Exonerado depois de suposto assédio, Guimarães recebeu mais de R$ 3 milhões à frente da Caixa
Executivo deixou o comando do banco nesta semana após ser investigado pelo MPF pela prática de assédio contra funcionárias
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O ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, que deixou o cargo nesta semana após ser denunciado por assédio sexual e investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por eventuais crimes, recebeu R$ 3.134.374,62 milhões à frente da empresa ao longo de sua gestão. Como ele ficou cerca de 41 meses na presidência da estatal, recebeu, só do banco, uma média de R$ 76.448,16 mil por mês.
Guimarães assumiu a chefia do principal banco público do país em 2019, quando Jair Bolsonaro (PL) iniciou seu mandato como presidente da República. O ex-presidente da Caixa é um dos aliados de primeira mão do presidente e foi colocado ao posto por indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes.
No exercício 2019/2020, Guimarães recebeu R$ 926.790,51 — o salário é composto por remuneração fixa, remuneração variável e benefícios, como auxílio-alimentação, auxílio-moradia, férias, previdência complementar e plano de saúde.
Em 2020/2021, o ex-presidente recebeu R$ 765.822,83. No exercício de 2021/2022, o valor ganho por Guimarães foi de R$ 1.441.761,28 — o que representa um aumento de 53% comparado ao anterior.
Mesmo após a demissão, Guimarães deverá receber pelo menos R$ 56 mil da estatal por seis meses. Isso ocorre por causa da Lei 12.813/2013. O artigo 6º da norma estipula o período de um semestre para o funcionário, que antes integrava o poder público, trabalhar na mesma área de atuação na iniciativa privada, justamente para evitar conflito de interesses. Assim, o ex-presidente da estatal vai receber, ao longo do tempo em que ficará de "quarentena", o total de R$ 336 mil.
A reportagem procurou contato com Guimarães, mas não obteve resposta.
Conselhos de Administração
Reportagem exclusiva do R7 revelou que o agora ex-presidente da Caixa era membro de pelo menos 21 conselhos de administração de empresas ligadas à estatal em 2021. No fim do mês, o salário dele, por causa da remuneração dos conselhos, poderia saltar de R$ 56 mil para mais de R$ 230 mil, como mostram dados relativos a julho de 2021, quando Guimarães recebeu R$ 230.940.
De acordo com as informações obtidas pelo R7 referentes àquele período, Guimarães aparece como presidente dos conselhos de administração do Banco Pan, da Elo, da Caixa Cartões, da Caixa Seguridade e da Caixa Participações.
Ele figura ainda como membro do conselho de administração das seguintes empresas: Paranapema, BRK Ambiental, Too Seguros, Caixa Seguros Holding, Caixa Capitalização, Caixa Seguradora, Caixa Consórcios, Youse Seguradora, Caixa DTVM, Caixa Seguridade Corretagem e Administração de Seguros, XS3, XS1, XS4, XS5, XS6 e VLI.
No entanto, a situação supostamente contrariava o artigo 20 da Lei das Estatais, que proíbe "a participação remunerada de membros da administração pública, direta ou indireta, em mais de 2 (dois) conselhos, de administração ou fiscal, de empresa pública, de sociedade de economia mista ou de suas subsidiárias".
Denúncias de assédio sexual
Guimarães pediu demissão depois de se tornar alvo de investigações do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) por denúncias de assédio sexual. As suspeitas foram reveladas pelo portal Metrópoles. De acordo com a apuração, os casos teriam ocorrido com empregadas do próprio banco. Em entrevista ao site, as mulheres relataram que se sentiram assediadas pelo economista em diferentes ocasiões, sempre em eventos ou viagens de trabalho.
Há denúncias de aproximação física e toques indesejados. As investidas teriam ocorrido durante viagens realizadas por Pedro Guimarães e funcionários do banco, especialmente em ações do Caixa Mais Brasil, programa criado pelo executivo para dar visibilidade à Caixa em todo o país.
Fontes ouvidas pelo R7 no MPF confirmaram a investigação e afirmaram que as diligências estão sendo feitas sob sigilo na Procuradoria da República no Distrito Federal, já que o economista não tem foro privilegiado. A presidente do TCU, Ana Arraes, já confirmou a investigação da entidade sobre os mecanismos da Caixa para combater esse tipo de assédio.
Quem é Pedro Guimarães
O economista carioca Pedro Guimarães tem 51 anos e assumiu a presidência da Caixa em 3 de janeiro de 2019, sucedendo a Nelson de Souza. Como presidente da empresa, Guimarães também faz parte do conselho administrativo do banco. Antes disso, ele já havia sido sócio em duas instituições do setor bancário: o BTG Pactual — banco de investimentos fundado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes — e o Banco Plural.
Guimarães formou-se em economia em 1992 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), fez mestrado em economia na Fundação Getulio Vargas (FGV) e doutorado pela Universidade de Rochester, em Nova York, onde apresentou uma tese sobre privatizações no setor financeiro.
Ele é genro de Léo Pinheiro, da empreiteira OAS. Pinheiro foi o delator do "Caso Triplex", que levou à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele também já foi acusado de assédio moral, inclusive com a divulgação de vídeos em que constrange funcionários da Caixa e os obriga a fazer flexão.
Na época, o Ministério Público do Trabalho (MPT) no Distrito Federal notificou Guimarães e recomendou que o presidente da instituição não submetesse os colaboradores a "situações de constrangimento no trabalho" sob pena de abertura de um procedimento investigatório e adoção de medidas para correção da conduta, sem descartar responsabilizações civil, criminal e administrativa.
Em outro episódio recente, em dezembro de 2020, o economista ficou em evidência por comentar que não sabia que há pessoas morando em lixões no Brasil. Em março deste ano, Guimarães assinou acordos de R$ 24 mil com duas ex-empregadas domésticas que o acusaram de não pagar direitos trabalhistas. O presidente da Caixa chegou a cogitar a possibilidade de concorrer às eleições, mas a ideia acabou perdendo força. Ele também chegou a ser lembrado como possível substituto de Paulo Guedes no Ministério da Economia, que o indicou para a presidência do banco.
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