Dia dos Povos indígenas: data reforça luta por demarcação de terras e mais visibilidade
Rio Grande do Sul abriga atualmente 24.994 indígenas
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O Dia dos Povos Indígenas, celebrado oficialmente em 19 de abril, é uma oportunidade para refletir sobre a importância de valorizar a cultura população indígena e chamar a atenção para reivindicações históricas: demarcação de terras e serviços de saúde e educação. Após enfrentar a pandemia e o enfraquecimento de políticas públicas nos últimos quatro anos, eles destacam a retomada do diálogo com o governo federal e a importância de garantir visibilidade aos direitos dos povos originários.
Mais do que a preservação da cultura e das tradições, os povos indígenas têm o desafio de desmistificar estereótipos e mostrar que existe uma grande diversidade cultural e linguística. Nesta quarta-feira que marca o dia dos Povos Indígenas - a mudança no nome da data ocorreu em 2022, a partir da Lei 14.402, para enaltecer a diversidade das culturas dos povos originários -, a valorização dos povos indígenas ganha visibilidade.
De acordo com a Secretaria de Saúde Indígena, 783.595 indígenas vivem em todo território nacional. Desses, 24.994 estão no Rio Grande do Sul. Conforme a Secretaria Estadual da Educação (SES), são integrantes dos povos Kaingang, Guarani, Charrua e Xokleng.
A luta por políticas públicas pensadas com os próprios indígenas
Na Reserva Indígena da Estiva, localizada no km 39, da ERS 040, de Viamão, 130 indígenas da tribo Mbyá Guaranis vivem em uma área de sete hectares. De acordo com o cacique Zico Silva, o mês de abril serve para refletir sobre os direitos dos povos originários. “Os maiores desafios envolvem as questões de demarcação de terra, onde possamos cultivar nossas plantações tradicionais e vivenciar nossas tradições dentro dos espaços que deveríamos ter. Temos pouco espaço, principalmente o povo Guarani”, explica.
Se no governo Jair Bolsonaro havia pouco espaço para diálogo, a vitória do presidente Lula representa um sopro de esperança para a população indígena. “Hoje não temos tanta dificuldade para dialogar e tratar de desenvolvimento de políticas públicas dentro das aldeias e de acordo com vontade dos próprios indígenas, porque cada aldeia tem sua realidade”, observa. Conforme o cacique Zico, o Dia dos Povos Indígenas serve para mostrar a resistência dos povos originários.
“Queremos mostrar para as populações que a gente existe, que somos uma população diferente, mas a gente também tem necessidades, prioridades e vontade de se desenvolver de acordo com a nossa cultura”, observa.
Projeto gaúcho desmistifica e valoriza a cultura indígena para crianças e adolescentes
Um projeto pedagógico interativo que valoriza e ensina a cultura indígena para crianças e adolescentes é realizado há 25 anos em Viamão, na Região Metropolitana. O "Programa dos Povos Indígenas da Quinta da Estância" ocorre durante todo o mês de abril e tem como objetivo evidenciar e valorizar a cultura indígena para jovens em idade escolar de forma lúdica. A ação é realizada em parceria com a tribo dos índios Mbyás Guaranis da Estiva, arqueólogos, antropólogos e professores de história.
Diretor Quinta da Estância, Rafael Goelzer explica que as atividades proporcionam conhecimentos de história, geografia, arqueologia, artes e aprendizados culturais para crianças e adolescentes. A mãe de Goelzer, Sônia Sittoni, idealizou o projeto e colocou em prática em 1998. “Ela sempre trabalhou em escolas. E percebeu que as escolas faziam caricaturas em função do Dia do Índio”, recorda.
O programa já sensibilizou mais de 40 mil estudantes e arrecadou mais de 60 toneladas de alimentos. “Muitas pessoas notavam a presença de índios na praça da Redenção vestidos como qualquer um, com camiseta e jeans, e acreditavam que o índio perdeu a cultura. O objetivo é demonstrar o contrário, que eles mantêm essa cultura mas se adaptam ao modo de vida atual”, completa, acrescentando que Sônia propôs o projeto de valorização indígena para mostrar para as pessoas que todo mundo tem um pouco de índio.