Expointer abre portas em ano desafiador

Expointer abre portas em ano desafiador

Custos altos, estiagem e queda acentuada nas cotações são elementos que marcam o ano de 2023, mesmo assim, as lideranças do setor acreditam no potencial da feira que começa neste sábado

Patrícia Feiten

Público vai conferir a qualidade dos 4.275 animais inscritos

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Principal marco do calendário do agronegócio gaúcho, a Expointer chega à 46ª edição com o prestígio da tradição e um aparato renovado. Diversas obras foram feitas na estrutura do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, que abrigará o evento deste sábado, 26 de agosto, até 3 de setembro. São melhorias em pistas de julgamento e treino, calçamento de ruas, áreas de estacionamento, iluminação e redes de abastecimento de água, além de reformas em pavilhões de bovinos de corte e ovinos. A ordem é tornar memorável a experiência de quem for ao evento para conhecer avanços tecnológicos – de sementes a colheitadeiras –, conferir a qualidade dos 4.275 animais inscritos ou apenas comprar produtos de agroindústrias familiares. Repleta de atrações, a mostra deste ano ocorre em meio a um cenário ainda desafiante para o agro, de acordo com lideranças do setor. 

“Vai ser um evento magnífico como todos os outros. Tenho um pouco de receio sobre o resultado econômico, mas poderemos ser surpreendidos”, diz o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira. A preocupação do dirigente vem da equação formada pelas variáveis desempenho no campo e comercialização da produção. A colheita recorde de grãos em nível nacional em 2022/2023 – 320,1 milhões de toneladas, de acordo com a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – coincidiu com a queda generalizada das commodities agrícolas, um reflexo do desaquecimento da economia mundial e da grande oferta de grãos. Do lado da pecuária, as cotações do boi gordo também estão em declínio em todo o país, afetadas pela retração no consumo de carne bovina, entre outros fatores.

No caso do Rio Grande do Sul, as margens de lucro dos produtores ficaram ainda mais espremidas após os prejuízos causados pela estiagem às lavouras de verão, pelo segundo ano consecutivo. A última safra foi impactada pelo início do conflito no leste europeu, que fez os preços de fertilizantes dispararem. Um levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que o valor das importações de adubos saltou 178% de janeiro a maio de 2022 em comparação com os primeiros cinco meses de 2021. “É uma conjuntura muito negativa. Além de termos colhido mal, tivemos um custo elevado na época do plantio e uma precificação que baixou em todos os produtos”, avalia Pereira.

Na mesma linha, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel Pereira, acredita que esta edição da Expointer receberá produtores mais cautelosos, que estão retomando o caminho da rentabilidade. “A falta de recursos vai (exigir) mais um, dois anos de safras boas para o agricultor voltar à normalidade, então ele vai pensar muito antes de fazer investimentos neste momento. Mas a feira não é só venda. É um local de debate, ele vem buscar informações sobre novas tecnologias, ver como pode aumentar a sua produtividade”, afirma. 

Carlos Joel destaca o protagonismo dos pequenos produtores na mostra gaúcha. Embora mais associada ao tradicional Pavilhão da Agricultura Familiar, que neste ano reunirá 380 expositores, a participação desse segmento do agronegócio no evento não se limita às agroindústrias de alimentos. “A agricultura e a pecuária familiares estão espalhadas no parque. Grande parte dos animais leiteiros é da nossa agricultura familiar, das nossas cooperativas. Ela está (representada) nos pequenos animais, e até no gado de corte temos muito produtor rural investindo em qualidade”, ressalta.

Face mais rentável da Expointer, a indústria de máquinas e implementos agrícolas movimentou R$ 6,6 bilhões em negócios na edição anterior, um crescimento de 159,2% em relação à feira de 2019 – em razão do coronavírus, o evento de 2020 funcionou apenas no formato virtual e o de 2021 teve restrições de público. O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, lembra que, em 2022, os preços em alta das commodities agrícolas foram um importante estímulo para as compras de maquinário. “O setor está um pouco mais retraído, mas nós temos esperança de, no mínimo, chegar ao mesmo valor do ano passado”, diz o empresário. Nesta edição, em torno de 150 fabricantes associados ao Simers participarão da exposição. Bier acredita que o evento marcará a virada de página definitiva da pandemia de Covid-19. “No ano passado, todo mundo estava ainda um pouco desconfiado. Muita gente que não veio virá neste ano”, diz. 

As entidades de pecuaristas também estão entusiasmadas para o evento deste ano, segundo o presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), João Ricardo Wolf. “A Expointer é uma feira de confraternização entre as propriedades, entre as associações e federações, isso traz um grande engajamento para que se ela seja maior ainda”, destaca Wolf. 

Uma das principais iniciativas da Febrac no parque de Esteio, o projeto RS Innovation Agro chega com novidades. O espaço, que reunirá em torno de 70 startups desenvolvedoras de soluções para o agronegócio, foi remodelado para possibilitar uma melhor acomodação das empresas e dos visitantes. O restaurante ganhou mais 15 lugares e agregou um espaço de coworking, e a cafeteria cederá sua área a um podcast de negócios. O hub de tecnologia oferece ainda uma programação de debates e “pitches” de negócios (apresentações breves, com o objetivo de atrair investidores). “Vamos ter mais de 100 palestras, (inclusive) sobre segurança no campo”, adianta Wolf.

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