Bolsonaro diz que indigenista e jornalista estavam em aventura "não recomendável"
Homens estão desaparecidos na região amazônica desde domingo
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O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta terça-feira (7), que o indigenista Bruno Araújo e o jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos na região amazônica, estavam em uma “aventura não recomendável”. O mandatário também levantou a suspeita de que eles possam ter sido mortos.
"E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, podem ser que tenham sido executados. A gente espera, e pede a Deus, que sejam encontrados brevemente", afirmou Bolsonaro em entrevista ao SBT News.
O indigenista e o jornalista estão desaparecidos desde o último domingo (5) em Vale do Javari, no Amazonas. O servidor da Funai, que está licenciado de suas funções na fundação, era alvo de ameaças constantes por parte de garimpeiros e madeireiros na região.
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De acordo com a Univaja (União das Organizações Indígenas do Vale do Javari), Araújo foi intimidado dias antes da viagem na companhia do jornalista do The Guardian. A entidade diz que as ameaças foram relatadas à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e a organizações de direitos dos povos indígenas.
O Vale do Javari, no Extremo Oeste do Amazonas, fica próximo à fronteira com o Peru e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo. A região é pressionada por invasores ligados à pesca e à caça ilegal, ao garimpo e à extração de madeira.
No caso do desaparecimento do jornalista e do indigenista, o MPF instaurou um procedimento administrativo e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha. O Exército também atua nas buscas.
Durante a entrevista, Bolsonaro disse que duas pessoas foram detidas pela PF e estão sendo investigadas. Nesta segunda (6), o órgão informou que ouviu testemunhas do desaparecimento, mas que foram liberadas.
Desaparecidos na Amazônia
Bruno e Dom saíram de Atalaia do Norte para visitar a equipe de vigilância indígena do lago do Jaburu na sexta-feira (3). Eles deveriam ter voltado ao município no último domingo pela manhã. Segundo a Funai, Bruno Araújo não estava em "missão institucional". De acordo com o órgão, embora ele ainda integre o quadro da fundação, estava de "licença para tratar de interesses particulares".
Os dois viajavam em uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para o percurso — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguirem falar com o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram à cidade.
"Às 14h, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da Univaja, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, mas nenhum vestígio foi encontrado", informa o comunicado da Univaja.
Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal The Guardian.
Segundo informações divulgadas pelo The Guardian, a embaixada britânica no Brasil também acompanha o caso. "O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e as condições de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível", diz a nota.