Ainda é cedo para classificar a Covid-19 como uma endemia no Brasil, dizem especialistas

Ainda é cedo para classificar a Covid-19 como uma endemia no Brasil, dizem especialistas

Ministério da Saúde estuda rebaixar doença do status de pandemia

R7

Especialistas não acham viável que pandemia seja rebaixada para endemia no Brasil

publicidade

O Ministério da Saúde estuda rebaixar a Covid-19 para o status de endemia no Brasil, o que significaria, em tese, que a doença está controlada e que a população pode conviver com novos casos de maneira pontual, sem que as medidas não farmacológicas de proteção, como o uso de máscaras e distanciamento social, sejam necessárias de forma recorrente.

Tanto a dengue quanto a gripe causada pelo vírus influenza são consideradas doenças endêmicas, por exemplo, porque existe uma previsibilidade de quando os surtos podem ocorrer e o sistema de saúde está preparado para receber uma demanda maior de casos em determinada época do ano.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou a pandemia de Covid-19 em março de 2020 e, desde então, não deu sinais de rebaixamento da classificação da doença, o que significa que o mundo ainda está em alerta de emergência para a gravidade do SARS-CoV-2.

Recentemente, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a pandemia “está longe de acabar”. Vale lembrar que ainda em fevereiro deste ano o Brasil sentiu os efeitos da nova onda de Covid-19 causada pela variante ômicron, que chegou a infectar quase 300 mil pessoas por dia.

É consenso entre especialistas ouvidos pelo R7 que ainda é muito cedo para uma reclassificação do status da doença. Para Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o momento continua sendo de vulnerabilidade.

“Ainda tem que ter uma atenção especial da saúde pública para o controle da Covid antes de considerar que é uma doença endêmica e controlada no país. Temos locais com baixa circulação (do vírus), melhora da situação epidemiológica, mas há locais onde não está sob controle. Então acho muito precoce e equivocado chamar a Covid de doença endêmica nesse momento”, afirma Mônica.

Além disso, a especialista destaca que, mesmo que o Carnaval tenha sido cancelado, o feriado movimentou um grande número de pessoas que se aglomeraram em praias e em festas clandestinas, o que pode ter como consequência um novo aumento do número de novos casos da doença.

“Quando tivermos um período longo e prolongado de diminuição do número de novos casos, de internações e morte, aí podemos falar que estamos controlando a Covid e considerá-la como uma doença endêmica, mas ainda estamos em uma pandemia”, afirma.

Neste sentido, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise COVID-19, ressalta que a forma imprevisível como o coronavírus circula afasta ainda mais as possibilidades de considerar uma endemia neste momento.

Veja Também

“Hoje não conseguimos ver quando é o começo de uma onda, qual é mais ou menos o tamanho que ela vai ter, ou quais são os picos em cada região do país. Olhando ano a ano, percebemos que a gripe começa e tem uma queda na mesma época, mas quando olhamos a Covid ainda é algo totalmente imprevisível. Fevereiro fechou com 22.195 óbitos certificados, o que corresponde a um ano da gripe”, explica.

Outro ponto destacado por Schrarstzhaupt é a desigualdade na vacinação anti-Covid no país, no Estado do Amazonas, por exemplo, menos de 60% da população está vacinada com as duas doses, enquanto em São Paulo o percentual de pessoas com o esquema vacinal completo é maior que 80%.

“As pessoas têm uma noção de que em uma endemia está tudo bem. Mas a dengue vem todo ano e mata muita gente. Então a endemia não é um sinônimo de não violência, mas de previsibilidade”, explica.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895