“Retomada da cogestão é passo para trás”, afirma infectologista
Modelo permite que as prefeituras possam flexibilizar as restrições do governo estadual
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A retomada do modelo de cogestão do Distanciamento Controlado - em que as prefeituras podem flexibilizar as medidas de restrição estaduais - representa um retrocesso no combate à pandemia do novo coronavírus. Na avaliação do chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz, a volta da cogestão vai agravar a situação do sistema de saúde. "Do ponto de vista médico, se ela voltar, é muito ruim. Vai aumentar a mobilidade das pessoas e certamente vai criar novamente um cenário muito ruim", observa.
Para conter o avanço do contágio da doença, o infectologista afirma que o ideal seria adotar o sistema de lockdown implementado por outros países, mas admite que não há condições econômicas para colocar o plano em prática. "Uma coisa que todos os outros países fazem e a gente não tem perna para fazer: é a contrapartida. Se tu vai querer que as pessoas fiquem em casa, tem que pagar para elas. Até sete dias as pessoas aguentam (em casa), mas três ou quatro semanas é mais difícil. Por isso ressalto que medicamente falando isso é um grande passo para trás, mas certamente não temos como oferecer uma contrapartida", avalia.
O especialista reconhece que não tem “como segurar as pessoas (em casa)” com fome e sem dinheiro. "Coreia do Sul, Portugal, Alemanha, Suíça e Israel dão condições, a comida chega na casa das pessoas. Tem alguma coisa que é oferecida em troca, já que as pessoas estão deixando de exercer seu direito", assinala.
Ao reconhecer que não há como sustentar lockdown no Brasil, ele reforça a importância de iniciativas dos governos na conscientização da população. "Seria muito melhor a gente escutar as pessoas falando, tentando ensinar e mostrar exemplos de como o povo deve se proteger da infecção. Isso seria muito mais inteligente e seguro", observa.
Número de mortes
Na avaliação do infectologista, o retorno da cogestão vai acelerar o número de mortes. "É um descaso com a população. A gente respeita, por isso é preciso dar condições, instruir a população a como se defender de forma adequada e não criar mentiras", alerta.
Ele ainda critica a declaração do prefeito Sebastião Melo. "De nada adianta prefeito que visita periferia não instruir as pessoas. De nada adianta o prefeito dizer que sempre cabe mais um no hospital. É o contrário, a gente tem sempre que evitar aglomerações. Isso é uma vergonha, um descaso com a população. Tem que se preocupar com a prevenção", afirma.
Vacina não é solução mágica
Mesmo com o início da vacinação, Sprinz ressalta que a vacina não vai ser “a solução mágica”. Por isso, destaca a necessidade de ensinar as pessoas a se proteger. "(Sobre a vacinação) É o mesmo erro do tratamento precoce, a gente sabe que não existe tratamento precoce. Não tem vacina para todo mundo, e a gente não sabe o quanto realmente essa vacina vai proteger com as diversas variantes circulando entre nós. A gente tem que diminuir a circulação do vírus e, com os pés no chão, diminuir a transmissão", completa.
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