Pleito nacional se impôs no Rio Grande do Sul, dizem cientistas políticos

Pleito nacional se impôs no Rio Grande do Sul, dizem cientistas políticos

Resultados das urnas no primeiro turno também apontam desafios para os candidatos que ainda estão na disputa ao Palácio Piratini

Henrique Massaro

Pleito nacional se impôs no Rio Grande do Sul, dizem cientistas políticas

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Não foi só nacionalmente que os resultados do primeiro turno se diferenciaram do que vinham mostrando algumas pesquisas. No Rio Grande do Sul, as principais surpresas foram a chegada de Onyx Lorenzoni (PL) em primeiro lugar e a proximidade que Eduardo Leite (PSDB) ficou de Edegar Pretto (PT). Os motivos para isso, na interpretação de especialistas, variam. Porém, alguns pontos convergem, como a influência do pleito nacional, o que deve impactar nas estratégias do segundo turno. No caso de Leite, a neutralidade pode impedir a conquista de votos que foram do PT no primeiro turno. Ao mesmo tempo, Onyx consolida-se como o candidato conservador, o que pode ser favorável. 

Para o doutor em Ciência Política pela Ufrgs, professor Rodrigo Stumpf, o que surpreendeu foi a quantidade de votos do candidato do PT, acima do esperado. Ele também cita como fator importante os poucos votos de Luis Carlos Heinze (PP), que devem ter ido para Lorenzoni. De resto, diz que o pleito gaúcho reproduz um pouco do que mostrou a disputa nacional, com o bolsonarismo mais em alta do que se projetava. 

Reflexão semelhante faz Aldo Fornazieri, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Ele diz que a dinâmica nacional se impôs no Estado, e só não foi completa pela ausência de um nome do PT no segundo turno, o que esteve perto de acontecer. A “desidratação” do tucano, conforme o professor, se deu em função do que o pleito nacional impôs, como em outros estados. No caso do desempenho do ex-governador, contudo, o cientista político vai além. “O Leite pode ter ido mal pelo que considero toda uma lambança que ele fez”, comenta, referindo-se às declarações de que não disputaria a reeleição, à renúncia do cargo para tentar disputar a presidência e ao retorno para tentar o pleito estadual.

Mais do que creditar o desempenho do ex-governador no primeiro turno a essas estratégias, Celi Pinto, da Ufrgs, entende que o dilema no qual o candidato se encontra é muito por conta delas. “Acho que o Eduardo Leite está numa sinuca de bico, politicamente, muito por culpa dos erros políticos que ele cometeu ao longo da vida”, afirma, criticando também a decisão por neutralidade. “É uma escolha dele. Eu acho que ele está escolhendo perder.”

Na disputa, González aponta que Onyx já tomou conta do campo conservador. Enquanto Leite fica neutro, para Celi, Onyx não deve perder votos dos bolsonaristas mais radicais, que já estão com ele. Para Fornazieri, neste cenário, sem uma aliança forte entre PSDB e PT, o ex-ministro deve sair vitorioso na disputa. Segundo ele, numa eleição assim, apenas o pragmatismo consegue resultados. “O problema é que a falta de visão dos partidos é espantosa, muitas vezes eles perdem por vaidade, é muito interesse egoísta pelo poder. Deixam de fazer composições razoáveis e terminam favorecendo o adversário”, diz.

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Também houve diferença no que vinham mostrando as projeções na eleição para a única vaga ao Senado Federal. Hamilton Mourão (Republicanos) e Olívio Dutra (PT) apareciam como favoritos e, de fato, terminaram como os dois primeiros colocados, mas com uma diferença de quase 7%, elegendo o atual vice-presidente da República. Com isso, a ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD) terminou com somente 16,44% dos votos, mais de 27 pontos percentuais atrás de Mourão. 

O resultado no Rio Grande do Sul, e em outros estados, dizem os cientistas políticos Aldo Fornazieri e Rodrigo Stumpf, se encaixa na força do bolsonarismo que apareceu na reta final, e que não foi captada plenamente pelos institutos de pesquisa. Além de Mourão, foram eleitos os ex-ministros Sergio Moro (União-PR), Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), além do ex-secretário Jorge Seif (PL-SC). “Esse discurso centrado na defesa da propriedade, dos valores mais tradicionais, num sentido moderado, se chocou com uma nova direita, que é essa direita de costume mais radicalizada que o Onyx representou”, pontua Stumpf.

Para Celi Pinheiro, as pesquisas surpreenderam de Norte a Sul, nos estados e nacionalmente, um fenômeno que vai além do que dizer que os levantamentos refletem um momento ou que houve migração de votos de última hora. As surpresas no Rio Grande do Sul, segundo ela, se dão um pouco pela desidratação de Ana Amélia, o que resultou na eleição de Mourão. “Esse aumento de votos do Mourão também criou um link com o aumento de votos para o Onyx Lorenzoni”, diz a cientista política, que considera que foi o vice-presidente quem puxou votos para o candidato ao Piratini, e não o contrário. Há, ainda, um segundo fenômeno, que foi a quase eleição de Pretto, que a cientista política credita à popularidade de Olívio Dutra. “Esses dois fenômenos desidrataram, por outro lado, o Eduardo Leite.” 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895