Leite anuncia que se manterá neutro em relação à eleição nacional

Leite anuncia que se manterá neutro em relação à eleição nacional

Discurso do ex-governador indica mudança de tom na corrida pelo Piratini

Flavia Bemfica

Leite decide pela neutralidade nas eleições presidenciais

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O candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou na manhã desta sexta-feira que ficará neutro em relação à eleição nacional. A posição já havia sido adiantada nessa quinta-feira pelo Correio do Povo.

Para o anúncio, a coligação encabeçada pelo tucano na corrida estadual organizou um evento com apoiadores e parte de lideranças dos partidos que compõem a aliança no comitê central de campanha, na avenida Brasil.

O ato faz parte da nova estratégia da campanha tucana, de tentar demonstrar capacidade de aglutinação de diferentes perfis ideológicos, já que Leite precisa de votos de eleitores que, no primeiro turno, optaram pelo então candidato petista, Edegar Pretto. O petista ficou em terceiro lugar, por uma diferença apertada, de 2.441 votos, surpreendendo a equipe de Leite, que o considerava como franco favorito na disputa.

As falas do ex-governador também evidenciaram que ele deve começar a "bater" com força em seu adversário na corrida do segundo turno, o deputado Onyx Lorenzoni (PL).

Em vários momentos de sua manifestação, Leite teceu duras críticas ao ex-ministro, e repetiu que o adversário "não conhece o RS, não tem propostas e não tem soluções." Em uma das falas, quando questionado sobre o fato de ter disputado a eleição passada contra o MDB e agora ter o partido de vice, disse que a situação atual é completamente diferente, citou crime de Caixa 2 e comparou Onyx a Paulo Maluf. "Naquela eleição nunca questionei a idoneidade do meu adversário. Mas meu adversário de agora foi praticante de um crime confesso de Caixa 2. Como dizia Mário Covas, quando enfrentou Maluf em uma eleição, vamos debater propostas, mas vamos ter que debater caráter também."

Em outro momento o tucano lembrou que Onyx concorreu a prefeitura de Porto Alegre em duas ocasiões e  em ambas, não obteve sucesso. "Pelas suas próprias pernas, não conseguiu. Agora se pendura em um outro líder. O RS quer liderança própria, aqui não é curral eleitoral."

A nova estratégia em curso vai tentar mesclar a aposta na campanha programática, e de colocar a eleição estadual no centro do debate, que analistas políticos dentro e fora da coligação avaliam que favorece Leite, com uma linha de embate direto de valores que tem se mostrado eficaz nas campanhas dos últimos anos. A diferença, no caso de Leite, é que ele vai tentar fugir do embate ideológico e de valores morais generalizados que caracteriza a disputa nacional, e colocar em seu lugar a chamada disputa de biografias, concentrando os golpes especificamente na figura de Onyx. Na coletiva de imprensa que se seguiu ao anúncio, ele chegou a dizer que os dois chegam ao segundo turno "com zero votos" e que pretende virar parte dos votos dados a Onyx no primeiro turno.

Apesar da insistência dos jornalistas, o ex-governador negou-se a responder se está arrependido de ter votado no presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

Leite e Onyx disputam a segunda etapa da eleição após um primeiro turno no qual o candidato do PL obteve 2.382.026 votos (37,50% dos válidos) e o tucano 1.702.815 (26,81% dos válidos), o que resulta em uma diferença de 679.211 votos.

O QUE EDUARDO LEITE FALOU SOBRE ONYX LORENZONI NO DISCURSO DESTA SEXTA

"O meu adversário quer discutir Bolsonaro e Lula porque ele não tem ideias, não tem propostas, não conhece o Estado, e nem tem soluções. Quer um cheque em branco da população. Os gaúchos não vão dar, porque aqui é o Rio Grande e não um curral eleitoral. Que fique claro a ele. Nossa história foi forjada na luta, e não no adesismo. Somos um dos estados mais politizados do país, e não vai ser conversa mole, sem propostas, que vai fazer nosso povo entrar em uma canoa furada."

"Meu adversário fala em liberdade, mas vive aprisionado na sua ideologia, e condena quem pensa diferente dele. Fala em pátria porque só pensa em Brasília. Fala em família, mas estimula a guerra que coloca pai contra filhos, irmãos contra irmãos. Somos realmente muito diferentes. Eu tenho lado, que é o lado do Rio Grande. Não o lado da metade da população contra outra metade que pensa diferente de mim, que é o discurso do meu oponente."

"O meu adversário, no primeiro turno, passou quase incólume de críticas, de análise, sobre a sua atuação, ou falta de atuação, como político e como gestor. É importante lembrarmos que, em três anos e três meses, passou por cinco ministérios. Não porque seja de excepcional qualidade, mas porque não funcionou em nenhum deles. Foi tendo poderes subtraídos. Começou na posição mais importante de um governo, a Casa Civil. E foi tendo poderes retirados porque não tinha capacidade política e nem capacidade de gestão para entregar resultados."

"Meu adversário concorreu duas vezes a prefeito de Porto Alegre. Pelas suas próprias pernas, não conseguiu atingir 10% dos votos. Hoje se pendura em um outro líder para tentar lograr êxito na eleição estadual. Eu não preciso disso. Eu me fiz pelo meu trabalho. Prefeito de Pelotas, governador. Sem me pendurar em alguém ou ser dependente de outra liderança. O Rio Grande quer liderança própria."

"Tudo o que deseja nosso adversário é descarrilar a discussão desta eleição para a arena nacional, porque não tem propostas, não apresenta caminhos, não tem sequer um currículo que possa ser defendido por serviços prestados nas áreas pelas quais passou."

"Meu adversário nesta eleição foi praticante de um crime confesso de Caixa 2 em campanha eleitoral. Nós temos aqui a oportunidade de debater honestidade e integridade porque, como dizia Mário Covas, quando enfrentou o Maluf em uma eleição, a gente vai debater propostas, mas tem que debater caráter também."

 

 


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