Diversificação alimentar é chave para participação da soja do Brasil nas importações da China
Na Expodireto Cotrijal, duas especialistas em negócios com o mercado chinês esclarecem que gigante asiático não depende do agro brasileiro, mas que a relação comercial entre os dois países é de complementaridade
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Como o mundo vai alimentar a China? Esta é uma pergunta presente em muitos debates do agronegócio brasileiro que, por vezes, aponta o gigante asiático como "dependente" do Brasil para fornecer comida a sua população, estimada em nada menos que 1,4 bilhão de pessoas. Na Arena Digital da 23ª Expodireto, a análise feita por duas mulheres, especializadas em negócios com o mercado chinês, esclarece que nem tudo o que se escuta a respeito da relação China/Brasil é 100% verdadeiro.
Larissa Wachholz, diretora executiva da Vallya Agro e ex-chefe do Núcleo China do Ministério da Agricultura, afirma que o país tem uma política robusta de autossuficiência, seguida com muita seriedade pelo governo chinês. A nação não depende de nenhum mercado exportador para alimentar de forma básica seus cidadãos. Segundo ela, o que vem acontecendo, desde 2013, no entanto, é que a demanda de consumo chinesa mudou, com o enriquecimento da população e o maior acesso à proteínas animais nobres, como a carne bovina. "O que se observou é que a China começou a importar soja brasileira desde 2013 para alimentar seus rebanhos e dar conta da produção de carnes que participam da diversificação da classe média chinesa", explica.
A empresária garante que não há no planeta maior produtor agrícola que a China, país que semeia nada menos que 40 milhões de hectares de milho por ano. A questão, observa, é que o agricultor chinês não tem mais para onde expandir sua plantação. A China tem apenas 8% do território agricultável do mundo e apenas 5% da água, o que resulta no esgotamento dos solos disponíveis, uso massivo de agrotóxicos e necessidade de irrigação. "Isto, além de ambientalmente pouco recomendável, encarece a produção, tornando mais atrativa a importação de grãos", pondera.
Para a diplomata Letícia Frazão Leme, lotada na Embaixada Brasileira em Pequim, não há uma relação de dependência entre Brasil e China, mas de complementaridade, que deve se manter ainda por bastante tempo tendo em vista as projeções de crescimento do país asiático para os próximos 10 anos. "Hoje, 22% de todos os produtos do agronegócio importados dos mercados do mundo saem do Brasil, que ultrapassou os Estados Unidos, responsável por 17,9% das importações chinesas de produtos do agro", complementa.