho? Quarta e quinta podem ser enquadrados no topo da escala de risco por fenômenos meteorológicos severos. Os gaúchos e catarinenses não só vão enfrentar chuva em excesso, com algumas cidades superando a média histórica de precipitação do mês inteiro, como enfrentarão vento muito forte a intenso com potencial de danos e um grande impacto no sistema elétrico.

Aí surge a pergunta: vai ser pior que o ciclone de junho? De acordo com a avaliação da MetSul Meteorologia, baseada nos melhores modelos computacionais do mundo de previsão do tempo para o Sul do Brasil, considerando as duas principais variáveis que são chuva e vento, a resposta é sim e não.

Vamos entender? A começar pela chuva. Três critérios objetivos devem ser levados em conta na comparação com o ciclone de junho ao se projetar chuva: abrangência, volumes e condição precedente.

A chuva com altos volumes se concentrou em junho mais entre os vales, a Grande Porto Alegre e o Litoral Norte. Desta vez, maior número de municípios terá chuva com altos acumulados, especialmente na Metade Norte, no Centro e parte do Leste do estado, ou seja, pior que no ciclone de junho em abrangência.

E os volumes? Em junho, a chuva somou até 250 mm nos vales e na Grande Porto Alegre com até 350 mm em pontos do Litoral Norte. Vai chover muito até sexta, com o pior entre quarta e a quinta, com volumes entre 100 mm e 200 mm em diversas cidades e em algumas acima de 200 mm, portanto menos que em junho nas áreas mais afetadas no mês passado.

Já a condição precedente tem importância porque em junho a chuva extrema não foi antecedida por intensas precipitações dias antes e agora este evento de chuva volumosa ocorre poucos dias após acumulados de 50 mm a 130 mm em diversas cidades, o que faz com que os rios estejam mais altos e potencializa o risco de cheias em bacias não afetadas em junho, quando o Caí e o Sinos tiveram grandes cheias.

A soma do que caiu no final da semana com o que se prevê de chuva até sexta-feira significa que grande número de municípios da Metade Norte terá acumulados em apenas uma semana da ordem de 200 mm a 400 mm, o que fez a MetSul advertir para a alta probabilidade de cheias de rios, enchentes, inundações repentinas, quedas de barreiras e deslizamentos de terra.

E o vento? Aí está a principal diferença para junho. Em abrangência e intensidade. No ciclone dos dias 15 e 16 do mês passado, a ventania forte concentrou-se no Nordeste gaúcho com rajada máxima medida em estação meteorológica de 102 km/h na costa, em Tramandaí, e de 77 km/h em Porto Alegre, em Belém Novo.

O campo de vento forte do ciclone que vem aí entre quarta e quinta será muitíssimo maior a ponto de se esperar ventania até em São Paulo e Rio de Janeiro. Praticamente todo o Rio Grande do Sul terá vento moderado a forte com rajadas de 50 km/h a 80 km/h na grande maioria dos municípios. A ventania sobre o Atlântico vai ser tão forte e numa área tão extensa que vai gerar uma forte ressaca do mar entre os litorais do Sul e do Sudeste do país.

Diferentemente de junho, em que o ciclone atuou sobre o mar rente à costa do nosso Litoral Norte, agora a ciclogênese (formação do ciclone) vai se dar sobre o continente e exatamente sobre o Rio Grande do Sul com uma baixa pressão que vai se aprofundar muito sobre o estado nesta quarta, o que é menos comum.

Não apenas o vento forte deve atingir maior número de locais como deve ser mais intenso, superando as marcas máximas de rajadas registradas no mês passado na maior parte das cidades. O vento já aumenta na quarta, sobretudo no fim do dia, mas o pior do vento é esperado na quinta. Será quando o ciclone estiver na costa e ganhando força.

Embora haja ainda muitas discrepâncias entre os modelos e incertezas quanto à posição do ciclone – o que se reflete na previsão de vento – as nossas melhores estimativas indicam hoje rajadas de 60 km/h a 80 km/h, isoladamente superiores, em grande número de municípios gaúchos desde a madrugada e que tendem a se intensificar até de manhã na quinta.

No pico, as marcas de vento podem atingir de 70 km/h a 90 km/h na área de Porto Alegre e valores perto e acima de 100 km/h em pontos da orla, especialmente no Litoral Norte. Sublinha-se que terreno (topografia) interfere e há alto risco de vento mais forte que o indicado em alguns locais. Igualmente, o Leste catarinense, em especial a costa e o Planalto Sul, deve ser afetado por ventania intensa com mais de 100 km/h em diferentes pontos.

Com vento forte mais abrangente e rajadas por vezes intensas, e que vão soprar por muitas horas seguidas, problemas na rede elétrica podem ser de grande escala e em muitas áreas do estado, não concentrados como em junho no Nordeste gaúcho, o que afetaria bastante a rede da CEEE Equatorial, como no mês passado, e desta vez – pela abrangência – teria impacto ainda na área da RGE. Será um evento que reúne as características para afetar centenas de milhares de consumidores.

Veja Também


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895