Hepatite infantil que avança na Europa deixa autoridades de saúde do Brasil em alerta

Hepatite infantil que avança na Europa deixa autoridades de saúde do Brasil em alerta

Cerca de 10% das crianças com a complicação precisaram fazer transplante de fígado para sobreviver e uma delas veio a óbito

Lucas Eliel

Brasil ainda não registrou casos da hepatite infantil, segundo a OMS

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Com o avanço de uma hepatite infantil ainda desconhecida por especialistas, que tem acometido principalmente crianças da Europa, autoridades brasileiras estão em estado de alerta. A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) recebeu nesse domingo uma nota da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, alertando sobre a doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos 169 casos, geralmente no público de até dez anos, foram notificados em 12 países diferentes. Cerca de 10% precisaram realizar transplante de fígado para sobreviver e um paciente morreu. 

No Brasil, conforme a OMS, ainda não há ocorrências da hepatite infantil. No entanto, para a gastroenterologista e vice-presidente da SPRS, Cristina Targa Ferreira, casos da doença não devem demorar a aparecer no País e no Rio Grande do Sul. "Pelo simples fato do adenovírus ser muito comum nas crianças. (Antes da flexibilização) a gente estava muito escondido, e agora as pessoas saem mais para a rua", diz. "Estamos bem a par, procurando notificações e informações sobre isso (a hepatite)", acrescenta.

Dos 169 casos até então notificados, 74 tiveram confirmação para adenovírus, sendo 18 para o adenovírus de tipo 41. Não está claro para os cientistas, contudo, se é um adenovírus realmente o causador das complicações e como ele pode estar agindo no corpo das crianças. A médica ressalta que qualquer vírus que infecta uma pessoa pode trazer problemas ao fígado e embora os adenovírus estejam mais atrelados a problemas respiratórios, eles também podem causar diarreia, dor de barriga e vômito. "Às vezes, ele (adenovírus) também pode fazer outras coisas, como tudo que é vírus pode, e uma dessas coisas é a hepatite", enfatiza. 

A especialista diz que pais e responsáveis precisam ficar atentos aos sintomas que estão sendo características da hepatite infantil. "As crianças que tiverem uma gripe, diarreia e vômito, e apresentarem icterícia (coloração amarelada na pele), fezes brancas e xixi escuro, têm que procurar um hospital, centro especializado ou um pediatra para ver o que está acontecendo", afirma. 

Necessidade de transplante de fígado

Dezessete das pessoas acometidas pela hepatite misteriosa precisaram realizar transplante de fígado para conseguirem sobreviver. "Isso acontece porque se transplanta ou a pessoa morre. O fígado não funciona mais, vai morrendo e ocorrendo necrose", explica a médica. Conforme a especialista, em caso de ser necessário o transplante, o Hospital da Criança Santo Antônio e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) são os mais recomendados para o procedimento em Porto Alegre. 

A hepatite é um termo genérico para inflamações no fígado. As causas mais comuns para o problema são infecções pelos vírus A, B, C, D e E, mas o problema também pode decorrer de intoxicações alimentares, medicamentosas, alcoólicas, bacterianas ou ser provocado por outros vírus. Os testes laboratoriais excluíram as do tipo A, B, C, D e E em todos os casos virais da hepatite infantil. 

A maior parte dos casos da hepatite desconhecida é observada em países da Europa, mas também há notificações de crianças nos Estados Unidos e em Israel. De acordo Cristina Ferreira, a diferenciação desta hepatite para as outras está no fato de os vírus das hepatites anteriores terem preferência em atacar o fígado, e este também poder trazer outros males. "As hepatites virais têm os vírus hepatrotópicos, que têm preferência pelo fígado, mas esses vírus foram negativados (nos testes). É hepatite por outra doença", ressalta. 

Além disso, a infecção por coronavírus foi identificada em 20 das pessoas com a hepatite misteriosa. A especialista, no entanto, enfatiza que a Covid-19 não deve estar relacionada diretamente com a inflamação "A gente pode achar que tudo é culpa da Covid, mas não é comprovado. Acredita-se que não tem relação", afirma. "Importante ressaltar que (a hepatite) não tem nada a ver com a vacina. Essas crianças que tiveram nem tinham sido vacinadas", acrescenta. 

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Hepatite tem acometido com crianças com bom histórico de saúde 

A hepatite que tem trazido inquietação mundial tem ocorrido em crianças com bom histórico de saúde. "Em geral, os pacientes eram previamente saudáveis. Na hepatite, é isso que acontece mesmo, mas quando ela pega uma criança doente, ou com doença no fígado, pode evoluir para quadros mais graves", lembra. 

Por conta disso, a médica destaca que os responsáveis não devem ficar atentos à hepatite só quando surge uma nova variação da complicação, mas prestarem atenção sempre aos cuidados necessários, vacinando corretamente os pequenos. "Isso é muito importante porque a vacina diminui, quase erradica essas doenças. E pelo fato de terem crianças com doença no fígado, se elas tiverem as vacinas, elas vão diminuir esse risco de apresentarem maiores complicações", destaca. 

Com a pandemia de Covid-19, o Brasil e o mundo precisaram adaptar os sistemas de saúde para dar conta da demanda de pacientes afetados pelo Sars-CoV-2. Ferreira projeta, contudo, que medida parecida não deve ser necessária no país em razão da hepatite por ser uma complicação identificada em casos mais isolados.


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