Porto Alegre 250 anos: 1922-1972, a maturidade de uma quase bicentenária

Porto Alegre 250 anos: 1922-1972, a maturidade de uma quase bicentenária

Deixando a precariedade dos primeiros anos para trás, a Capital passou por mudanças estéticas evidentes nesta época

Christian Büeller

Projeto da Usina do Gasomêtro, em 1926.

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A Porto Alegre dos anos 1920 passa por mudanças políticas na administração municipal. Otávio Rocha assume como intendente em 1924 e reedita o plano de melhoramentos da cidade de dez anos antes, criando avenidas importantes que cortam o Centro, como a Júlio de Castilhos e a Borges de Medeiros. As avenidas Bom Fim e João Pessoa são estendidas e repavimentadas, o que desenvolve de vez a comunicação entre os bairros e o Centro. Também, na mesma época, ocorre o primeiro ajardinamento do Campo da Redenção e a demolição da antiga Igreja da Matriz colonial para a construção da futura Catedral Metropolitana. A Capital apresenta uma mudança estética evidente, como explica o professor e pesquisador da PUCRS, pós-doutor em História Social e Cultural da Arte, Charles Monteiro. “As praças são reurbanizadas com acréscimo de monumentos, chafarizes, passeios, arborização. Além disso, os cais que ficavam ao lado do Mercado Público serão devidamente aterrados e surgirá ali uma praça”, detalha.

É uma época de construção de hotéis, o mais famoso, o Majestic (atualmente Casa de Cultura Mario Quintana), na Rua dos Andradas. “Os hotéis do Centro recebiam vários políticos e estabeleciam como residências. Muitos intelectuais fizeram o mesmo, como o próprio Mario Quintana foi morar no Majestic, que era moderníssimo”, lembra o professor. No lugar havia salão de baile onde tocavam pequenas orquestras. Ao final da obra, em 1933, o Majestic possuía sete pavimentos na ala leste e cinco na parte oeste. Foi o primeiro grande edifício de Porto Alegre em que se utilizou concreto armado.

A área elegante da cidade e a Hydráulica

É um momento em que a elite já se desloca do Centro para outras regiões, seguindo a rua Duque de Caxias em direção à avenida Independência e ao bairro Moinhos de Vento, que cresce exponencialmente a partir da construção da Hydráulica Moinhos de Vento (o nome oficial era Estação de Tratamento de Água Moinhos de Vento do Departamento Municipal de Água e Esgotos – Dmae), inaugurada em 1928. Um ano antes, a empresa americana Ulen and Co., que mantinha a Hydráulica Guaybense, que captava água direto do rio e distribuía diretamente sem tratamento à população, começou a construir o novo prédio para a comunidade. O complexo arquitetônico, construído numa área de seis hectares, foi inspirado nos Jardins do Palácio de Versailles, na França. “A hidráulica vai atrair uma série de habitações, se criam bangalôs e grandes residências ao redor, se tornando a nova área elegante da cidade, na parte alta da península”, conta o historiador Monteiro.

O Laçador é nosso

Em 1954, para a Exposição do IV Centenário de fundação da cidade de São Paulo, foi realizado um concurso público para a execução de uma escultura que servisse como um símbolo do Rio Grande do Sul. A escultura original, vencedora do concurso foi construída em gesso pelo artista plástico Antônio Caringi e ficou exposta no espaço central do pavilhão do Rio Grande do Sul.

Após o evento, estava previsto ofertar a escultura à cidade de São Paulo. No entanto, os gaúchos fizeram uma reivindicação para que a peça fosse instalada em Porto Alegre. E deu certo. A estátua esculpida em bronze foi inaugurada em 20 de setembro de 1958, data comemorativa a Revolução Farroupilha, no Largo do Bombeiro, onde ficou por 48 anos.

‘A Capital crescia para o céu e para o rio’

Prédios maiores começam a aparecer, um deles o Palácio do Comércio. Alberto Bins é o primeiro prefeito nomeado da cidade, substituído por José Loureiro da Silva, com o início do Estado Novo, em 1937. Porto Alegre se desenvolve para a região Leste, para onde se estendem as linhas de bonde, nos anos 40. Na década seguinte, uma época de otimismo, mesmo após a grande enchente de 1941 que inundou o Centro. Até por isso, era necessária a verticalização da cidade. “Uma reportagem de uma revista nacional dizia que a Capital crescia para o céu e para o rio”, lembra o historiador.

O Estádio Olímpico Monumental, do Grêmio, é inaugurado em 19 de setembro de 1954. O coirmão Internacional, que tinha seu antigo estádio dos Eucaliptos – e que sediou a Copa do Mundo de 1950 na Capital –, ganhou casa em 6 de abril de 1969, o Estádio José Pinheiro Borda: o Beira-Rio.

A arte toma conta e a efervescência cultural

Pelos cafés e casas de música da cidade, a arte toma conta. Cinemas e teatros de desenvolvem, assim como revistas ilustradas, como a Madrugada, a Máscara e a Revista do Globo. “Desenhistas, tradutores, escritores e uma série de intelectuais são atraídos. A pintura também aparece de forma intensificada em salões de arte, com artistas como Ângelo Guido e, posteriormente, Iberê Camargo, que vem para a cidade”, remonta o professor, lembrando que Erico Verissimo e Dyonélio Machado fazem o mesmo movimento, de sair do interior para escreverem suas obras em Porto Alegre.

Exposição do Centenário e a mudança para Parque Farroupilha

A culminância deste momento cultural é a Exposição do Centenário da Farroupilha, de 1935, no Campo da Redenção, um marco para o Estado, ocorrido para demonstrar os avanços tecnológicos pelos quais o Brasil passava, assim como celebrar a história do povo sul-riograndense. “Anos antes, o urbanista francês Alfred Agache fez o projeto para a criação de um parque, mas naquele momento, não havia condições necessárias para isso, mas a Exposição seguiu as linhas definidas por ele: um grande eixo central e, ao redor, grandes pavilhões. Cria-se o lago e pequenos e grande cassinos onde Carmem Miranda e outros músicos importantes cantaram”, detalha Monteiro. Após a exposição o Campo da Redenção recebeu o nome oficial de Parque Farroupilha, apesar de as pessoas ainda chamarem o local pelo nome anterior.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895