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DPU está sem chefe desde janeiro, e servidores pressionam o governo por nomeação

Nome escolhido para ficar no cargo até 2024 foi barrado pela gestão do presidente Lula

Defensoria não tem chefe desde janeiro
Defensoria não tem chefe desde janeiro Foto por: Pedro França / Agência Senado / CP

O governo federal tem adiado, desde janeiro, a definição de um nome para ocupar o cargo de defensor público-geral federal, posto mais alto da Defensoria Pública da União (DPU). A demora em indicar quem vai chefiar a instituição tem gerado desconforto entre os servidores do órgão, que cobram do Executivo uma solução rápida, para evitar prejuízos aos serviços fornecidos pela instituição.

No fim de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou o então defensor público-geral federal Daniel Macedo para um novo mandato de dois anos, mas a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) interferiu no processo e inviabilizou a recondução dele ao cargo.

Macedo tinha sido o mais votado de uma lista tríplice formulada pela Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (Anadef), ficando à frente de Igor Roque e Leonardo Magalhães. O presidente da República é obrigado a respeitar a lista no momento de indicar o comandante da DPU, ao contrário do que acontece, por exemplo, na Procuradoria-Geral da República (PGR).

De todo modo, o nome de Macedo não agradou à equipe de Lula, que decidiu impedir uma nova posse dele à frente da DPU. Essa postura do governo faz parte de um processo conduzido pela equipe do presidente para evitar a presença na administração pública de pessoas que tenham trabalhado ao longo do mandato de Bolsonaro. Foi por causa disso, por exemplo, que Carlos Melles renunciou ao cargo de diretor-presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em março.

Macedo tem declarado que, durante a gestão dele como defensor público-geral federal, sempre agiu com ética e de forma transparente, sem privilegiar ninguém. Ele recebeu uma votação expressiva na eleição da lista tríplice, com o apoio de 507 defensores públicos federais.

Exigência de explicações

Diante do vácuo na chefia da DPU, a Anadef enviou ofícios à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais exigindo explicações para a demora do governo em definir quem será o novo defensor público-geral federal, mas ainda não teve respostas. Presidente da associação, Eduardo Kassuga reclama que a postura do Executivo revela um desprestígio à instituição e prejudica uma assistência jurídica gratuita a pessoas em situação de vulnerabilidade.

Além disso, Kassuga diz que a falta de um defensor público-geral federal impede que a DPU amplie a sua presença ao redor do país — hoje, a instituição atua em 28,7% do território nacional —, e atrapalha projetos do órgão em prol da defesa dos direitos de comunidades tradicionais, do atendimento de migrantes e refugiados e do combate à violência contra a mulher e ao trabalho escravo, entre outros. "Quando se deixa acéfala a instituição que tem a missão constitucional de garantir essa situação, acaba que não há verdadeiramente um cumprimento da norma constitucional", acrescenta Eduardo Kassuga.

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Chefe interino

No momento, a DPU é comandada de forma interina por Fernando Mauro Junior. Na avaliação de Kassuga, o órgão precisa de um chefe titular para que os projetos da instituição sejam tocados de forma segura. "O fato é que quem está à frente de forma interina não pode tomar nenhuma decisão que dite o rumo da DPU para os próximos anos. O governo vai ter de decidir entre três nomes. Se o interino toma uma decisão que por ventura não venha a ser compatível com um dos nomes que pode vir a ser indicado defensor-geral, acaba comprometendo recursos humanos e materiais para uma direção que a pessoa indicada pelo governo não iria tomar. Isso é muito sensível. Isso vai impactar na definição da nossa política institucional", frisa o presidente da Anadef.