O “pum” da vaca não é o vilão da destruição da camada ozônio

O “pum” da vaca não é o vilão da destruição da camada ozônio

Especialista explica que a maior parte de emissão de metano entérico se dá pela boca e narinas dos animais. Ou seja, pelo arroto e não pela flatulência

Itamar Pelizzaro

A emissão do metano entérico é um processo natural que ocorre somente para os ruminantes

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O balanço de carbono na evolução da pecuária de leite, corte e grãos está reunindo especialistas e produtores no Seminário RS Carbon Free, com programação nestas terça e quarta-feiras na Expointer, Casa da Indústria de Laticínios, espaço do Sindilat/RS, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Entre os painelistas na manhã desta terça-feira, a engenharia agrônoma e doutora em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) Patrícia Perondi Anchão Oliveira apresentou tecnologias do balanço de carbono para calcular emissões e remoções dos gases de efeito estufa (GEE). Em sua palestra, sugeriu o plantio de árvores para a redução de emissões e tocou em uma mistificação de que o “pum” dos bovinos é o vilão da destruição da camada ozônio. 

“É um desconhecimento, às vezes eu acho que é até induzido,” falou ao Correio do Povo. Ela apresentou uma imagem que circula pela internet em que a flatulência de uma vaca é representada por uma explosão na cauda do animal. “A emissão do metano entérico é um processo natural que ocorre somente para os ruminantes e é uma perda da dieta do animal, de 2% a 8%. A gente trabalha para essa perda ser de 2%. Ela ocorre pela eructação, que seria o arroto. A maior parte do metano entérico, mais 90% a 95%, é emitido pelas narinas e pela boca dos animais, e não pela flatulência”, esclareceu a doutora, da Embrapa  Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP).

Além da questão ambiental, Patrícia ressaltou que leite, queijo e todos os alimentos produzidos pelos ruminantes vieram de uma pastagem que não teriam utilidade para alimentação humana. “Os ruminantes transformaram aquela pastagem em um alimento de excelente qualidade, que, mesmo que tenha alguma emissão de GEE, pelo teor de nutrientes que têm, é extremamente importante. As crianças pequenas, de até dois anos de idade, precisam de proteína para que tenham cognição para o resto da vida. Se tiverem dieta restrita em proteína, elas perdem a capacidade de cognição, de pensamento, e carregam, isso para o resto da vida”, alertou.

Patrícia focou nas remoções, que seria o sequestro de carbono no solo, tendo como base estudos de duas décadas. “Os sistemas de produção bem cuidados, em que a fertilidade do solo é bem cuidada, aplicando todas das técnicas agronômicas conhecidas, são sistemas com baixa  emissão de GEE e, às vezes, até um balanço de carbono positivo que por si só já geraria para o produtor um leite de baixo carbono”, explicou. Como proposta para o produtor, sugere o plantio de árvores para o abatimento das emissões. “Podem ser árvores comerciais, que vão gerar renda ao produtor”, salientou.

Em palestra anterior, o médico veterinário Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, da Embrapa Gado de Leite de Juiz de Fora (MG), mostrou como tem sido quantificada a sustentabilidade nas fazendas leiteiras e apontou estratégias e saídas para chegar ao leite de baixo carbono. “O primeiro caminho é entender que a fazenda está integrada à natureza e um passo vital é respeitar a natureza e mensurar, ter o controle de tudo que entra e sai da fazenda”, afirmou. Conforme Pereira, é possível estimar as emissões e fazer as avaliações de emissão por quilo de produto produzido, a chamada pegada de carbono. “Para reduzir isso, a gente tem estratégias como práticas conservacionistas, fazer uma  agricultura em plantio direto, uso de multiespécies, uso de alimentos específicos, formulação de dieta bem feita, manejo de pastagem reprodutivo e sanitário. Isso tudo vai culminar em maior ganho para o produtor e menor pegada de carbono. Esse é o caminho para o leite de baixo carbono”, disse.

O seminário RS Carbon Free é uma promoção do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat/RS) e do Sebrae/RS, com o apoio das Embrapas Pecuária Sul, Gado de Leite, Pecuária Sudeste, Trigo, Meio Ambiente e Clima Temperado, além da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS (Seapi) e da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS (SEMA).


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