Blanco diz na CPI da Covid que vacinas da Davati seriam para o setor privado
Ex-diretor do Ministério da Saúde teria participado de jantar em que foi pedida US$ 1 por dose da vacina negociada com a pasta
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A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira (4) o tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco, que teria apresentado Luiz Paulo Dominguetti, da Davati, para o diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias.
Blanco, que recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de ficar calado para não se incriminar, afirmou que foi procurado pela Latin Air Supply no início de fevereiro para dizer que a empresa, representada pelo vendedor Luiz Paulo Dominguetti, dizia ter como entregar 400 milhões de doses da AstraZeneca. Dias depois a fornecedora passou a ser a Davati Medical Supply.
Disse ainda que as conversas com Dominguetti, cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, começaram ainda em fevereiro. "Após ele confirmar as quantidades, dizia que a entrega se daria de maneira imediata, expliquei quais trâmites a proposta deveria seguir para oferecer as vacinas ao Ministério da Saúde."
Blanco contou que foi ele quem avisou Roberto Dias, diretor de logística da pasta, sobre a proposta e passou a seu superior no ministério o contato de Cristiano Carvalho, apresentado como CEO da Davati no Brasil.
O ex-servidor disse que não elaborou qualquer documento, não intermediou negociação alguma. "Simplesmente os orientamos a usar os meios oficiais. Da mesma forma nunca acompanhei representantes de qualquer empresa em visitas ao Ministério da Saúde ou qualquer órgão público.
Segundo o ex-diretor de logística da pasta, sua intenção era que a Davati pudesse ajudar no "desenvolvimento de um possível mercado de vacinas para o segmento privado". Ele justificou que o assunto estava em discussão no país e havia um projeto de lei autorizando que empresários comprassem imunizantes.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), desmentiu o depoente, afirmando que até aquela data o tema sequer estava em discussão no Congresso. "Somente em março isso começou a ser discutido. E mais: essa lei não autorizava a compra pelo setor privado. Primeiro deve ser ofertada ao setor público e somente depois ao privado."
A senadora Eliziane Gama (PPS) disse que o projeto só foi apresentado no dia 18 de março. Blanco reforçou que já não era funcionário do ministério quando ocorreu o famoso jantar no restaurante de Brasília, no dia 25 de fevereiro de 2021, no qual Dominguetti foi apresentado a Roberto Dias. "Meu interesse sempre foi o mercado privado."
Mais tarde ele disse que jamais pensou em negociar algo que não estivesse amparado pela lei. Foi nesse encontro que Dominguetti afirmou que Dias pediu US$ 1 por dose de vacina comercializada.