Bolsonaro cancela participação em encontro em Portugal, e evento é adiado
Decisão partiu da organização do evento após operação da PF que investiga fraude em certificado de vacinação do ex-presidente
publicidade
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cancelou a participação dele em um encontro de representantes da direita que aconteceria em Portugal entre os dias 13 e 14 de maio. Como consequência, os organizadores do evento optaram por adiar a realização do encontro.
A decisão de evitar a viagem a Portugal foi tomada após Bolsonaro ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal realizada nessa quarta-feira (3). Segundo a corporação, o ex-presidente teria feito parte de um grupo que fraudou informações sobre a imunização contra a Covid-19. A PF afirma que o cartão de vacina de Bolsonaro foi adulterado para constar o registro de que ele foi vacinado contra a doença.
O deputado da Assembleia da República Portuguesa André Ventura, líder do partido Chega, que organizava o evento, afirmou que a operação da PF atrapalhou os planos do encontro.
"Fruto de acontecimentos que todos acompanhamos e que todos puderam ver, sobretudo nos últimos dias, o Chega terá de suspender e reagendar para data posterior a cimeira mundial das direitas que estava prevista para 13 e 14 de maio”, afirmou Ventura.
Além de Bolsonaro, participariam do encontro o vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Outro fator que pesou para o cancelamento do encontro foi o processo em tramitação na Justiça dos EUA contra Trump. Ele foi indiciado criminalmente por comprar o silêncio de uma atriz de filmes adultos em 2016.
Uma nova data será remarcada para que seja possível a presença dos ex-presidentes. "Em respeito por muitos destes convidados, sobretudo dos norte-americanos e, recentemente, o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro e sua comitiva, que se viram impedidos de viajar por determinações do estado brasileiro, o Chega decidiu reagendar a Cimeira para data posterior", frisou Ventura.
A operação
A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (3) 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva na Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema ConecteSUS, do Ministério da Saúde. Entre os beneficiários estariam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a filha dele, Laura Bolsonaro.
Os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão inclusive na casa de Jair Bolsonaro e de Michelle Bolsonaro.
Apesar de determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal não apreendeu o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com fontes ouvidas pelo R7, os responsáveis pela investigação entenderam que não havia risco de fuga e, por isso, não apreenderam o material.
Foram presos os ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro Mauro Cid e Luis Marcos dos Reis; Max Guilherme de Moura e Sergio Cordeiro, seguranças do ex-presidente; Ailton Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL no Rio de Janeiro em 2022; e João Carlos de Souza Brecha, secretário da Prefeitura de Duque de Caxias (RJ).
De acordo com a Polícia Federal, as inserções falsas foram feitas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. O crime teria sido praticado para burlar restrições sanitárias e viajar para países como os Estados Unidos, que exigiam vacinação à época para a entrada em território americano. As informações foram excluídas posteriormente.
"A apuração mostra que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas — no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", afirma a corporação.
Os envolvidos são investigados por crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores. As ações estão dentro do inquérito policial que investiga as chamadas “milícias digitais”, supostas organizações de difusão de informações falsas na internet com o objetivo de influenciar resultados eleitorais e atentar contra a democracia.
O nome da operação deriva do princípio jurídico "venire contra factum proprium", que significa “ninguém pode comportar-se contra os próprios atos”. De acordo com nota da Polícia Federal, "é um princípio-base do direito civil e do direito internacional, que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa".
O ex-presidente afirmou que não existe adulteração por parte dele no documento de vacinação e reafirmou não ter tomado o imunizante por "decisão pessoal". "Fico surpreso com a busca e apreensão com esse motivo", completou.