Pfizer revela participação de Carlos Bolsonaro em reunião e nega cláusulas especiais para o Brasil

Pfizer revela participação de Carlos Bolsonaro em reunião e nega cláusulas especiais para o Brasil

Carlos Murillo, gerente geral da farmacêutica, prestou depoimento à CPI da Covid no Senado Federal e também explicou cronograma proposto para o país

Correio do Povo / R7

Gerente-geral da Pfizer explicou que foram feitas três ofertas seguidas ao Brasil

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O gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, prestou depoimento à CPI da Covid, nesta quinta-feira, no Senado Federal. Aos senadores, em longo depoimento, Murillo revelou que o filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, participou de reunião com a empresa farmacêutica e com o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten.

O chefe da farmacêutica informou que, na reunião, estavam presentes duas representantes da Pfizer, além de integrantes da Secretaria de Comunicação. Um dos assuntos, segundo o gerente-geral, era as cláusulas contratuais para aquisição de vacinas. “Após aproximadamente uma hora de reunião, Fabio recebe uma ligação, sai da sala e retorna para a reunião. Minutos depois, entram na sala de reunião Felipe Garcia Martins, assessor internacional da Presidência da República, e Carlos Bolsonaro. Fábio explicou a Felipe Garcia Martins e a Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então na reunião”, disse Murillo.

Após os depoimentos da Anvisa, do ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten e do representante da Pfizer nesta semana, os trabalhos da CPI serão retomados na próxima terça-feira, quando o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo será ouvido pelos senadores. Na quarta, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é aguardado na audiência. 

"Cláusulas do contrato com Brasil eram iguais às de 110 países"

Carlos Murillo, rechaçou as críticas feitas pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e pelo presidente Jair Bolsonaro de que as cláusulas do processo para a aquisição de vacina contra a Covid-19 seriam ‘leoninas’ e ‘abusivas’.

“Não concordo com esse posicionamento, nem com esse indicativo de cláusulas leoninas. Nesta pandemia, a Pfizer, numa situação sem precedente, queria que todo mundo colaborasse com esse processo. Por isso, definiu para todos os países as mesmas condições que fez ao Brasil”, disse Murillo em depoimento à CPI da Covid. De acordo com ele, tirando mudanças regionais nos acordos, o contrato que foi sugerido ao Brasil é exatamente o mesmo assinado por 110 países do mundo.

Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde havia afirmado que a oferta de vacinas pela farmacêutica incluía cláusulas abusivas e que causaria frustração à população, em razão da pequena quantidade. Segundo o governo, as doses iniciais oferecidas ao Brasil seriam mais uma "conquista de marketing".

Brasil receberia 18,5 milhões de doses da Pfizer até junho de 2021

Murillo explicou que foram feitas três ofertas seguidas ao Brasil em agosto de 2020 (dias 14, 18 e 26) para o início da entrega de seu imunizante já no ano passado. laboratório sugeria ao Ministério da Saúde sempre duas possibilidades: 30 milhões ou 70 milhões de doses.

De acordo com ele, as quantidades prometidas por período foram mudando a cada nova oferta. A terceira proposta garantiria ao Brasil 18,5 milhões de doses até junho de 2021, fim do segundo trimestre.Em relação somente às propostas de 70 milhões de doses, o cronograma da empresa sugeria sempre cinco prazos para a entrega dos lotes.

Na proposta de 14 de agosto, a Pfizer oferecia entregar 500 mil doses ainda em 2020 ao país, 1,5 milhão para o primeiro trimestre de 2021, 5 milhões para o segundo, 33 milhões para o terceiro e 30 milhões nos últimos três meses deste ano. Na segunda oferta, no dia 18, seriam 1,5 milhão de vacinas em 2020, 1,5 milhão no primeiro trimestre, 5 milhões no segundo, 33 milhões no terceiro e 29 milhões no quarto.

Na terceira proposta, do dia 26, 1,5 milhão em 2020, 3 milhões de doses nos primeiros três meses de 2021, 14 milhões no segundo trimestre, 26,5 milhões no terceiro e 25 milhões no final de 2021. 

"Não tivemos negociação paralela com Wajngarten"

Carlos Murillo, negou que tenha tido uma negociação paralela envolvendo o ex-secretário da Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten para venda de vacinas.

De acordo com Murillo, a Pfizer procurou diferentes autoridades governamentais durante o processo de venda das vacinas para assegurar que o procedimento continuava. O gerente-geral também esclareceu que o contato com Wajngarten se deu após o ex-secretário entrar em contato com a matriz da empresa tentando comunicação com o CEO global da empresa. No depoimento à CPI da Covid, Carlos Murillo confirmou ter conversado por telefone com o ministro da Economia, Paulo Guedes, no ano passado, sobre uma oferta de venda de vacinas da farmacêutica para o País, em um contato intermediado pelo ex-secretário da Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten.

Segundo Murillo, Guedes, que questionou sobre o quantitativo ofertado, cobrou por uma maior quantidade de vacinas, e sua resposta ao ministro foi de que a empresa continuaria procurando fornecer "o maior quantitativo possível de vacinas". Murillo negou que tenha tratado com Guedes, nesta oportunidade, sobre os contratos antes enviados ao governo brasileiro.

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