Uso de drones cresce como advento tecnológico

Uso de drones cresce como advento tecnológico

Equipamentos voltados à pulverização estavam entre as inovações presentes na Arena Digital da Expodireto

Taís Teixeira

Demonstrações do uso dos aparelhos estiveram entre os atrativos da feira

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O uso de drones como alternativa tecnológica para otimizar os resultados das lavouras se consolida cada vez mais como parte do processo de automatização da agricultura brasileira. Na Arena Digital, centro de inovação e tecnologia que reuniu 26 empresas na Expodireto Cotrijal, os drones de pulverização estavam entre as propostas apresentadas para agregar resultados por meio de uma aplicação precisa de produtos nas plantas, evitando o desperdício e fazendo uma entrega mais eficiente. Apesar dos benefícios, o uso desses equipamentos ainda enfrenta alguns obstáculos, como a falta de mão de obra qualificada para operá-los e o preço, que pode ser alto para alguns produtores.

Para o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, a relação entre caro e barato é relativa, já que uma colheitadeira, por exemplo, é muito mais cara que um drone. Ele aconselha que, ao considerar o valor de um drone, deve-se priorizar a qualidade da pulverização. “Quanto custa eu não acompanhar a irrigação de uma lavoura de arroz e ver se a água está sendo distribuída uniformemente, situação que eu consigo ver com precisão pelo drone?”, indaga, acrescentando que a pulverização economiza no custo de produção e que o preço do equipamento deve diminuir com sua popularização. “Eu não vejo tecnologia como gasto, e sim, como uma oportunidade para ser avaliada individualmente.”

O assessor da presidência da Farsul, Marcelo Camardelli, afirma que a entidade vem acompanhando o crescimento dos drones no mercado, entendendo que é uma tecnologia importante para o setor, que vai agregar na qualidade da aplicação de produtos. “Essa inovação dos drones vai trazer ganhos em eficiência, nos aspectos ambientais e em redução de custos”, afirma. 

O técnico em Formação Profissional Rural Henrique Padilha, do Senar-RS, diz que o drone possibilita muitos serviços, como a pulverização agrícola com uso de químicos e também a aplicação de biológicos, nas etapas de semeadura em áreas de pastagens, e de inseticidas para formigas na silvicultura, por exemplo. “Esses são apenas alguns exemplos do uso do drone, no controle de doenças e pragas, sem falar do uso para imagem aérea, delimitação da área e controle da irrigação no arroz”, comenta. 

Padilha acrescenta que o início da incidência de uma doença na lavoura pode ser tratado in loco. É o caso, por exemplo, de focos de fungos. Conforme o técnico, não fazer aplicação em dias de muito vento, muito calor ou umidade relativa muito baixa são boas práticas. Para os produtores com receio de aderir à tecnologia, ele recomenda os cursos ministrados pelo Senar. O engenheiro destaca que o drone atende lavouras de soja, milho e também espécies frutíferas localizadas em morros de difícil acesso ao trator, espaços onde “o drone vai muito bem”, além da pecuária.

A mão de obra qualificada, contudo, é escassa. “O mercado ainda é muito recente, com as empresas começando a atuar e, consequentemente, há poucos profissionais capacitados, o que favorece a terceirização desse serviço”, assinala. Padilha avalia que a tecnologia já faz parte do futuro, apesar de ainda ter limitações de tempos de voo, já que funciona a bateria e tem que voltar à base para recarregar. Ele diz que um drone mais simples está entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, mas se limita mais à captura de imagem. 

Justamente para resolver os aspectos abordados por Padilha, a empresa Xmobots, de São Carlos, em São Paulo, participou pela primeira vez da Expodireto, onde apresentou um drone com sistema híbrido de deslocamento, que reúne as funções de mapeamento e pulverização. É o Dractor 25A, modelo produzido e fabricado pela empresa. O engenheiro agrônomo e consultor de negócios João Paulo Pedroso explica que é o único drone híbrido na categoria de 25 quilos na decolagem que funciona a bateria ou com motor de combustão. 

O aparelho consome, na versão de mapeamento, 12 litros de combustível em quatro horas, e na versão de pulverização, 12,5 litros em uma hora. O mapeamento aéreo de georreferenciamento permite fazer um levantamento topográfico, monitoramento, desmatamento, fiscalização ambiental e, inclusive, mapear a lavoura do agricultor, possível somente pela visão aérea, capacidade que ajuda na melhor execução da outra tarefa, que é a pulverização. 

Pedroso faz questão de salientar que o drone não vem para substituir outras formas de aplicação, como a aviação agrícola e a manual, mas afirma que “ele vai muito bem onde os outros vão mal”, explicando que é mais eficiente em determinadas condições topográficas, sendo um serviço mais útil e flexível, possibilitando a entrega de um resultado melhor e com menos mão de obra. “Em pequenas e médias propriedades, áreas de difícil acesso, áreas com solos muito argilosos, regiões onde não se pode voar pela proximidade com outras cidades ou presença de postes e edificações”, exemplifica.

O consultor ainda ressalta que as lavouras costumam ter, em média, de 5% a 7% de perda por amassamento por hectare em pulverização por trator autopropelido, o que não acontece quando se escolhe essa aplicação aérea. “O drone não compacta o solo e nem amassa cultura, o que evita a perda de três a quatro sacas de soja por hectare, por exemplo, uma economia média de R$ 800”. Pedroso acrescenta que há menor consumo de combustível. “Em média, em uma lavoura de soja, custa de R$ 300 a R$ 400 por aplicação e, com o drone, se economiza em torno de R$ 200”, compara. O Dractor 25A faz cinco hectares por hora e custa R$ 250 mil. Desde o começo do ano até o momento, 40 unidades já foram vendidas. Até terça-feira, na Expodireto, já tinham sido negociados três contratos. 

A empresa também trouxe outro modelo, o XP20, de uma fabricante chinesa, focado na pulverização, sem mapeamento, e que funciona apenas a bateria. “É mais apropriado para grandes áreas, têm os mesmos benefícios que o outro, dentro das suas características, e custa em torno de R$ 220 mil”, informa. 

Com a escassez de mão de obra qualificada e de cursos para esse serviço, Pedroso explica que no preço de venda está incluído o treinamento do cliente para que obtenha melhores resultados. Além disso, esse fator não pode se tornar um obstáculo para fechar negócios. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895