Nível do Guaíba é o menor desde março devido à estiagem no RS

Nível do Guaíba é o menor desde março devido à estiagem no RS

Régua instalada no Cais Mauá apontava o nível de 0,23 metro na tarde desta quarta-feira

Gabriel Guedes

Régua instalada no Cais Mauá apontava o nível de 0,23 metro na tarde desta quarta-feira

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A falta de chuva que já atinge o Rio Grande do Sul há cerca de dois meses já coloca o Lago Guaíba em um nível atípico para a época, segundo o chefe da Divisão de Hidrovias da Portos RS, Reinaldo Gambim. Nesta quarta-feira, a régua instalada no Cais Mauá, apontava às 13h15min, o nível de 0,23 metro. É o menor já registrado desde o mês de março, quando marcava 0,22 metro, e ficou 13 centímetros do nível mais baixo do ano, de 0,10 metro, observado em 14 de fevereiro, quando a estiagem do verão passado atingiu o seu ápice.

Entretanto, ainda nem chegamos na estação climática mais quente do ano e a tendência, segundo o engenheiro hidráulico da Sala de Situação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Lucas Giacomelli, é que água siga escassa nos mananciais gaúchos, ainda que tenhamos a promessa da manutenção da chuva nos próximos dias.

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A falta de chuvas tem afetado principalmente os afluentes do Guaíba, o que vem contribuindo majoritariamente para a redução da lâmina d'água. O nível do Rio dos Sinos, por exemplo, marcava hoje 0,44 metro em São Leopoldo, o mais baixo nos últimos 30 dias. Em Alvorada, o Rio Gravataí desceu cerca de 80 centímetros desde 28 de outubro, e agora está em 1,37 metro. O Rio Caí, na régua de Montenegro, hoje estava em 0,33 metro, a marca mais baixa das últimas semanas.

"Os rios Taquari e Jacuí também não estão muito diferentes. Todos estão em níveis mínimos", avalia Giacomelli. Mas o engenheiro pontua também que a ação do vento acaba impactando bastante na vazão do lago. "O vento Nordeste, como os dos últimos dias, facilita o escoamento das águas do Guaíba para a Lagoa dos Patos e da lagoa para o Oceano Atlântico. Por isso deu esta boa diminuída, principalmente hoje. Mas mesmo sem contar com as chuvas, só o vento oeste e sul, isso faz que o nível suba", explica o especialista.

Mas o que se observou nas duas últimas semanas, foi a ligeira deterioração do nível do Guaíba. No dia 13, em reportagem publicada pelo Correio do Povo, as águas estavam em 0,72 metro, sendo que o índice considerado normal é de 1,2 metro. Naquela ocasião já era possível observar a formação de bancos de areia em alguns pontos do lago, principalmente em frente à ilha do Chico Inglês, próximo à região da Estação Rodoviária da Capital.

No dia 17, as águas subiram e atingiram a marca de 0,98 metro. Mas depois caiu 75 centímetros até atingir a marca desta quarta-feira. "Aquela coroa (nome dado a bancos de areia que se formam na água) é comum. Por causa da confluência de dois corpos hídricos, acaba sendo depósito de material arrastado. Mas vem aumentando a cada ano. Mas não atrapalha, por que não tem navegação naquele ponto", esclarece Gambim.    

Diante deste cenário, bastante visível também em áreas como da Orla Moacyr Scliar, onde a água recuou bastante da margem, a Portos RS, que administra a infraestrutura hidroviária e portuária do estado, seguirá observando o quadro com apreensão. O canal de navegação entre Rio Grande/Pelotas e Porto Alegre comporta embarcações com até 5,18 metro de calado. Mesmo a estiagem do começo deste ano não comprometeu a navegação. Mas segundo o chefe de hidrovias, o canal não pode atingir a marca de projeto, que é o zero, ficando praticamente no mesmo nível do mar.

"Os níveis atuais são preocupantes. No momento em que a gente atinge a cota de projeto, a gente atinge nossa cota de segurança. Mas agora, pode se ter algum problema, mas não teve ainda. Nosso capitão da praticagem foi a Rio Grande hoje e observou condições adequadas de navegação", afirma o responsável pelas hidrovias. Para Gambim, uma situação de paralisação da navegação seria muito incomum. "Caso esta cota baixe a níveis históricos, vai ser algo raro. Não passamos mais que cinco vezes por esta situação desde o início dos registros em 1941", garante.    

"A tendência é que prossiga (a estiagem) até uma boa parte do verão. Com o verão é típico que boa parte do que chove, se evapore rapidamente também. E quando se vem de uma outra estiagem, é ainda pior", avalia Giacomelli. Mas mesmo com a continuidade da estiagem, o engenheiro da Sema prevê que Porto Alegre não fique sem água, mas adverte para a qualidade do que for captado. Consultado, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), assegura que a situação está sob controle.

"Sobre o nível do Guaíba, o Dmae informa que até o momento não há impacto em suas captações, e que a qualidade da água tratada está dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde e Secretaria da Saúde do Estado", disseram em comunicado. A Corsan também foi procurada para comentar a situação na bacia do Gravataí e do Sinos, mas até o fechamento não retornou o contato. 


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