Jogo “Simulador de Escravidão” gera revolta e Google exclui aplicativo

Jogo “Simulador de Escravidão” gera revolta e Google exclui aplicativo

Deputado federal afirmou que entrará com uma representação no Ministério Público por crime de racismo

Matheus Chaparini

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O lançamento de um aplicativo que simula a compra e venda de pessoas negras escravizadas gerou revolta e muitas críticas nas redes sociais nesta quarta-feira. O aplicativo chamado “Simulação de Escravidão” é uma versão interativa que permite a compra e venda de escravizados e incentiva o usuário ao acúmulo de dinheiro às custas da exploração dessas pessoas. O aplicativo foi criado pela Magnus Games e disponibilizado na Google Play Store, no dia 20 de abril, com classificação livre. Com a repercussão, o aplicativo foi retirado na tarde de hoje da loja Play Store, onde estava disponibilizado. 

Na aplicação, é possível mandar os personagens para vários tipos de tarefas como guerras, “clube de elite”, “bordel” e plantação. Outro papel do usuário é controlar os escravos que têm “desejo de liberdade” e os “fugitivos”. Na página inicial da aplicação, uma mensagem afirma que o produto é para “entretenimento” e “não está vinculado a eventos históricos específicos”. O texto afirma ainda que “todas as coincidências são acidentais.”

O caso repercutiu em uma semana marcada pela discussão sobre o racismo, em função do caso em que foi vítima o jogador Vinicius Júnior, no último domingo, na Espanha. Após ser vítima de gritos racista da torcida do Valencia, o jogador do Real Madrid chegou a ser expulso de campo.

No twitter, deputadas gaúchas repudiaram o aplicativo. A deputada federal gaúcha Daiana Santos (PCdoB) classificou o episódio como grave. “O tal "jogo" se chama Simulador de Escravidão, um app completamente ofensivo para o nosso povo. Estamos encaminhando uma denúncia de RACISMO ao Ministério Público!”, escreveu em uma publicação.

A deputada estadual Laura Sito (PT) também repudiou o aplicativo. “É um crime! Naturaliza o trabalho escravo. Não vamos admitir!”, disse.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que 61.459 trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão desde 2009. Em 2023, foram 1.201 flagrantes. As denúncias podem ser feitas pelo Sistema Ipê ou pelo Disque 100.

 

 

Usuários pedem “mais opções de tortura”

Na loja virtual, usuários que baixaram o aplicativo comentam a experiência, elogiando o jogo e sugerindo mudanças que aumentam o grau de crueldade do simulador. Em prints divulgados pelo R7, é possível ver comentários de usuários que pedem mais formas de tortura e afirmam que gostariam de fazer a mesma coisa na vida real.

“Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam estalar (sic) a opção de açoitar o escravo também”, diz um usuário. Outro declara: “retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real.”

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“Desumano, nojento, estarrecedor”, diz relator do PL das Fake News 

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) é um dos parlamentares que se manifestou sobre o aplicativo nas redes sociais. No twitter, Silva afirma que recebeu a informação por uma denúncia da Unegro (União de Negras e Negros pela Igualdade).

“URGENTE! DENÚNCIA CHOCANTE! A Play Store, loja de aplicativos do Android, tem um "jogo" chamado SIMULADOR DE ESCRAVIDÃO, no qual a "brincadeira" consiste em comprar, vender, açoitar pessoas negras escravizadas. É desumano, nojento, estarrecedor. É CRIMINOSO!”, escreveu o deputado.

Ele afirma que entrará com uma representação no Ministério Público por crime de racismo. “A própria existência de algo tão bizarro à disposição nas plataformas mostra a URGÊNCIA de regulação do ambiente digital”, afirmou o deputado, que é relator do projeto de lei que regulamenta as plataformas digitais, que ficou conhecido como PL das Fake News.

 

 

O que diz o Google:

Em nota, o Google disse que removeu o jogo da loja de aplicativos e que toma medidas para coibir a incitação ao ódio e violência. “Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps [aplicativos] que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”, ressalta a nota da empresa.

 


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