Marina Silva colhe os frutos de ter inimigos à direita e à esquerda
Ministério do Meio Ambiente sofreu desmonte e teve poderes esvaziados em MP que reestrutura o organograma do governo
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Neste governo, não há figura em situação mais difícil e constrangedora que Marina Silva. Em menos de seis meses desde a posse, tornou-se alvo preferencial de críticas vindas de petistas ortodoxos, aliados pragmáticos e, obviamente, dos contêineres de inimigos que soube acumular em suas décadas de luta contra o agronegócio e a favor de um ambientalismo que a fez abandonar o Ministério do Meio Ambiente, em 2008.
Desta vez, o desenho do isolamento de Marina não tem os mesmos traços de 15 anos atrás – quando sua saída foi vista como um enfraquecimento do governo Lula, desmascarado em seus falsos compromissos ambientais. Nem há condições objetivas (nem dignas) para que a ministra peça demissão neste momento, pois sabe que sairá menor do que entrou – minúscula, na verdade –, politicamente anulada e sem como se arrepender do apoio de primeira hora (importantíssimo) que ofereceu a Lula desde setembro de 2022.
Marina se tornou uma ministra sem poder, após o esvaziamento (quase um desmonte) na pasta do Meio Ambiente levada a cabo pela Congresso na Medida Provisória que reestrutura o organograma do atual governo, numa vitória impiedosa dos setores conservadores do Legislativo federal.
Para Marina, sobra de espólio o indiscutível respeito que desfruta entre ambientalistas e ONGs internacionais. Mas logo ali na frente, a ministra sabe que terá de se preparar para mais uma provável derrota, que nada tem a ver com o “ogronegócio”, expressão pouco hábil com que ela se refere aos poderosos produtores rurais que não rezam na mesma cartilha do globalismo verde.
Pois é essa mesma lógica mais radical capitaneada por Marina que não admite a fortemente encaminhada questão de explorar um campo com potencial 14 bilhões de barris de petróleo a 175 quilômetros da costa do Amapá. O Ibama já negou licença ambiental para a chamada Bacia da Foz do Amazonas. Essa é questão de vida ou morte para os ambientalistas brasileiros e a audiência estrangeira que acompanha Marina.
Para quem conhece o método que Lula adota na hora de salvar o próprio pescoço e na de entregar a cabeça de fiéis escudeiros, é jogo jogado. Com tantos problemas e tantos inimigos, não é fácil ser Marina Silva. Na verdade, nunca foi.